Macacos Quiméricos: Para Que Servem?

Pela 1ª vez, cientistas misturam embriões para criar primata. Os filhotes nasceram após os cientistas terem reunido células de embriões de diferentes macacos-rhesus e aplicado a mistura em fêmeas

Cientistas produziram os primeiros primatas quiméricos do mundo. Os animais são compostos de uma mistura de células de seis genomas diferentes. A reprodução foi obtida por cientistas de instituições de pesquisa no Oregon, Estados Unidos, e descrita em 05 de janeiro de 2012 em um artigo no site da revista Cell – sairá como capa na edição de 20 de janeiro da publicação.
Em zoologia, quimerismo ocorre quanto um animal tem duas ou mais populações de células geneticamente distintas com origem em diferentes zigotos. É extremamente raro em humanos. O termo deriva da mitologia grega, na qual quimera é uma figura mítica caracterizada por uma aparência híbrida de dois ou mais animais.
Segundo os autores, os resultados do estudo abrem caminho para muitas novas pesquisas com animais. Até então, apenas camundongos e alguns outros quiméricos, como coelhos e ovelhas, haviam sido reproduzidos.
Os primatas quiméricos nasceram após os cientistas terem reunido células de embriões de diferentes macacos-rhesus e aplicado a mistura em fêmeas. As células foram misturadas em embriões em estágio inicial, quando cada célula embriônica é totipotente.
Totipotência é a capacidade de uma única célula, geralmente uma célula-tronco, dividir-se e produzir todas as células diferenciadas no organismo, incluindo os tecidos extraembrionários. As células pluripotentes podem se diferenciar em qualquer tecido, mas não em tecidos extraembrionários nem em organismos inteiros.
“As células não se fundem, mas se mantêm juntas e funcionam conjuntamente de modo a formar tecidos e órgãos. Os resultados abrem possibilidades científicas enormes”, disse Shoukhrat Mitalipov, do Centro de Pesquisa em Primatas da Oregon Health & Science University, que coordenou a pesquisa.
Tentativas anteriores do grupo de Mitalipov de obter macacos quiméricos por meio da introdução de células-tronco embrionárias cultivadas em embriões – um método estabelecido em camundongos – falharam.
Segundo Mitalipov, aparentemente os embriões dos primatas evitam que as células-tronco embrionárias se integrem, como ocorre em camundongos. De acordo com o cientista, a pesquisa indica que células-tronco humanas e de outros primatas mantidas in vitro podem não ser tão potentes como as encontradas em um embrião vivo.
“Precisamos voltar aos fundamentos. Temos que estudar não apenas células-tronco embrionárias em cultura, mas também em embriões. Ainda é muito cedo para fechar o capítulo nessas células”, disse.
Por um lado, os 3 macaquinhos, batizados de Roku, Hex e Chimero, trazidos ao mundo por cientistas da Universidade de Ciência e Saúde do Oregon (EUA), são um triunfo da biotecnologia. Derivam da fusão de seis embriões diferentes --nunca um primata tinha sido criado por esse princípio. Por outro lado, os filhotes são prova dos muitos limites que os cientistas ainda enfrentam nesse campo. Misturar seis embriões foi uma espécie de apelação, porque as técnicas mais comuns --e mais úteis-- para produzir mamíferos "misturados" não davam certo. 
"O trabalho, no fundo, relata um resultado negativo", disse à Folha.com a geneticista Lygia da Veiga Pereira, da USP, que não esteve envolvida no estudo, a ser publicado neste mês na revista "Cell". 
O truque usual para criá-los é alterar geneticamente células-tronco embrionárias, capazes de se transformar em qualquer tecido do organismo, mexendo em genes ligados à doença de interesse. 
Essas células, então, são injetadas num embrião. O animal --em geral, um roedor-- que nasce da mistura terá as descendentes das células alteradas espalhadas por todo o seu corpo, simulando a doença. E macacos desse tipo seriam o simulador ideal de um problema de saúde humano, por seu parentesco com o homem. Contudo, no estudo do Oregon, liderado por  Mitalipov, esse truque falhou. Os cientistas tiveram de usar embriões inteiros de quatro células para produzir seus macacos-resos quiméricos. 
"Não seria prático tentar produzir primatas para servir de modelos de doenças dessa maneira. No método tradicional, usamos uma enorme quantidade de células-tronco, porque nem sempre a modificação genética desejada dá certo", afirma Pereira. 
No método da pesquisa da "Cell", seria preciso produzir uma quantidade muito grande de embriões para ter algum resultado, portanto --coisa difícil com o ciclo reprodutivo lento dos primatas. 
Mas o estudo é importante por mostrar que nem sempre o que se sabe sobre células-tronco com base em roedores vale para primatas como macacos e seres humanos.
Fonte: Agência Fapesp e Folha.com

Comentários

  1. A Ciência avança lentamente por séculos, mas agora tomou um dimensionamento impressionante e assustador. Muitos questionam se o homem possui autorização para enveredar-se por pesquisas tão profundas. Já estamos vislumbrando a capacidade humana de criar seres fantásticos e sobrenaturais como Equidna e Tifon. A mitologia grega já o predisse há milênios...

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