Guerra Biológica Contra os Índios?

O terrorismo bacteriológico, que aterroriza o mundo ocidental desde que começaram a aparecer correspondências infectadas com antraz no Estados Unidos, não é uma novidade na história do Brasil. Embora não tenham sido cientificamente comprovados, são muitos os relatos de contaminação deliberada de populações indígenas brasileiras pelo menos até os anos 60. 

Não é de hoje que muitos historiadores, antropólogos e epidemiologistas pedem que investiguem mais profundamente os relatos de uso de armas biológicas contra os nossos indígenas em vários episódios da História do Brasil. Citada em várias publicações, a contaminação deliberada de populações indígenas brasileiras foi muito utilizada pelo menos até os anos 60.
Embora não tenham sido cientificamente comprovados, são muitos os relatos de contaminação deliberada de populações indígenas brasileiras. “Esse é um assunto que merece ser melhor pesquisado, tanto nas fontes históricas, como na memória oral de índios ainda vivos”, avalia o antropólogo Carlos Alberto Ricardo, do Instituto Socioambiental (ISA), entidade que vem reunindo há muito tempo informações já publicadas sobre esses casos.
Segundo o levantamento, a primeira utilização de guerra bacteriológica conhecida no Brasil aconteceu em Caxias, no Maranhão, em 1815, e foi citada pelo antropólogo Mércio Pereira Gomes, em seu livro Os índios e o Brasil (Editora Vozes, 1988). Na época, índios Canelas Finas estiveram naquela localidade durante um epidemia de varíola. “As autoridades lhes distribuíram brindes e roupas previamente contaminadas por doentes. Os índios pegaram a doença e, dando-se conta do caráter do contágio, fugiram para os matos. Os sobreviventes contaminaram outros mais e, meses depois, essa epidemia alcançava os índios já em Goiás”. 
No mesmo livro, Gomes diz que, no fim do século XIX, os “bugreiros de Santa Catarina e Paraná, financiados por companhias de imigração, deixavam em pontos determinados de troca de presentes com índios (xoklengues e caingangues), cobertores infectados com sarampo e varíola”.
Embora tenha sido dado como desaparecido tempos depois de sua divulgação, informações do relatório são citadas por vários autores, como o antropólogo norte-americano Shelton Davis, no livro Vítimas do Milagre - O desenvolvimento e os índios no Brasil (Zahar Editores, 1978). Nele, o autor afirma que “continham provas que confirmavam as denúncias de que agentes do extinto SIP (Serviço de Proteção aos Índios) e latifundiários haviam usado armas biológicas e convencionais para exterminar tribos indígenas. Indicavam a introdução deliberada de varíola, gripe, tuberculose e sarampo entre tribos da região do Mato Grosso, entre 1957 e 1963. Além disso, os arquivos do Ministério do Interior sugeriam ter havido a introdução consciente de tuberculose entre as tribos do norte da Bacia Amazônica entre 1964 e 1965”.
Mas o caso mais impressionante, entre os levantados pelo ISA, é o relato do naturalista inglês Alfred Russel Wallace, no livro Viagens pelos rios Amazonas e Negro (Edusp/Editora Itatiaia, 1979), publicado pela primeira vez em 1853, sobre o encontro com um padre quando se dirigia ao povoado de Pedreira, no rio Negro: “...passamos a falar da epidemia de varíola que então assolava o Pará. Aproveitando o ensejo, ele relatou-me um caso ocorrido consigo próprio e relacionado com o assunto, parecendo bastante orgulhoso de ter sabido utilizar-se ‘diplomaticamente’ dessa terrível doença. E prosseguiu dizendo que aconselhara o presidente da Bolívia a combater algumas tribos de índios belicosas, instaladas no caminho de Santa Cruz, utilizando-se de uma epidemia de varíola que assolava a cidade. Em vez de queimar as roupas dos doentes que morriam para evitar a disseminação da moléstia, o frei José (era esse seu nome) sugeriu colocá-las em locais que os índios pudessem pegá-las. E prosseguiu: o presidente seguiu meu conselho e foi dito e feito. Em poucos meses, ninguém mais ouviu falar das atrocidades dos índios. Quatro ou cinco tribos foram inteiramente dizimadas! A bexiga faz o diabo entre os índios!”
Segundo o antropólogo do ISA, a organização está recebendo novas informações sobre ataques bacteriológicos contra índios no Brasil através de seu site (www.socioambiental.org). “Vamos analisar a consistência das informações que nos chegarem e verificar que serventia elas podem ter daqui para frente para a questão dos direitos indígenas”, diz.
Fonte: Jornal " O Estado de São Paulo" via Comunidade Viajantes Naturalistas

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