Golfinhos do RJ: Um Símbolo Ameaçado

Presente no brasão da cidade do Rio, tal a quantidade que havia, o boto --chamado de golfinho pelos leigos-- tende a desaparecer da baía de Guanabara antes da metade do século. De uma população de alguns milhares há até 50 anos, só restaram 40, aponta monitoramento inédito do Laboratório Maqua (Mamíferos Aquáticos) da Faculdade de Oceanografia da Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro).
O laboratório também  investiga o caminho dos poluentes na cadeia alimentar dos animais das três baías do Estado - Guanabara, Sepetiba e Ilha Grande, além de capacitar profissionais de alto padrão em monitoramento ambiental.
O laboratório é o único da região Sudeste onde se tem a possibilidade de receber o corpo de um mamífero e fazer as análises que darão todo o perfil do animal estudado.
Criado em 1992 por estudantes de oceanografia, o projeto Maqua já recolheu e estudou mais de 300 botos-cinza da Baía de Guanabara.
Um mal silencioso ameaça os golfinhos da Baía de Guanabara. Resíduos de tintas, eletrônicos, pesticidas e compostos industriais - acumulados há anos nessas águas - são predadores lentos, mas implacáveis. Estudos recentes do Laboratório MAQUA, em parceria com o Instituto de Biofísica da UFRJ, mostram que os apenas 50 botos-cinza que sobrevivem atualmente na baía podem estar com a saúde seriamente comprometida. E as conseqüências disso deverão ser vistas nos próximos anos.
De acordo com o coordenador do Laboratório da Uerj, o doutor em Biofísica José Lailson Brito Jr, estes resíduos prejudicam o sistema imunológico, hormonal e diminuem a capacidade de reprodução, além de causarem anomalias ósseas. Análises do tecido adiposo dos botos da Baía de Guanabara encontraram altas concentrações dos pesticidas DDT e HCB e do composto industrial PCB, conhecido como ascarel.
- O ascarel (óleo usado como isolante em geradores e capacitores) e o pesticida DDT (responsável pela revolução verde na agricultura) foram proibidos, há muitos anos, mas continuam presentes no ambiente. Altas concentrações deles foram encontradas em golfinhos da Baía de Guanabara, como se verifica também em áreas extremamente industrializadas do hemisfério norte, como Mar do Norte e o Mar do Japão - disse Lailson.
Os golfinhos não vão morrer de repente, não haverá uma mortandade repentina. Estes resíduos dificultam que a reprodução deles aconteça de maneira normal
Outra novíssima pesquisa realizada pelo MAQUA mostra que compostos bromados (usados como retardantes de chama e existentes em peças de computador, sistemas eletrônicos e em estofamentos); compostos de estanho (usados em antigas tintas para embarcação, já proibidas) e compostos perfluorados (existentes no teflon) foram também encontrados em grandes concentrações no tecido adiposo dos botos-cinzas da Baía de Guanabara. Estes resíduos também alteram o sistema imunológico e hormonal desses animais.
- Os golfinhos não vão morrer de repente, não haverá uma mortandade repentina. Estes resíduos dificultam que a reprodução deles aconteça de maneira normal - disse Lailson.
Fato que sucinta grande preocupação, já que os botos que vivem em média 30 anos e estão com saúde debilitada, podem ter sérias dificuldades de deixar descendentes.
Os últimos levantamentos de população de botos na Baía de Guanabara, feito pelo grupo MAQUA, mostram uma tendência de queda. Em 2005, havia 50 golfinhos; em 2003, 55 botos e, em 99, 70 botos. Antes da atuação do grupo MAQUA na Baía de Guanabara, não existiam dados confiáveis. Mas seguindo os relatos de pessoas mais idosas e comparando com baías semelhantes, existiam no mínimo 500 golfinhos na Baía de Guanabara nas primeiras décadas do século XX. Além dos resíduos contaminantes, estes animais vêm sofrendo com a degradação ambiental, diminuição dos alimentos, operações portuárias e com a perda do espelho d´água.
Morador da Ilha de Paquetá, há 50 anos, Francisco Viana, 74 anos, que também já trabalhou como pescador, sente saudades do belo espetáculo que os golfinhos proporcionavam na Baía de Guanabara.
- Eles pulavam da água para comer tainhas. Há 40 anos, era muito comum ver grupos de até 50 golfinhos, acompanhado uma embarcação. Hoje está cada vez mais raro ver um golfinho saltar da água - lembrou.
O professor Lailson defende o Programa de Despoluição da Baía de Guanabara (PDBG), que já consumiu R$1,6 bilhões.
- É fundamental despoluir a baía, mas certos resíduos que vêm dos rios desta área muito industrializada, têm o controle muito difícil, porque pouco se sabe sobre as conseqüências deles nos organismos. Alguns podem ser proibidos no futuro, mas agora estão sendo despejados no mar.
Lailson se preocupa também com as outras baías da região sudeste. O boto-cinza é a espécie de golfinho que habita as baias e, por isso, sofre mais as conseqüências da industrialização e da ocupação desordenada das cidades.
O crescimento econômico do Brasil pode se transformar em ameaça às baias e aos golfinho que nelas vivem. Nos golfinhos da Baía de Sepetiba, já se verifica uma concentração de resíduos preocupante e até nos da Ilha Grande, em menor grau, também se vê concentração.

Fontes: Folha On Line e Portais G1 e R7

Comentários

  1. Golfinhos sim! Nao sao Golfinhos Tucuxi marinhos? Teriam mais sorte se fossem chamados de golfinhos para que o povo os vissem como golfinhos que sao. "Boto" nao tem a mesma forca e carisma que "Golfinho".

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