O Potencial Biotecnológico das Algas

Bastante usadas nas indústrias de alimentos e cosméticos, as macroalgas marinhas têm também um grande potencial biotecnológico. Novos estudos brasileiros mostram que compostos produzidos por elas têm ação antioxidante, fotoprotetora e até antitumoral. Alga do gênero Gracilaria (foto) é um exemplo


Elas estão em pudins, loções, pastas de dente e até na cerveja. São inúmeras as aplicações industriais de substâncias extraídas das macroalgas marinhas (algas pluricelulares visíveis a olho nu). Mas seu aproveitamento pode ser ainda mais intensivo: pesquisas recentes têm mostrado que compostos produzidos por esses organismos têm um incrível potencial biotecnológico.
Eficácia contra o câncer, trombose, bactérias e vírus patogênicos, a ação do Sol e o envelhecimento são apenas algumas das propriedades de interesse industrial demonstradas recentemente por estudos brasileiros.
Das cerca de 32 mil espécies de macroalgas marinhas pertencentes aos três grupos principais (verdes, vermelhas e pardas), apenas cem são exploradas comercialmente. Ainda assim, a aquicultura de algas é o terceiro maior recurso aquático do mundo.
“No Brasil, essa exploração ainda é incipiente”, comentou a oceanógrafa Yocie Yoneshigue Valentin, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e presidente da Redealgas, em mesa redonda da reunião anual da SBPC. “Não se conhece muito sobre o potencial biotecnológico das macroalgas.”

Para a pele

Também presente na mesa redonda, a bióloga Nair Sumie Yokoia, pesquisadora do Instituto de Botânica do Estado de São Paulo, apontou o potencial antioxidante e fotoprotetor de duas substâncias encontradas em várias espécies de macroalgas marinhas: os carotenoides – pigmentos orgânicos – e as micosporinas – um tipo de aminoácido.
Segundo Yokoia, os carotenoides de algumas espécies de algas – como a G. birdiae e a H. Spinella – têm ação antioxidante e também fotoprotetora.
Já as micosporinas, presentes principalmente em algas de regiões tropicais, absorvem raios ultravioleta. “Podemos fazer filtros solares e antioxidantes naturais com essas substâncias”, vislumbra Yokoia.
A bióloga também aponta a ação das algas marinhas como fertilizantes agrícolas. As auxinas e as citocininas, substâncias extraídas de algas como a Hypnea musciformis ou a Ecklonia maxima, estimulam o desenvolvimento das raízes das plantas, resultando em um aumento da produção agrícola. “O uso de algumas substâncias extraídas das algas pode evitar a utilização de agrotóxicos ou de fertilizantes químicos”, conta.

Câncer e trombose

Há também aplicações promissoras para a saúde humana. O bioquímico Hugo Alexandre Rocha, pesquisador da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), conduz um estudo inovador sobre a ação dos polissacarídeos sulfatados de algas marinhas na destruição de células cancerosas e também no tratamento de trombose.
Rocha estudou a ação das fucanas – polissacarídeos sulfatados encontrados principalmente em algas pardas – na inibição do crescimento de céulas tumorais de próstata.
“Quanto maior a concentração de fucanas, maior a inibição de céulas tumorais”, explica ele. “Percebemos que essa substância induz a morte celular das células cancerosas.”
Outro foco da pesquisa de Rocha foi analisar o efeito das fucanas de algas marinhas contra a trombose. “Mostramos que um tipo de fucana apresenta ação antitrombótica em até oito horas depois de aplicada”, conta o biólogo.
As pesquisas de Rocha e de Yokoia estão sintonizadas com outros estudos recentes, como o do gel desenvolvido pelo Instituto Oswaldo Cruz (IOC), em parceria com a Universidade Federal Fluminense (UFF) e com a Fundação Ataulpho de Paiva.
O produto, composto por uma substância microbicida da alga Dictyota pfaffii, teria potencial de impedir a transmissão do vírus HIV.
Mas falta um elo importante para que o potencial de todas essas substâncias seja aproveitado em grande escala e chegue ao consumidor: o interesse da indústria.
Valentin, Yokoia e Rocha acreditam que os investimentos virão assim que as pesquisas se mostrarem de fato promissoras. “Três empresas já entraram em contato comigo para falar sobre meus resultados”, exemplifica Rocha, sem entrar em mais detalhes.

Por Isabela Fraga  (Ciência Hoje / RJ) em 28/07/2010


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