Pouco Sono, Pouco Sexo

Dormir pouco tem efeitos negativos sobre a sexualidade de humanos e roedores. Enquanto ratos reagem com perda de interesse sexual e impotência, fêmeas alternam entre maior receptividade, no período fértil, e rejeição agressiva, na ‘TPM’.

Nos dias de hoje, é cada vez mais comum que nós ocupemos nosso tempo com diversas atividades. Mas o dia só tem 24 horas, e quem paga a conta do tempo limitado que temos é o sono.
Só que dormir pouco tem efeitos adversos sobre a sexualidade – tanto de roedores quanto de humanos. Foi isso que o Grupo de Sono da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) mostrou na 25ª Reunião Anual da Federação das Sociedades de Biologia Experimental (Fesbe).
Ratos que foram privados de sono cronicamente apresentaram perda de desejo sexual e disfunção erétil, tornando-se incapazes de penetrar as fêmeas.
“Quando a restrição era pontual, apenas de uma noite, víamos um aumento da libido, mas eles ainda tinham prejuízo de desempenho sexual”, conta a biomédica Monica Levy Andersen, coordenadora do estudo.
Ela cita um estudo epidemiológico realizado em 2007 para fazer uma correlação com humanos. “O estudo revelou que 32,9% da população da cidade de São Paulo têm apneia (suspensão momentânea da respiração) enquanto dorme, o que pode interromper o sono em até 80 vezes por hora. Esse distúrbio aumenta em até três vezes a chance de disfunção erétil. Os dados revelaram que 17% dos paulistanos têm problemas de ereção”, relata Andersen.

A vez das fêmeas
Já nas ratas, a falta de sono intensifica a fase do ciclo estral (menstrual). Quando elas saíam de um período de privação de sono de quatro dias na fase fértil, ficavam ainda mais receptivas ao macho, demonstrando isso em sinais como o abanar das orelhas e o galope.
Na fase equivalente à TPM, as ratas ficavam extremamente agressivas com o rato, chegando a boxear e arquear o corpo para impedir a penetração “Fazer uma correlação com mulheres é difícil por uma série de fatores, como a abundância de hormônios. Mas medimos essas substâncias nas ratas e descobrimos que, na fase fértil, elas têm níveis muito baixos de progesterona, e na de rejeição, muito altos”, informa a biomédica, acrescentando que a progesterona deixa a rata sonolenta e ‘antimacho’.
Esse hormônio é um dos que regula a gravidez. Assim, alterações na sua quantidade podem ter efeito sobre a capacidade reprodutiva das mulheres. “Esse é um dado importante, já que hoje em dia muitas mulheres estão postergando o momento de ter filhos e também sofrem de privação do sono. Imagine o caso de uma comissária de bordo que faz três voos Rio-Tóquio por semana”, observa Andersen.
Para testar isso, o grupo da biomédica está iniciando um estudo no qual ratas dormem apenas seis horas por dia (o ciclo normal é de 12 horas) durante 21 dias. “Queremos ver se há alterações na gestação, diferenças nos recém-nascidos. Os resultados preliminares parecem indicar que os filhotes nascem com menos peso”, revela a biomédica.
Andersen completa dizendo que há vários outros efeitos da privação de sono sobre o corpo, que vão de sintomas como fadiga e perda de atenção até diminuição da resposta imune e alterações cardiovasculares.
“Os norte-americanos costumam dizer que vivemos em uma sociedade 24/7 – 24 horas por dia, sete dias por semana. Sempre sacrificamos nosso sono em vez de outra atividade, e isso pode causar sérios problemas”, alerta a biomédica.

Fred Furtado para  a Revista Ciência Hoje-on Line/ RJ

* Assista ao vídeo que mostra como as fêmeas se comportam com o macho quando ficam privadas de sono por 4 dias, clicando aqui

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