O Custo Elevado das Pesquisas Contra o Câncer

Os tratamentos contra o câncer estão ficando mais dirigidos, mais eficientes, oferecendo melhor sobrevida e qualidade de vida, mas, ao mesmo tempo, estão cada vez mais caros

Mais de 25 mil oncologistas participaram do maior evento científico do planeta para discutir o câncer. Para quem espera o anúncio da cura imediata de todos os pacientes com tumores malignos, ainda não foi desta vez. Mas, ninguém foi a Chicago para a Reunião Anual da Sociedade Americana de Oncologia Clínica com essa ilusão. Apesar de pequenos, passos importantes foram dados na árdua luta contra o câncer.
Hoje em dia, os especialistas ficam satisfeitos com ganhos de sobrevida e de qualidade de vida, relativamente pequenos. Dois meses a mais de sobrevida aqui, 6% a menos de complicações sérias ali. Nesse evento, além de serem consolidados os padrões considerados adequados de tratamento dos variados tipos de tumores malignos, avanços notáveis foram apresentados. Destacarei aqui alguns dos progressos.
Pesquisas realizadas sobre câncer de pulmão demonstraram a possibilidade de um medicamento ainda experimental (crizotinib) ajudar pacientes com um perfil genético peculiar presente em suas células tumorais. É verdade que essas alterações genéticas são detectadas em menos de 5% de todos os portadores de tumores malignos dessa natureza, mas quem tiver a “sorte” de exibir essas variações genéticas, o impacto do crizotinib pode ser fenomenal. No estudo apresentado, os pesquisadores observaram respostas tumorais expressivas em 90% desses pacientes.
Mais da metade teve redução do tamanho dos tumores nos primeiros dois meses de tratamento. Resultados encorajadores, apesar de serem aplicáveis a um grupo selecionado de pacientes com câncer de pulmão disseminado pelo corpo.
Resultados interessantes também foram contra um dos tumores mais temidos pela comunidade oncológica, o melanoma. Câncer de pele agressivo, de difícil controle quando se espalha pelo corpo. Um estudo clínico trouxe esperanças para os pacientes com melanoma metastático. Até esse evento de Chicago, raramente se conseguiu tratar com eficiência esse tumor maligno. Pesquisadores apresentaram um tratamento novo com efeitos benéficos reais: o uso de um anticorpo chamado de ipilimumab (difícil de pronunciar até para os oncologistas experientes).
É um anticorpo que, quando administrado na veia, não tem como alvo diretamente as células cancerosas. Seu mecanismo de ação é estimular as células de defesa do corpo do paciente, chamadas de linfócitos T, que têm um papel primordial na identificação, localização e destruição dos tumores espalhados pelo corpo do doente.
Os cientistas administraram esse tratamento experimental a 676 pacientes com melanoma avançado. Notaram que um número significativamente maior de doentes no grupo que recebeu ipilimumab permaneceu vivo e por tempo mais longo, comparativamente ao grupo de pacientes que não foi sorteado para receber o anticorpo. Os resultados promissores foram discutidos com entusiasmo. É verdade que não será a cura de todos os doentes com melanoma, mas um passo importante para o controle mais eficaz dessa doença terrível.
Retornei dessa reunião em Chicago com esperanças e preocupações. Esperanças pelos avanços claros, apesar de limitados. Preocupação com a aplicabilidade reduzida dos novos tratamentos. Grupos selecionados de pacientes terão benefício efetivo. Selecionados pela genética, mas também pelo poder aquisitivo. Os tratamentos contra o câncer estão ficando mais dirigidos, mais eficientes, oferecendo melhor sobrevida e qualidade de vida, mas, ao mesmo tempo, estão cada vez mais caros. Milhares de dólares ao mês por paciente.
Como será fechada a conta? Eis um problema talvez tão complexo quanto a identificação de uma terapia revolucionária.

Por Riad Younes para a Revista Carta Capital sob o título de "Genetica com Dólares" em 21/07/2010

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