O Retorno do Mosquito da Dengue

O Brasil está diante de um novo surto de dengue. O mosquito transmissor, Aedes aegypti (foto)possui características biológicas que dificultam o seu controle, além de ter desenvolvido resistências ao longo dos anos

Sem dúvida, a dengue é presentemente um grave problema de saúde em nosso país. O Brasil já sofreu com a infestação pelo Aedes aegypti em um passado relativamente distante, mas na década de 1950 foi possível eliminá-lo. A infestação que hoje vivemos teve início na década de 1980, quando o mosquito retornou, vindo provavelmente de países vizinhos, e disseminou-se , ajudado pelas características climáticas  de nosso país tropical. Hoje, sob condições diferentes daquelas de 1950, pode-se considerar que a eliminação total do Aedes é impossivel, mas dá para manter a doença sobre controle.
Entre a década de 1950 e  a época atual ocorreram muitas mudanças que interferem diretamente na dificuldade no combate ao Aedes.  Algumas delas: o aumento das populações  e sua distribuição, muitas vezes em regiões de difícil acesso e sem as condições básicas de saneamento; o desenvolvimento dos transportes, que, juntamente com a a globalização, favorece o comércio e a locomoção de objetos (tais como pneus) contendo ovos e larvas do mosquito; o desenvolvimento da indústria de embalagens, especialmente plásticos, que gera uma enorme quantidade de lixo e, especificamente, em nosso país, a falta de preocupação de grande parte da população com a preservação do meio ambiente. Acrescenta-se ainda o hábito de as pessoas acumularem, nos quintais, restos sem serventia de utensílios domésticos.

Características do Aedes

O Aedes é um mosquito antropofílico, isto é, vive ao redor do homem, na zona rural e nas cidades, onde ele tem o que mais ele necessita: sangue para as fêmeas e água parada para o desenvolvimento de seus ovos. Todo objeto que possa acumular água da chuva, da rega dos jardins ou de outra fonte pode servir de criadouro para o mosquito; nesses locais bota os seus ovos que se desenvolvem passando pelas fases de larva e pupa ainda dentro da água, emergindo da última como adulto.
A espantosa versatilidade de criadouros faz com que, praticamente, cada residência tenha situações específicas que variam não só pelas escolhas pessoais (vasos, piscinas, animais de estimação, etc), mas também pela características da região ( por exemplo, em locais sem água encanada, reserva-se água em potes). Além dos criadouros normalmente veiculados pela mídia, há muitas outras possibilidades. Já foram encontradas larvas e pupas no interior das casas  em lugares inesperados como na água de ferros de passar roupas de passar roupa a vapor e nas canaletas do box nos banheiros. Portanto o cuidado com os criadouros de dentro e  ao redor das casas e mesmo do local de trabalho é tarefa intransferível de seus ocupantes. Eliminar, se for possível, ou tratar e manter contínua vigilância sobre os criadouros é o ponto central do controle do Aedes aegypti.
Características biológicas do A.aegypti acrescentam dificuldade ao seu controle. Eles são altamente prolíficos (uma fêmea pode cerca de 300 ovos), uma pequena quantidade de água parada pode servir de criadouro e seus ovos são dotados da capacidade de sobreviver à seca por até aproximadamente um ano, podendo desenvolver-se após esse tempo se o recipiente se encher de água novamente.
O mosquito também se modificou ao longo do tempo, podendo ocorrer hoje em águas sujas ou limpas. Além disso, tem desenvolvido resistência aos inseticidas usados pelas autoridades sanitárias para combatê-los.

Os novos casos da doença

Os casos de dengue praticamente dobraram de janeiro a outubro deste ano em comparação com o mesmo período de 2009, de acordo com dados divulgados em 11/11/2010 pelo Ministério da Saúde. De janeiro até 16 outubro foram registrados 936.260 casos no país, contra 489.819 no ano passado. No mesmo período, a doença levou à morte 592 pessoas. Em 2009, foram 312 casos fatais.
Para o coordenador do Programa Nacional de Controle de Dengue do ministério, Giovanini Coelho, uma das causas para o aumento do número de casos foi o ressurgimento do vírus tipo 1, que predominava na década de 1990. Por causa do período que esse vírus deixou de circular no país, grande parte da população não desenvolveu imunidade. Isso afetou, principalmente, regiões populosas dos estados de São Paulo e Minas Gerais.
Nas Regiões Norte e Nordeste, porém, o número de casos é pequeno, o que exige atenção maior das autoridades para que não ocorra um surto do sorotipo 1 nessas regiões nos próximos meses.
O coordenador aponta a falta de saneamento e de coleta regular de lixo como fatores que contribuíram para aumentar o índice de infestação da doença este ano. O levantamento do governo federal mostra que mais de 70% dos casos, incluindo os fatais, concentram-se nos estados de São Paulo, Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Rondônia e do Acre. Os dados relacionados às mortes devem ser compilados em dezembro.
Enquanto não surge uma vacina contra a dengue, o ministro da Saúde, José Gomes Temporão, conclama a população e as prefeituras para que ajudem a impedir o surgimento de criadouros do mosquito Aedes aegypti, transmissor da doença. A principal recomendação é evitar o acúmulo de água parada.
No Espírito Santo, está em fase de teste uma vacina contra a dengue. A estimativa dos pesquisadores é que a vacina fique pronta em cinco anos.

Fontes: Revista Carta Capital e Agência Brasil
Veja também no Biorritmo:
Atendimento falha em 69% dos casos de dengue no país (05/09/2010)

Comentários

  1. gostei texto bastante completo bem explicativo...muito bom mesmo me ajudou muitoo

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