A Juventude e o Alcoolismo

Proibida para menores de 18 anos, as bebidas alcoólicas ( consideradas drogas lícitas) estão cada vez mais presentes na rotina  dos jovens. Uma pesquisa realizada pela Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas (ABEAD), divulgada no primeiro semestre de 2010, mostrou que 6% do consumo anual de álcool no país é feito por pessoas na faixa etária entre 14 e 17 anos , a despeito da proibição imposta pelo inciso 2 do artigo 81 do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Mais um dado alarmante apontado pelo estudo é que os jovens entre 18 e 29 anos  são os responsáveis por 40% de todo o consumo anual de bebidas no Brasil.
Outro levantamento - realizado pela Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (SENAD), órgão ligado à Presidência da República, o qual contemplou apenas o público universitário - constatou que 22% desses jovens estão sob o risco de desenvolver dependência química por causa do álcool. Essa tendência, aliás , é comprovada pelo grupo de apoio Alcoólicos Anônimos (AA), o qual auxilia pessoas que desejam abandonar o alcoolismo, uma doença considerada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como progressiva e fatal. Segundo informações do departamento de comunicação do AA, o número de jovens que tem buscado ajuda  para deixar o vício aumentou consideravelmente nos últimos 5 anos.
Muitas razões podem ser apontadas para esse aumento do nómero de jovens viciados em bebidas alcoólicas.  A principal delas é o fácil acesso dos menores às bebidas, aliado aos baixos preços desses produtos. Existe também uma enorme pressão social para o consumo de álcool, sobretudo no ambiente acadêmico. nas faculdades, tudo é motivo pra festas, sempre há bebidas. Quem não tem certeza do que deseja para si, certamente, acaba influenciado pelos círculos de amizades. E como se bastasse a oferta fácil de álcool em casa ou entre amigos, os jovens ainda são bombardeados pela ampla publicidade desses produtos  na programação televisiva. As peças de propaganda de bebida, invariavelmente, relacionam o álcool ao prazer, á beleza física, ao status, ao esporte, à aventura e ao lazer. Tudo pra chamar a atenção - especialmente - da juventude.
Em uma análise de 420 horas de programação de TV, feita pela ABEAD, foram encontradas 7.359 peças publicitárias. Desssas, 438 - ou seja, 7,6% - eram de bebidas, segmento que aparece em sexto lugar no ranking de maiores anunciantes de televisão no Brasil. O Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (CONAR), com base no Código Brasileiro de Autorregulamentação Publicitária, estabelece que a propaganda de bebidas somente deve ser inserida em programação, publicação ou website dirigidos a maiores de idade. Diante de eventual dificuldade para aferição do público predominante, adotar-se-á programação que melhor atenda ao propósito de proteger crianças e adolescentes. No entanto, essa prerrogativa é ignorada na programação televisiva e o que vemos são propagandas de bebidas sendo veiculadas para um público-alvo formado por grupos com idade abaixo da permitida por lei para o consumo de bebida alcoólica.
a determinação de uma idade legal mínima para que o jovem comece a fazer a ingestão de álcool (18 anos) não é gratuita. É consenso entre os especialistas que quanto mais jovem, mais despreparado está o organismo humano para aingestão de bebidas alcoólicas. Em primeiro lugar, beber em excesso não faz bem para ninguém. Pior para adolescentes, que estão passando pelo período de crescimento, em que todas as células do corpo estão se desenvolvendo: o álcool envenena todas essas células e pode acarretar danos a todos os órgãos  em formação, esclarece Maurício Castro de Souza Lima, hebiatra (médico especialista em adolescência) do Instituto da Criança  da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.
O psiquiatra Jorge César Gomes de Figueiredo, especialista em dependência química, lembra tanbém que o álcool age, principalmente no hipocampo, pequena estrutura localizada nos lobos temporais, principal sede da memória. O consumo regular da substância prejudica a memória, comprometendo ainda a concentração e o aprendizado. Outro fator que motiva a proibição de venda de álcool para menores é que quanto mais precoce e constantye for o contato do jovem com a bebida, maior a probabilidade de tornar-se um dependente químico. Por isso, é preciso cuidado com aquela (enganosa) máxima: "Bebo apenas socialmente". De acordo com o psiquiatra Jorge César, não há uma quantidade mínima de bebida para que se instale o alcoolismo. "Varia de pessoa para pessoa. Uma possuem mais tolerância do que outras. O indivíduo é considerado alcoólatra quando a bebida começa, de alguma maneira a prejudicar a sua vida", define.
O vício que começa em casa ou entre amigos como uma forma de diversão acaba como um problema de saúde pública. No Brasil, o consumo de álcool ajuda a gerar prejuízos astronômicos para os cofres governamentais, como mostra um levantamento feito pelo Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS). Segundo o DATASUS, gastam-se, no mínimo, 35 milhões de dólares por ano com tratamentos relacionados ao consumo de bebidas e outras drogas.
A situação mundial não é muito diferente, e os jovens também ajudam a engrossar as estatísticas. Dados divulgados pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) mostram que cerca de 5% das mortes de pessoas entre 15 e 29 anos, em todo o mundo, estão relacionadas ao uso de bebidas. Nos Estados Unidos, por exemplo, um estudo feito com adolescentes de 14 a 17 anos revelou que 39% deles havia consumido álcool no mês que antecedeu à pesquisa. O número foi 11% superior ao registrado em estudo similar feito em 2008. No Reino Unido, o quadro não é diferente: 29% dos jovens entre 16 e 17 anos afirmaram ter bebido alguma vez na vida, porque se sentiam "entediados".
alarmados com esses e outros dados, os 193 países que fazem parte da OMS aprovaram em maio de 2010, em Genebra, na Suíça, o texto que propõe a restrição da publicidade com o objetivo de reduzir o consumo de bebidas alcoólicas, em especial entre os jovens. A OMS considera necessário reforçar a regulamentação sobre o conteúdo e o volume da publicidade do segmento. Resta saber se a medida terá , de fato, algum resultado efetivo a fim de conter a atual epidemia alcoólica.

Por Patrícia Scott ( texto adaptado do artigo originalmente intitulado "Epidemia Alcoólica")

Comentários

  1. Pelo menos 2,5 milhões de pessoas morrem por ano, em todo o mundo, em consequência do consumo inadequado de álcool, segundo estudo divulgadoem 11/02/2011 pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Os especialistas do órgão analisaram 100 países e concluíram que o consumo nocivo de álcool afeta principalmente os jovens e causa uma série de doenças. Por ano, cerca de 320 mil pessoas de 15 a 29 anos de idade morrem devido ao consumo da substância.
    Para os especialistas, o consumo nocivo de álcool é caracterizado pelo uso excessivo a tal ponto de causar danos à saúde e outras consequências. Os principais fatores de risco para os consumidores de bebida alcoólica são o fato de eles fumarem, a má alimentação e o sedentarismo. As doenças mais frequentes causadas são as sexuais, as cardiovasculares, os vários tipos de câncer, o diabetes e os problemas pulmonares crônicos.
    Desde 1999, 34 países adotaram políticas para a redução do consumo de álcool. As ações vão desde a restrição do comércio a punições para quem dirige embriagado. Eles consideram medidas eficientes aquelas que pesam no bolso do consumidor, a elevação de tributos cobrados sobre o álcool, assim como a redução da idade para comprar bebidas.
    No entanto, o diretor-geral adjunto para Doenças Não Transmissíveis e Saúde Mental da OMS, Ala Alwan, advertiu que, apesar dos esforços de alguns países no sentido de adotar medidas de redução e prevenção ao consumo, é necessário intensificar os esforços. “Claramente é preciso muito mais a ser feito para reduzir a perda de vidas e o sofrimento associado ao uso nocivo de álcool."
    Por determinação da OMS, representantes de 100 países vão se unir na elaboração de uma estratégia global para reduzir o uso nocivo do álcool. A estratégia é adotar medidas que levem à divulgação de informações sobre os problemas causados pelo consumo inadequado de bebida, assim como orientar os governos para a prevenção e redução das consequências do uso nocivo de álcool.

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  2. lucas ramos - aluno da ETEVM - T : 222324 de março de 2012 às 14:44

    Infelizmente, a juventude atual é marcada pelo alcoolismo. Essa realidadde com que nos defrontamos atualmente é fruto da incapacidade do poder público de não se impor de uma forma mais rígida em relação a tal questão e também, da falta de caráter de comerciantes, que vendem discaradamente a mesma para menores de idade. Com a união de diversos fatores, não somente os mencionados acima, chegamos a situação com que nos deparamos hoje, fato lastimável que deveria ter mais atenção esferas governamentais e também da população.

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  3. É triste saber que os jovens de hoje são a esperança para o futuro do país estão se perdendo tão prematuramente desta forma.
    Isto é culpa dos sistema que não funciona e a falta de ética de diversas pessoas desde de a pessoa que vende em mercados e bares,a mídia que trata isso de forma normal e coloca a bebida nun patamar tão alto que explicita que para se divertir e ser feliz é preciso ingerir bebida alcoolica. É um absurdo o mundo e a mídia que nos rodeia...

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  4. O mais triste mesmo e que nosso mundo de vergonhas, está submetido a piorar está cada vez pior isso não um fato para se fechar os olhos e fingir que simplismente não está acontecendo nada.

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