Itatiaia


Mais antigo parque nacional do Brasil, com localização privilegiada entre São Paulo e Rio de Janeiro, o Itatiaia é um emblema da majestosa beleza natural do país e da nossa negligência de administrá-la. Na foto: cachoeira Véu de Noiva.


O Parque do Itatiaia (“pedra cheia de pontas”, em tupi) está situado no maciço de mesmo nome, na Serra da Mantiqueira, no sudoeste do Rio de Janeiro (municípios de Resende e Itatiaia) e no sul de Minas Gerais (municípios de Bocaina de Minas, Alagoa e Itamonte), quase na divisa com São Paulo. Seus 30 mil hectares (300 km2) abrangem desde terrenos mais baixos, cobertos por mata atlântica, até algumas das mais elevadas montanhas do país, como o Pico das Agulhas Negras (2.787 metros de altitude, a sétima maior).
Primeiro parque nacional criado no Brasil, situado à beira da Via Dutra, entre as duas maiores metrópoles do país. Só isso já bastaria para tornar o Parque Nacional do Itatiaia uma vitrine da conservação da natureza para brasileiros e estrangeiros – sobretudo os que virão para a Copa do Mundo e a Olimpíada. Certo? Não.
Desfrutar desse patrimônio natural implica usar a infraestrutura oferecida pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, o ICMBio, em termos de acesso e apoio, e aí a situação fica delicada, para dizer o mínimo. Uma estrada federal espantosamente precária e uma carência clamorosa de funcionários são as evidências mais gritantes da falta de verbas com que o mais antigo parque nacional é obrigado a conviver – assim como toda a política de conservação ambiental do país. Qualquer comparação com outros parques tradicionais em países desenvolvidos deixa o Brasil “mal na foto” 
As terras onde hoje se assenta o parque pertenciam ao lendário Visconde de Mauá, o primeiro grande empresário, industrial e banqueiro brasileiro. O Ministério da Fazenda adquiriu-as em 1908 para instalar dois núcleos agrícolas destinados a colonos estrangeiros. Como a iniciativa fracassou, os terrenos foram repassados ao Ministério da Agricultura, que em 1929 criou ali uma estação biológica.
Desde 1913, porém, o botânico Alberto Loefgren já defendia a conversão da área em parque nacional. Debatida naquele ano numa conferência da Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro, a ideia foi endossada por vários pesquisadores. O parque só acabou sendo criado em 1937, por decreto do então presidente Getúlio Vargas. Em 1982, outro decreto, do presidente João Figueiredo, adicionou aos seus 12 mil hectares iniciais outros 18 mil hectares – mas, ao avançar sobre propriedades com escritura lavrada, produziu um imbróglio cuja solução se arrasta há décadas.
Há dois grandes ecossistemas. O primeiro é composto pela úmida e verdejante mata atlântica da parte baixa, recomendada para quem não faz questão de frio e prefere programas menos exigentes. Ali se concentra a maior parte das mais de 1.200 espécies animais do parque, como macacos (entre os quais o ameaçado monocarvoeiro), preguiças, lobos-guarás, cachorrosdo- mato e jaguatiricas.
As aves são um espetáculo à parte. Mais de 300 espécies diferentes – beija-flores, codornas, juritis, pica-paus, sabiás, tucanos e gaviões – produzem um festival de cantos que cativa os visitantes. Apenas os pássaros do Itatiaia já constituem um chamariz especial, atraindo pessoas do Brasil e do Exterior para o parque.
A vegetação rasteira é das mais interessantes. Ali se encontram espécies inexistentes em outras regiões do Brasil. Há, por exemplo, belos exemplares de orquídeas terrestres, bromélias, quaresmeiras, brincos-de-princesa, margaridas e lírios. Mais modesta do que na parte baixa, a fauna local tem como destaques os ameaçados gavião-real e onça-suçuarana e dezenas de espécies de anfíbios, como o sapo flamenguinho e o lagarto mabuia.
Itatiaia é um tesouro que merece não uma, mas várias visitas. Para começar, são dois parques em um, com acessos diferentes, cada qual com diversos e peculiares atrativos, que um fim de semana dificilmente esgota. Adeptos de caminhadas, montanhistas, observadores de pássaros, naturalistas, amantes da natureza ou simplesmente pessoas que querem sossego num lugar inspirador, sem a onipresença de celulares e da internet, vão ter razões de sobra para apreciar a viagem.

Adaptado do artigo "Itatiaia, a montanha esquecida" , Revista Planeta, Edição 464

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