Os Estereótipos da Sexualidade Masculina

O processo de socialização que transforma os meninos em homens 'machos' impede a espontaneidade na relação com as mulheres, levando-os a ter um comportamento sexual estereotipado

"A sexualidade típica do machão é impessoal, estereotipada, limitada. Cumprir o papel de macho é o principal objetivo. Trocar afeto e prazer com a parceira é secundário. Importante mesmo é o pênis ficar ereto, bem rígido e ejacular bastante. A mulher, para tal homem, só é interessante como meio de lhe proporcionar esse prazer que, na realidade, não tem nada a ver com prazer sexual", diz a colunista do iG, Regina Navarro. De forma contundente e precisa, Regina Navarro analisa o mito da masculinidade em todos os seus aspectos e explica porque os homens têm tanta preocupação em não "falhar" na hora H. Vejamos o texto "Questões do amor: o machão e o sexo" publicado em 12 de julho de 2011 no iG:
"Durante muito tempo a visão que se teve da mulher, e na qual ela também acreditou, era assim: frágil, desamparada, necessitando desesperadamente encontrar um homem que lhe desse amor e proteção e, mais do que tudo, um significado para a sua vida. E quando começou o movimento de emancipação feminina, os homens ainda acreditavam que não tinham nada do que se libertar, desprezando o fato de que o sistema patriarcal oprime ambos os sexos, e estar submetido ao mito da masculinidade não é nada fácil.
A maioria dos homens ainda persegue o ideal masculino – força, ousadia, sucesso, poder, nunca falhar –, mas eles têm as mesmas necessidades psicológicas das mulheres: amar e ser amado, comunicar emoções e sentimentos. A questão é que desde crianças eles são ensinados a desprezar as emoções delicadas e a controlar os sentimentos. Demonstrar ternura e se entregar relaxado à troca de prazer sexual com a parceira são atitudes difíceis; perder o controle ou falhar é uma ameaça constante. O processo de socialização que transforma os meninos em homens “machos” impede a espontaneidade na relação com as mulheres. É impossível ser amoroso quando se é “travado” emocionalmente.
Nos papos com os amigos eles aprendem a contar vantagens, suas conquistas sexuais e detalhes engraçados sobre as transas – muitas vezes desvalorizando as mulheres. Se os fatos correspondem ou não à realidade é o que menos importa. O sexo passa a ser um esporte, um jogo em que se disputa a dominação da mulher. Esse roteiro "homem-caçador"/ "mulher-presa" causa sérios prejuízos à sexualidade masculina. Os homens são levados a organizar sua energia e percepção em torno do desempenho e, assim, se transformam em máquinas de fazer sexo, preocupados apenas em ‘marcar pontos’ e ter ereções.
Apesar das aparências em contrário, na vida adulta a sexualidade masculina continua sendo uma experiência ansiosa e limitada. Poucos homens conseguem conhecer a intimidade emocional com a mulher, em vez de somente a sexual. Além disso, os estereótipos tradicionais de masculinidade inibem a capacidade de prazer sexual do homem. Na lenda de “Don Juan” e nas “Memórias de Casanova” isso fica claro. A motivação primeira não é a troca de afeto e prazer com as mulheres, mas sim o poder e o controle sobre elas, sendo as conquistas admiradas e invejadas por outros homens.
Pesquisas mostram que os homens que definem as relações humanas em termos de papéis rígidos – ‘masculino-superior’ e ‘feminino-inferior’ – ou que definem sua identidade masculina em termos de controle, violência e repressão dos afetos apresentam, em muitos casos, um quadro de deterioração da sexualidade.
Na década de 1970, um estudo sobre extremistas políticos alemães da direita e da esquerda (inclusive membros do grupo terrorista alemão de esquerda Baaden- Meinhof) constatou que esses homens apresentavam problemas de disfunção sexual, inclusive incapacidade de atingir o orgasmo.
Num outro estudo, sobre a recusa das mulheres em continuar subordinadas, concluiu-se que apenas 5% a 10% dos homens chegam perto de aceitar as mulheres como iguais, enquanto os demais expressam seus sentimentos de raiva, medo e inveja por meio de uma hostilidade evidente ou dissimulada. E o que os homens consideraram mais ameaçador nas mulheres é a combinação de competência e sexualidade.
É inegável que a masculinidade está em crise. Nos últimos 30 anos foi constatado nos homens o aumento da depressão psicológica e, em vários países, registram-se doenças do homem esgotado. Todo o esforço exigido deles para que sejam considerados "homens de verdade" provoca angústia, medo do fracasso e dificuldades afetivas.
Mas como resolver o impasse entre a proibição social de expressar sentimentos considerados femininos e a crítica cada vez mais acirrada ao homem machista? Como os homens podem recuperar sua autonomia? Talvez o jeito seja se unir às mulheres e, examinando o mito da masculinidade, pensar em sua própria saída do patriarcado, repudiando essa masculinidade como natural e desejável. Nem todos aceitam o roteiro do macho e cada vez mais homens em todo o mundo tomam consciência da desvantagem desse papel e empreendem a desconstrução e a reconstrução da masculinidade.
Quem sabe se dessa forma as relações afetivas e sexuais não se tornem mais plenas? Talvez o sexo insensível e considerado viril passe a ser coisa do passado e ninguém mais veja graça na anedota que diz que nenhum dos parceiros sente prazer na primeira experiência sexual, mas que o menino atinge o orgasmo no dia seguinte... quando conta a seus amigos".

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