Aves à Vista


Associação nacional recém-criada promete facilitar a vida dos adeptos da observação de pássaros na natureza, bem como estimular essa prática e a preservação de ecossistemas no país.

Há quem viaje longas distâncias com o objetivo exclusivo de avistar pássaros em liberdade. Ornitólogos e entusiastas dessa prática podem contar agora com uma entidade nacional que pretende criar instrumentos para estimular, facilitar e difundir a atividade no país. Inaugurada em outubro de 2011, a Associação Brasileira de Observadores de Aves (Aboa) já reúne mais de 600 membros.
Estranhamente, o Brasil ainda não tinha uma instituição de âmbito nacional com esse propósito – mesmo sendo o segundo país com maior biodiversidade de aves no mundo. As iniciativas resumiam-se a grupos regionais com limitada atuação e, em geral, pouca estrutura.

A ideia, embora concretizada somente no ano passado, já vinha sendo discutida desde 2010, quando o ornitólogo SandroVon Matter lançou Ornitologia e conservação: ciência aplicada, técnicas de pesquisa e levantamento, o primeiro livro editado no Brasil sobre métodos de pesquisa com aves, considerado um marco para a ornitologia nacional.
Atualmente o país mais cobiçado em relação à observação de aves é a Colômbia, com 1.819 espécies registradas (72 das quais são endêmicas). O Brasil fica em segundo lugar, com 1.757 espécies (211 endêmicas). Em seguida vêm Peru, Equador, Bolívia, Venezuela e Argentina – o que faz da América do Sul um dos destinos mais bem cotados para viajantes determinados a contemplar aves.
Em território brasileiro, ao contrário do que se imagina, o bioma mais abundante em diversidade de aves endêmicas não é a Amazônia, e sim a floresta atlântica. Não por acaso, os grupos mais ativos de observadores de aves localizam-se na região Sudeste do país. “A prática de observar aves como uma atividade de lazer diferenciada é muito difundida no mundo todo, mas, ironicamente, no Brasil ela ainda é bastante tímida”, avalia Von Matter.
 Soldadinho-do-araripe (‘Antilophia bokermanni’), ave raríssima que habita a região da chapada do Araripe, no Nordeste brasileiro. A espécie foi catalogada somente em 1996 e atualmente está em estado crítico de conservação.

Também está na agenda da associação difundir a observação de aves na mídia – afinal, a atividade é considerada importante aliada do desenvolvimento sustentável, especialmente quando o assunto é ecoturismo. “Visamos à proteção dos ecossistemas a que as aves pertencem, assim como à mudança de atitude das pessoas, ao oferecer a alternativa saudável de apreciar aves em liberdade a grupos que no passado as aprisionavam”, diz o fundador da Aboa.
O próximo passo é incluir o assunto na pauta da Rio+20. A propósito, a Aboa pretende realizar seu primeiro encontro oficial durante a conferência, quando serão discutidas estratégias de conservação de aves e seus biomas.
Von Matter cita ainda um exemplo interessantíssimo de como a observação de pássaros pode render mudanças sociais significativas: o projeto Birds as peacemakers in the Middle East. “Essa iniciativa conseguiu nada menos que unir israelenses e palestinos em torno da preservação de aves”, diz o ornitólogo, lembrando que o projeto é um sucesso há 15 anos.
“Por que não utilizar essa prática para trabalhar a criminalidade em comunidades carentes?”, sugere o fundador da Aboa. “Podemos oferecer aos jovens um curso de formação de guias de observação de aves. Esse é um dos próximos objetivos de nossa entidade.”
A observação de pássaros, internacionalmente conhecida como birdwatching, movimenta bilhões de dólares todos os anos. Somente nos Estados Unidos, segundo estimativas do Serviço de Pesca e Vida Selvagem dos Estados Unidos, são mais de 30 bilhões de dólares anuais.
Existem hoje mais de 120 agências ao redor do mundo especializadas em turismo de observação de aves. O preço médio de uma viagem curta em grupos de até 12 integrantes é de 4 mil dólares por pessoa. Algumas companhias conseguem agendar até 150 expedições por ano. No Brasil, ainda são poucas as agências exclusivamente dedicadas a esse mercado.
Fonte: Matéria da Ciência Hoje On-Line (adaptado)

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