Onde Ensinam Ter Fé na "Ciência" do Criacionismo

Uma pesquisa recente da Universidade da Pensilvânia mostrou que, nos Estados Unidos, um em cada oito professores do ensino médio apresenta o criacionismo a seus alunos como "uma alternativa cientificamente válida para a explicação darwinista sobre a origem das espécies"

Lendo a edição de domingo (17/06/2012) do jornal O Dia me deparei com uma nota na coluna do jornalista Fernando Molica a qual  muito me impressionou. Dizia a nota: "Um ponto do currículo mínimo de Biologia da Secretaria Estadual de Educação do RJ para o primeiro ano do Ensino Médio é visto com desconfiança por cientistas. O item daria margem ao ensino do chamado “criacionismo” ao propor que versões religiosas sobre a criação do mundo e da vida sejam tratadas em aulas.
O currículo prevê o reconhecimento da existência 'de diferentes explicações para a origem do universo, da Terra e da vida'. Essas visões devem ser relacionadas 'a concepções religiosas, mitológicas e científicas de épocas distintas”.
Isso rapidamente me remeteu a uma outra matéria que saiu a cerca de dois anos no mesmo jornal: 59% dos brasileiros acreditam no criacionismo, diz pesquisa.  A maior parte dos brasileiros acredita que o ser humano é fruto de uma evolução guiada por Deus, segundo pesquisa Datafolha publicada no jornal Folha de S.Paulo. De acordo com a pesquisa, 59% acreditam nessa tese, contra 25% que acreditam no criacionismo (tese que afirma que o homem foi criado por Deus há menos de 10 mil anos) e 8% de evolucionistas (que não acreditam em interferência divina na criação do homem). A pesquisa entrevistou 4.158 pessoas com mais de 16 anos, com margem de erro de 2%.
De acordo com a pesquisa, a crença na criacionismo é maior entre os entrevistados com menor renda e escolaridade. O número de evolucionistas, que acreditam apenas na teoria da evolução proposta por Charles Darwin, aumenta na proporção inversa, sendo maior entre aqueles com maior renda e escolaridade. De acordo com o jornal, os dados são próximos àqueles adquiridas nas nações europeias, pois uma pesquisa de 2005 do instituto Eurobarômetro mostra que o número de criacionistas é próximo dos 20%.
Nos Estados Unidos, uma pesquisa apurada pelo instituto Gallup e citada pelo jornal mostra que o número de criacionistas puros é de 44%, enquanto os que acreditam em uma evolução guiada por Deus são 36% e os evolucionistas são 14%. A adesão ao criacionismo bíblico é maior entre os umbandistas (33% e evangélicos pentecostais (30%), de acordo com a pesquisa, ainda que o número de devotos das religiões que pregam essa teoria não passe de 25%, segundo o jornal.
Pesquiso mais um pouco e leio na edição de 11 de fevereiro de 2009 da revista Veja: "À época em que governava o Rio de Janeiro, Rosinha Garotinho tentou implantar aulas de religião com viés criacionista nas escolas do estado. Em abril de 2004, a governadora chegou a declarar publicamente que não acreditava na teoria da evolução. O projeto causou polêmica, principalmente entre a comunidade científica, e foi oficialmente implantado, mas não vingou.
Embora as escolas evangélicas brasileiras procurem conciliar as ideias darwinistas com o criacionismo, a verdade é que, para os defensores da versão bíblica da criação do mundo, a teoria da evolução representa um inimigo a ser combatido a todo custo. Nos Estados Unidos, a oposição ao darwinismo se tornou uma guerra que frequentemente chega aos tribunais. Nos últimos anos, muitas escolas americanas de ensino fundamental e médio simplesmente substituíram os ensinamentos de Darwin pelo criacionismo nas aulas de ciências e de biologia. Duas dezenas de estados americanos já criaram leis que obrigam os colégios a ensinar o criacionismo ao lado da teoria da evolução. O último deles foi a Louisiana, em junho do ano passado. A manobra é constantemente motivo de processos judiciais por parte de pais de alunos – que em geral são derrotados nas decisões dos juízes.
Os criacionistas americanos se reúnem em organizações influentes e com forte lobby político. De tempos em tempos eles aperfeiçoam seu arsenal de argumentos para desqualificar Darwin. Um dos mais recentes é que certos elementos da natureza são tão complexos que só podem ter sido criados por uma inteligência superior. Como o olho humano. No reino animal, um bom exemplo de design inteligente é o besouro-bombardeiro, chamado de "o besouro de Deus". Comum em várias regiões do mundo, esse artrópode é dono de um sistema de ataque que lembra uma complexa arma militar. Duas bolsas localizadas em seu abdômen armazenam, separadamente, água oxigenada e hidroquinona, substâncias que entram em ebulição ao ser misturadas. Diante do predador, o besouro abre uma câmara de combustão e mistura os dois líquidos. Depois comprime a bolsa, disparando a solução tóxica por meio de um jato fortíssimo.
Os evolucionistas explicam que as substâncias que o besouro armazena são comumente produzidas por artrópodes, como também são corriqueiras nesses animais as vesículas de reserva de líquidos. Por acaso, ao longo da evolução, líquidos e bolsa se concentraram numa determinada espécie. De qualquer forma, a ideia de que os seres vivos são o resultado de um planejamento cuidadoso realizado por um designer inteligente não resiste ao menor exame. Veja o exemplo do engasgo, que pode levar uma pessoa à asfixia e à morte. Os seres humanos engasgam porque têm a laringe em posição muito baixa na garganta, se comparada à dos chimpanzés e à da maioria dos mamíferos. Esse arranjo adaptativo permite a modulação dos sons e, por consequência, a fala. É excelente do ponto de vista da sobrevivência da espécie, mas atrapalha quando se trata de respirar e comer ao mesmo tempo. Se o homem tivesse tido um designer mais inteligente, esse problema teria sido evitado com a simples colocação das tubulações – a da respiração e a da alimentação – bem distante uma da outra. É por isso que o biólogo Francisco Ayala, da Universidade da Califórnia, definiu a seleção natural como o "design sem um designer".
A mais recente estratégia dos criacionistas americanos para implantar os dogmas da Bíblia nas aulas de ciências das escolas públicas é sustentar o discurso de que a liberdade acadêmica deve ser preservada a qualquer custo. O texto da lei que tornou obrigatório o ensino do criacionismo nas escolas da Louisiana afirma que é preciso "ajudar os professores a criar nas escolas um ambiente que promova o pensamento crítico, a análise lógica e a discussão objetiva das teorias científicas". Além disso, diz a lei, "deve-se incentivar os alunos a analisar com objetividade as teorias estudadas". São sábios conselhos, ninguém duvida. Apenas não estão a serviço do aperfeiçoamento das instituições acadêmicas, mas das aspirações dos criacionistas de universalizar suas ideias nas salas de aula. O conceito de liberdade acadêmica é o tema central do primeiro filme destinado a panfletar as ideias criacionistas, Expelled: No Intelligence Allowed, lançado nos Estados Unidos em 2008 (e massacrado pela crítica). O filme denuncia uma suposta conspiração por parte da comunidade científica americana contra o criacionismo. Uma pesquisa recente da Universidade da Pensilvânia mostrou que, nos Estados Unidos, um em cada oito professores do ensino médio apresenta o criacionismo a seus alunos como "uma alternativa cientificamente válida para a explicação darwinista sobre a origem das espécies". No Brasil, não existem estatísticas sobre o assunto, mas, pelo avanço criacionista nas aulas de ciências das escolas evangélicas, pode-se apostar que os dogmas da Bíblia estão em alta no meio educacional."
Veja como ficou esta postagem na página do site Evolucionismo.org

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