O Biólogo Que Previu a Crise Hídrica no Rio de Janeiro

 Há mais de duas décadas, o biólogo Mario Moscatelli sobrevoa de helicóptero os rios da bacia hidrográfica do Estado do Rio de Janeiro. Como resultado de seu monitoramento constante, Moscatelli vem alertando as autoridades para o risco de uma crise no abastecimento de água no Estado desde os anos 90.

Há 18 anos,o biólogo Mario Moscatelli mantém o projeto Olho Verde, no qual sobrevoa mensalmente de helicóptero os rios, as lagoas e o litoral do Estado do Rio de Janeiro. Várias vezes por semana, ele visita áreas afetadas pela poluição e planta vegetação de manguezal. As fotos e vídeos que resultam desse trabalho ilustram denúncias que acabam encaminhadas para jornais e TVs, Ministério Público e para as próprias autoridades. Moscatelli gasta nessa tarefa nove horas diárias. 
Conheci Moscatelli em 1990 na minha formatura na UFRRJ, em que ele foi o grande homenageado  (a minha turma levava o nome dele). Bem jovem ainda e pouco conhecido naquele tempo, Moscatelli já chamava atenção pelo seu ativismo nas questões ambientais em Angra dos Reis. Foi nesse município que ele iniciou a sua trajetória de ativista ambiental, quando trabalhou na secretaria municipal de Ambiente e resolveu cumprir a lei que proíbe ocupações irregulares. Ao tratar do problema, para conter o desmatamento no município, acabou esbarrando em interesses imobiliários. Passou a ser ameaçado e teve que sair do país. Quando voltou, passou a atuar no Rio.
Os problemas de abastecimento de água pelo qual o Rio passa hoje eram facilmente previsíveis, e avisos não faltaram. Durante a década de 1990, cientistas anunciaram que estava por vir uma época de extremos climáticos. Porém, os estudiosos imaginavam que seca como a atual aconteceria somente em 2050. 
“Para enfrentar as longas estiagens, a solução óbvia seria usar a água dos rios. Mas muitos deles já estão mortos e outros agonizando”, alerta Moscatelli. “Desde o primeiro voo percebi que a situação era grave. As margens dos rios foram desmatadas, os leitos são depósitos de lixo e esgoto. Ao longo do tempo, apesar de todos os alertas, a situação se agravou bastante. Assistir, de um posto privilegiado, essa escalada da degradação é triste”, diz o biólogo.
A boa notícia é que há tecnologia disponível para reverter o estrago feito nos rios, nas lagoas e no mar. O que falta, segundo ele, é um ingrediente há muito tempo escasso entre as autoridades com poder de decisão. “Tecnologia e dinheiro tem de sobra, mas não há vontade política”, diz Moscatelli.
Apesar da inércia do Poder Público, o biólogo acha que a insatisfação popular pode obrigar os governantes a, enfim, fazer o que deveriam ter feito há anos. A crise pode apressar essa mobilização. “Quando quer, o povo brasileiro se organiza, basta ver os desfiles de Carnaval. Falta direcionar essa energia na defesa do ambiente”, diz Moscatelli.
Fonte: Jornal O Dia 

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