O Sumiço das Aves

Um estudo publicado pela Science reuniu dados dos últimos 50 anos sobre a abundância de 529 espécies de aves que ocorrem na América do Norte (Canadá e EUA) e revelou que existem atualmente cerca de 3.000 milhões de aves a menos do que em 1970. O declínio é generalizado, mas é mais evidente entre as aves Passeriformes como os pardais, as cotovias e os estorninhos. Essas aves embora sejam comuns, desempenham funções importantes para nós em termos de serviços ecossistêmicos e servem como um indicador da saúde e sustentabilidade dos ecossistemas. Entre esses serviços estão a dispersão de sementes, a polinização e o controle natural de pragas. Paradoxalmente, aves de rapinas raras como a coruja-das-neves (foto) e aves aquáticas ameaçadas de extinção estão entre os poucos grupos que tiveram a sua população aumentada. 

Um estudo publicado pela revista Science, reunindo dados dos últimos 50 anos sobre a abundância de 529 espécies de aves que ocorrem na América do Norte (Canadá e Estados Unidos), revelou que existem atualmente cerca de 3 milhões de aves a menos do que em 1970. O número equivale a 29% de todos as aves da região. O declínio é generalizado em quase todas as famílias da classe Aves, ocorrendo em quase 60% das espécies. Mas é entre  as aves Passeriformes como os passerídeos (pardais), alaudídeos (cotovias) e esturnídeos (estorninhos) que o desaparecimento parece ser mais evidente chegando a 75%. 
Esses dados foram levantados com base nos avistamentos de uma vasta rede de observadores, amadores e cientistas e foram confirmados por um trabalho paralelo com auxílio das mais modernas tecnologias. Os autores do estudo usaram os registros de 143 radares da rede NEXRAD da agência meteorológica dos EUA para detectar alterações no volume do fluxo migratório de aves no céu americano. 
O desaparecimento de aves não é um fenômeno exclusivamente americano. Em 2014, pesquisadores europeus publicaram dados comparativamente semelhantes . Esse trabalho começou em 1980 e, até 2010, a população de aves europeias havia sido reduzida em 400 milhões, dos 2.000 estimados. Além do menor intervalo temporal, este estudo foi limitado a 144 espécies chamadas de espécies comuns. A tendência, segundo o último relatório (com dados até 2016) do Plano Pan-Europeu de Monitoramento de Aves Comuns (PCBMS, na sigla em inglês), um terço das espécies está em declínio. A população total caiu 15% desde 1980 e, entre as aves de pastagem, a mais comum em paisagens abertas, a redução chega a 57%
"Não há uma causa única para o desaparecimento em massa das aves. Os autores do estudo norte-americano apontam a destruição dos habitat, a pressão humana direta ou o avanço da agricultura e, principalmente, sua intensificação. Além disso, a sofisticação dos inseticidas está deixando espécies insetívoras sem comida. Outras causas mencionadas podem ser o desmatamento em áreas tropicais ou a perturbação causada pelas mudanças climáticas, especialmente entre as aves que nidificam mais ao norte .
Mas não há muitos dados para saber se o fenômeno é realmente global ou se limita às regiões mais alteradas pelos seres humanos, pelo menos quanto às aves mais comuns". A ornitóloga Viviana Ruiz do Laboratório de Ornitologia  da Universidade de Cornell nos EUA - que não participou do estudo da América do Norte -, lembra que, na América Latina, a situação é "igualmente intensa ou pior, em porcentagem de população total". E fornece alguns dados: 44% das 1.156 espécies de aves residentes na América Central estão ameaçadas, com 14% em estado crítico.
Paradoxalmente, aves de rapinas e aquáticas estão entre os poucos grupos que tiveram a sua população aumentada. Pelo menos na Europa e na América do Norte, embora os pássaros mais comuns desapareçam aos milhões, observa-se que os tradicionalmente mais ameaçados estão se recuperando. De acordo com o estudo da Science , nos EUA e no Canadá existem agora 250 milhões de aves de rapina, aves aquáticas e outras tradicionalmente de caça, como perus e faisões. Os esforços de conservação e a regulamentação da caça explicariam essa recuperação que também está sendo observada em várias espécies icônicas do céu europeu. 
Por outro lado, o declínio das espécies mais comuns não tem merecido a  devida atenção dos conservacionistas. São justamente essas espécies ditas comuns que desempenham funções importantes para nós em termos de serviços ecossistêmicos e servem como um indicador fiel da saúde e sustentabilidade dos ecossistemas. Entre esses serviços estão a dispersão de sementes, a polinização e o controle natural de pragas.
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