Cloroquina: Uma Panacéia Desvairada?

Venerada como deusa da cura na mitologia grega, Panacéia hoje em dia é a palavra  que se usa para designar  qualquer coisa que se acredite possa remediar vários ou todos os males. Em sentido figurado, pode significar algo que se emprega para remediar dificuldades. O uso de compostos à base de cloroquina tem despertado interesse da comunidade médica no tratamento da Covid-19, uma enfermidade provocada pelo novo coronavírus. Tida com a solução para a pandemia em curso, os presidentes dos EUA e do Brasil apostam todas as suas fichas na cloroquina, atropelando as recomendações de segurança e protocolos de eficácia da OMS em relação ao uso do medicamento em grande escala.


Por se tratar uma doença viral e nova, até o momento não há tratamento eficaz com remédios específicos para conter os sintomas da COVID-19, doença ocasionada pelo SARS-CoV-2, mais conhecido como coronavírus. Com base em estudos laboratoriais, cientistas sugeriram que a cloroquina, uma droga utilizada para tratar malária há mais de 70 anos, seria capaz de reduzir a multiplicação de outros coronavírus, como o SARS-CoV e o MERS-CoV. Um trabalho de revisão publicado recentemente abordou o uso da cloroquina e formulações derivadas em pacientes com pneumonia causada pela COVID-19 (Cortegiani et al., 2020). Em um dos estudos revisados, um grupo de pesquisadores chineses estudou o efeito da cloroquina em células cultivadas em laboratório e seu efeito foi positivo na redução da multiplicação do SARS-CoV-2 (Wang et al. 2020).
Pronto. Isso foi o suficiente para que o medicamento caísse nas graças dos presidentes Donald Trump, dos Estados Unidos e Jair Bolsonaro, do Brasil, como um remédio promissor para o tratamento da Covid-19. Do dia para a noite, parece que a cloroquina virou a panacéia que a
humanidade estava buscando para se livrar do mal do coronavírus. Desvarios à parte, o fato é que 'independentemente dos possíveis resultados e recomendações contra ou a favor do uso de cloroquina,  a ausência de experiências clínicas, com todos os protocolos de segurança e validação necessários, é uma lacuna de extrema importância a ser preenchida, já que este medicamento assim como quaisquer outros, pode trazer vários efeitos colaterais perigosos", diz o pesquisador Flábio Ribeiro de Araújo, doutor em imunologia pela UFBA.
Na mitologia grega, Panacéia era o nome da deusa da cura e, por isso,  termo é utilizado atualmente para designar qualquer coisa que se acredite possa remediar vários ou todos os males. Ou ainda, em seu sentido figurado, pode significar algo o que se emprega para remediar dificuldades. Talvez isso seja o que esses governantes querem ao apostarem todas as suas fichas na cloroquina.
Contudo, a OMS (Organização Mundial da Saúde) noticiou que mais de 200 medicamentos já usados para doenças virais vêm sendo testados no combate aos sintomas da Covid-19. 'Aqui no Brasil, a Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) está coordenando o ensaio clínico Solidariedade (Solidarity), da OMS em 12 estados. A iniciativa global testará a eficácia de alguns tratamentos para a Covid-19, e incluirá somente pacientes hospitalizados, para atender à demanda mais urgente, que é a de oferecer tratamento para pacientes com quadros mais grave em 18 hospitais. Os tratamentos testados em cerca de 1.200 pacientes serão realizados com o uso das seguintes drogas: Remdesivir, Lopinavir + ritonavir, Cloroquina, Hidroxicloroquina, Lopinavir com ritonavir e interferon 1A.' Com destaque, é claro, para o uso cloroquina e a hidroxicloroquina.
"Apesar de ainda não haver evidências conclusivas sobre a eficácia da droga, cientistas de diferentes países dedicam tempo e esforços ao estudo de seus efeitos em pacientes com o novo coronavírus. Pesquisadores do Hospital Israelita Albert Einstein, HCor, Sírio Libanês e BRICNet, uma rede que realiza estudos clínicos na área de medicina intensiva, juntaram esforços para encontrar respostas sobre a segurança e eficácia da hidroxicloroquina.' 
Além disso, há iniciativas isoladas com os medicamentos. Pelo menos quatro pacientes que estavam na UTI em estado grave no Hospital Igesp, em São Paulo, receberam alta após sete dias de uso de hidroxicloroquina em associação com outras medicações. Por mais formidável que isso pareça, não há como estabelecer uma relação de causa e efeito por se tratar ainda de um número pequeno de
pacientes.
Para evitar a automedicação, a Anvisa determinou recentemente a mudança do status da hidroxicloroquina e da cloroquina, que passaram a ser medicamentos de controle especial. O princípio ativo já era sujeito à prescrição médica. Agora, a venda irregular será considerada infração grave.'
"Por fim, o uso de compostos à base de cloroquina tem despertado interesse da comunidade médica, no entanto, ainda não há suporte de dados médicos, em experimentos controlados, para atestar sua eficácia, em contraposição aos perigos que seu uso pode oferecer, pelos efeitos colaterais adversos. Em breve, os estudos coordenados pela OMS em diferentes países trarão à luz conhecimentos mais consolidados sobre estes medicamentos."
Para saber mais, clique nos links acima.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A Mariposa da Morte

Ilustrações da Mitose

Adeus ao Passarinho