Cloroquina - O Início


No centro da polêmica em meio a pandemia de Covid-19, a substância cloroquina tem uma história muito curiosa que se iniciou no século XVII. O medicamento, que antigamente era chamado simplesmente de "quina" era extraído da casca de uma árvore típica da América do Sul chamada Chinchona, foi muito importante no combate á malária na Europa. Para quebrar o monopólio de produção de quinina da América do Sul, várias pesquisas se intensificaram a partir da década de 1940 com o objetivo de sintetizar substâncias que fizessem o mesmo efeito. Em 1946, enfim, surgiu a cloroquina, um derivado da quinina, mas com cloro (por isso o nome), desde então usado como antimalárico, antirreumático, antiamebiano e no tratamento de lúpus.



A cloroquina não sai dos noticiários. Principalmente depois que o presidente Jair Bolsonaro rejeitou as medidas de distanciamento social e promoveu fortemente o medicamento antimalárico como tratamento para o coronavírus, apesar da falta de evidências de que seja eficaz, não se fala de outra coisa no meio científico. Para colocar mais lenha na fogueira, o estudo francês que dissera ter encontrado benefícios da hidroxicloroquina combinada ao antibiótico azitromicina no tratamento da Covid-19 foi retirado por seus próprios autores. 
A pesquisa intitulada “Hidroxicloroquina mais azitromicina: potencial em reduzir a morbidade em hospital da pneumonia Covid-19” liderada pelo médico Benjamin Davido recebeu elogios do médico francês Didier Raoult, o maior defensor da cloroquina e da hidroxicloroquina contra o coronavírus. O artigo havia sido publicado na forma de preprint (sem revisão por pares) em 11 de maio, no repositório de pesquisas medRxiv, de onde os próprios autores o retiraram no dia 22. No lugar do estudo, agora há somente a mensagem: “Os autores retiraram este manuscrito e não querem que seja citado. Devido à controvérsia sobre a hidroxicloroquina e à natureza retrospectiva de seu estudo, eles pretendem revisar o manuscrito depois da revisão por pares”. 
Mas será que a cloroquina sempre esteve na berlinda na história da medicina ou isso é fenômeno recente impulsionado por quiprocós políticos? Rafael Rigolon, professor da Universidade de Viçosa e autor da página Nomes Científicos no Facebook relata em um post a história da origem da cloroquina bem do comecinho, quando esse medicamento se chamava apenas "quina". Segundo ele, o mundo conheceu o potencial dessa substância em 1638 com o vice-rei do Peru, espanhol Luis Jerónimo de Cabrera, o 4º Conde Chinchón. Sua esposa, "a Condessa de Chinchón, pegou malária e foi tratada com o chá de uma árvore que os indígenas peruanos chamavam de ‘kinakina’ na língua quíchua. Na viagem de regresso à Espanha, a condessa faleceu, mas o conde conseguiu retornar, trazendo consigo grande quantidade de cascas da ‘kinakina’. A planta se popularizou muito por lá, em tempos que a Europa também sofria com malária. Em português, ela ficou conhecida por quinaquina, quinquina ou, simplesmente, quina.
Quando Lineu descreveu a espécie, em 1753, nomeou-a como ‹Cinchona officinalis›, em homenagem à condessa de Chinchón. O epíteto ‘officinalis’, em latim, significa ‘de uso medicinal’. Em 1820, os químicos franceses Joseph Pelletier e Joseph Caventou conseguiram isolar a substância ativa da quina, a identificaram como um alcaloide e a batizaram como quinina."
A árvore de onde se extrai a quinina tem cerca de 20 m de altura e pertence à família das Rubiáceas, a mesma do café e das gardênias. As espécies mais importantes são: Cinchona ledgeriana, C. officinalis, C. calisaya e C. pubescens . Em 2009, Alfredo Ricardo Marques de Oliveira e Daiane Szczerbowski do Departamento de Química da Universidade Federal do Paraná publicaram um artigo intitulado "Quinina: 470 anos de história, controvérsias e desenvolvimento" o qual revelou muitas curiosidades acerca dessa substância. Lá ficamos sabendo, por exemplo, que a "extração da quinina a partir da casca de Cinchona não rendia tanto quanto a extração a partir da árvore inteira. Assim, a obtenção comercial da quinina quase levou à extinção as árvores amazônicas, as quais, ironicamente foram replantadas a partir de sementes obtidas das mesmas plantações formadas pelo contrabando.
A necessidade de obter a quinina de maneira mais fácil e mais barata deu um grande impulso para o desenvolvimento da ciência e da indústria química, tal como a conhecemos. Após o isolamento por Pelletier e Caventou em 1820, Louis Pasteur em 1852 observou que a molécula era levorrotatória, porém nesta época ainda não se tinha nem o conhecimento da fórmula molecular e nem da estrutura espacial da quinina. Em 1854, Strecker determinou que a fórmula molecular da quinina era C20H24N2O2.
Já Rigolon nos conta que "a quinina era requisitada em quase todos os países. Durante a Segunda Guerra Mundial, uma grande estratégia da Alemanha foi se apoderar de toda a quinina da Europa ao invadir Amsterdã. Em vários lugares do mundo, os exércitos perdiam mais soldados para a malária do que para a guerra.
Para quebrar o monopólio de produção de quinina da América do Sul, várias pesquisas se intensificaram a partir da década de 1940 com o objetivo de sintetizar substâncias que fizessem o mesmo efeito. Já se conseguia sintetizar a quinina em laboratório, mas ainda era um processo muito caro e pouco eficiente comparado à extração natural. Em 1946, enfim, surgiu a cloroquina, um derivado da quinina, mas com cloro (por isso o nome), desde então usado como antimalárico, antirreumático, antiamebiano e no tratamento de lúpus.
Para contornar uma sensibilidade que muitos pacientes demonstraram pela cloroquina, em 1955, surgiu mais uma fármaco derivado: a hidroxicloroquina (HC). Ela é comumente chamada também como cloroquina, mas tem composição diferente.
A HC voltou aos holofotes recentemente quando alguns médicos e ensaios ‘in vitro’ sugeriram que seu uso poderia ser útil no tratamento da covid. Até o momento, entretanto, nenhuma pesquisa científica comprovou sua eficácia para essa finalidade. Nenhuma...
Pior que isso, um estudo recém publicado na revista ‘The Lancet’ mostrou que o uso da HC diminuiu a sobrevida hospitalar de pacientes com covid."
Enquanto os resultados dos testes clínicos para o estabelecimento dos níveis seguros do uso da cloroquina no tratamento da Covid-19 não saem, vamos convivendo com as incertezas de uma pandemia que se alastra cada vez mais.
Para saber mais, clique nos links acima

Comentários

  1. Boa noite, professor, fico feliz por ainda ver seu blog online e com informações relevantes sobre assuntos atuais. Realmente, a cloroquina e a HC não são úteis quanto falam, li um artigo em que a mortalidade em pacientes com corona que usaram HC/cloroquina foi maior do que os pacientes em que não foram administradas drogas.

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    1. Que porra mais um esquerdista comumista...eu fui curado com esse coquetel e essa porraiada tambem. Hipocritas

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