Imunidade de Rebanho Pode Levar a Vaca Pro Brejo

Apesar de muito difundida ultimamente a expressão "imunidade de rebanho" não é nova. A metodologia já existe a muito tempo e é sinônimo de imunidade coletiva. Imunidade coletiva é o que as vacinas tentam criar de forma passiva, sem prejuízo às pessoas. O conceito foi criado por imunologistas para calcular quantos indivíduos precisam estar imunes a um agente infeccioso para não ameaçar indivíduos vulneráveis. Especialistas em infectologia, epidemiologia e vacinas, autoridades sanitárias e estudos científicos já publicados mostram que a imunidade de rebanho sem vacina é quase inalcançávelNo Brasil, por exemplo, a uma taxa de 35% , a imunidade de rebanho sem uma vacina contra a COVID-19 custaria 700 mil vidas

A ansiedade da população em se ver livre do novo coronavírus está suscitando pesquisas que creditam às suas fichas na chamada imunidade de rebanho. Recentemente, dois estudos internacionais levantaram a hipótese de que a imunidade de rebanho possa ser alcançada no caso da covid-19 com um índice menor de infectados do que o inicialmente estimado, se considerados os diferentes níveis de interação social dentro de uma mesma população. Em outras palavras, as pesquisas têm sugerido que o porcentual de indivíduos infectados que faria o vírus ter dificuldades de continuar se propagando seria bem inferior aos 60% a 70% antes projetados por cientistas. Um dos estudos, inclusive, aponta o índice de 43% e o outro, de 20%.
Apesar de muito difundida ultimamente a expressão "imunidade de rebanho" não é nova. A metodologia já existe a muito tempo e é sinônimo de imunidade coletiva. Imunidade coletiva é o que as vacinas tentam criar de forma passiva, sem prejuízo às pessoas. O conceito foi criado por imunologistas para calcular quantos indivíduos precisam estar imunes a um agente infeccioso para não ameaçar indivíduos vulneráveis. Digamos que em uma população, a maioria seja imune a uma determinada doença infecciosa. Assim, ela acaba por proteger indiretamente a minoria que nunca foi exposta à doença.
Entretanto, muitos não estão considerando que a imunidade de grupo é um conceito matemático; na prática, ela pode ter resultados desastrosos. Um vídeo no Youtube explica muito bem isso.
Os primeiros estudos mostraram que, para chegar à imunidade coletiva, a proporção de pessoas infectadas pelo novo coronavírus tinha de ser de ao menos 60%. Nessa taxa, considera-se que toda a população é exposta da mesma forma ao vírus. Ou seja, todos são suscetíveis igualitariamente. Porém, sabemos que isso não funciona de forma homogênea. Pessoas como profissionais de áreas essenciais, por exemplo, estão mais propensas a ter contato com o vírus do que outras. O estudo publicado na revista Science tentou corrigir essas distorções de "acesso" ao novo coronavírus no cálculo da taxa. Pesquisadores dividiram a população em três grupos etários: idosos, meia idade e jovens. E, dentro disso, criaram outra divisão: quem tem mais contato social, quem tem menos contato e quem não tem nenhum contato. Com um modelo matemático criado para se aproximar mais a essa realidade, os pesquisadores mostraram que podemos ter uma imunidade de rebanho com a marca de 43% de infectados.
Marcos Espinal, diretor da Organização Pan-americana de Saúde (OPAS), informou que não há evidências científicas para comprovar a imunidade de rebanho no Brasil. O órgão acredita que somente 14% da população da capital amazonense têm anticorpos. Em São Paulo, o número é de 3%. Ou seja, bem longe dos 70% ou até mesmo dos 43% estimados para se ter imunidade de grupo.
Se você pegar os 70% que precisam de pegar a imunidade, nós vamos ter que ter 147 milhões, pois são 210 milhões de brasileiros. Como a taxa de letalidade é de 1%, nós teríamos como consequência 1,4 milhão de mortes. É basicamente a Região Metropolitana de Campinas. É um absurdo. Caso fossem os 35%, que também tem sido dito, nós saímos do 1 milhão e vamos acabar com Ribeirão Preto: 700 mil pessoas”, diz o diretor da OPAS
A microbiologista Natalia Pasternak Taschner, diretora do Instituto Questão de Ciência e pesquisadora do Instituto de Biociências da USP, ao comentar a matéria da Science no Twitter afirma que, antes de tudo, é  muito importante separar os conceitos de imunidade de rebanho. "Imunidade de rebanho em vacinas não é a mesma coisa que imunidade de rebanho natural, que ela chama de imunidade coletiva natural para diferenciar.A imunidade de rebanho em vacinas é o percentual da população que precisamos vacinar para impedir a circulação da doença e proteger os vulneráveis, aqueles que não podem ser vacinados ou porque não tem idade ainda, bebês e crianças, ou porque são imunossuprimidos.
Mas quando fazemos isso com vacinas, temos algumas certezas que não temos quando tentamos a imunidade natural coletiva", diz a pesquisadora. "Quando vacinamos, usamos uma formulação igual para todos, que garante, porque já foi testada, que a pessoa ficará imune. Sabemos quanto tempo essa imunidade vai durar, e sabemos se a transmissão será impedida. Ou seja, podemos prever os resultados da campanha de vacinação. Além disso, se fizermos uma boa campanha, garantimos uma boa cobertura, saberemos que a imunidade estará bem distribuída.
Ou seja, que a imunidade alcançada pela vacina será abrangente e homogênea. E assim, garantimos que a transmissão é reduzida ao mínimo, e os vulneráveis estão protegidos. Assim erradicamos a varíola, e quase erradicamos a pólio.
Mas em uma doença nova, não sabemos com certeza se quem já teve a doença está imune. Não sabemos por quanto tempo. E nossa medida de soroprevalência não é muito confiável porque a produção de anticorpos IgG não tem sido observada de forma consistente.
Algumas pessoas se recuperam e não produzem IgG, outras produzem mas a quantidade cai após 2 meses. Assim, usar anticorpos como marcador de prevalência não parecer ser uma boa ideia. E aí como vamos calcular os suscetíveis?
Pois é, no momento não sabemos. Sabemos que algumas pessoas são naturalmente imunes, claro. Algumas pessoas se livram do vírus só com resposta inata, outras parecem ter uma boa resposta de células T.
E outras ainda, podem estar protegidas por reações cruzadas de células T com outros Coronavírus de resfriados. Assim, eu concordo com os autores que o numero de suscetíveis talvez seja muito menor do que imaginamos.
Mas com os parâmetros que temos, fica muito difícil calcular esse número. E os 43% seriam medidos como então? Considerando que fosse um numero real? Assim, é possível que tenhamos uma imunidade coletiva antes do esperado?
É possível sim. Mas isso não é o mesmo que uma imunidade de rebanho atingida com vacina. Somente essa realmente protege os vulneráveis. Uma imunidade natural no máximo fará com que a doença seja mais controlável. Menos pandêmica e mais endêmica, com surtos localizados.
Ou seja, muita gente ainda morre. Até porque, como a doença não se espalha de forma homogênea como uma campanha de vacinação, teremos ilustres de vulneráveis que só vamos conseguir identificar quando aparecerem surtos."
Para saber mais, clique nos links acima.

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