Cura nas Alturas: A FAB e os "Voos de Coqueluche"




Devido à precariedade dos tratamentos, na primeira metade do século XX a solução mais adotada no combate à coqueluche era realizar um voo em grandes altitudes. Esses voos eram considerados um tratamento alternativo para a doença, uma vez que, na época, acreditava-se que submetendo os portadores da coqueluche ao excesso de velocidade e de vento proporcionados pelas aeronaves, bem como à mudança de pressão atmosférica no avião era capaz de amenizar e até curar os sintomas da enfermidade, pois criava-se condições desfavoráveis à bactéria causadora. Desde o ano da sua criação em 1941, A FAB ( Força Aérea Brasileira) levava gratuitamente pacientes a bordo de suas aeronaves no que ficou historicamente conhecido como "voos de coqueluche". Nessa foto do Arquivo Histórico Nacional, pode-se observar a aeronave Douglas C-47 FAB 2062 num destes voos em prol da saúde. Observem as mães, as crianças e a tripulação impecavelmente vestidas para essa ocasião. Segundo alguns historiadores, os Boeing B-17 da Força, usados no imediato pós guerra em missões SAR na FIR Atlântico, também teriam realizado “voos de coqueluche”.



A coqueluche é uma infecção respiratória, transmissível, causada principalmente pela bactéria Bordetella pertussis. No início do século passado, a coqueluche se apresentava como uma doença extremamente grave, sendo responsável pela infecção de muitas crianças, principalmente em seus primeiros anos de vida. A propagação da bactéria causadora da coqueluche é atribuída às gotículas nasofaríngeas expelidas no ar pelo doente, ao tossir, espirrar ou falar. Os acessos de tosse espasmódica, provavelmente, podem ser apontados como o sintoma mais característico da coqueluche.
Devido à precariedade dos tratamentos, na primeira metade do século XX, a solução mais adotada no combate ao principal sintoma da enfermidade era realizar um voo em grandes altitudes. A partir do final da década de 1920, aviadores franceses e alemães eram requisitados para realizarem vôos com a finalidade de combater os acessos de tosse. A terapêutica consistia em submeter os acometidos pela moléstia a uma variação da pressão atmosférica, criando assim condições desfavoráveis ao desenvolvimento do bacilo causador. Em linhas gerais, esses voos eram considerados um tratamento alternativo para a doença, uma vez que, na época, acreditava-se que submetendo os portadores da coqueluche ao excesso de velocidade e de vento proporcionados pelas aeronaves bem como a mudança de pressão atmosférica no avião era capaz de amenizar e até curar os sintomas da enfermidade, pois criava-se condições desfavoráveis à Bordetella pertussis.
No Brasil, o assunto foi reportado pela primeira vez pelo pediatra Leonel Gonzaga, segundo o qual, na década de 1920 um médico aviador francês que teve dois filhos afetados pela coqueluche, ouviu falar sobre os benefícios do ar rarefeito para os pacientes. Para comprovar a estória, ele levou um dos filhos para voar e percebeu melhora substancial em comparação ao outro que não voou. Desta forma escreveu sobre os benefícios do ar rarefeito (entre mil e três mil metros) no combate do bacilo causador desta doença.
Outra referência aparece na obra "O médico no lar", em edição do final da década de 1940. Seus autores, após indicar variados medicamentos, entre eles a beladona, recomendavam: “Caso nenhum destes recursos modere os acessos, recorre-se à ascensão em aeroplano acima de mil metros, a qual tem efeito sedativo imediato e surpreendente, porém não duradouro”
Assim, nos anos 1940, a indicação médica de voos para o tratamento da coqueluche já estava disseminada pelo mundo todo. Desde o ano da sua criação em 1941, A FAB ( Força Aérea Brasileira) levava pacientes a bordo de suas aeronaves no que ficou conhecido como "voos de coqueluche". De acordo com um dado estatístico de 1949, no primeiro semestre daquele ano, o Correio Aéreo Nacional (CAN) havia realizado 20 voos especiais, levando 365 crianças e 247 acompanhantes, totalizando 21 horas e 40 minutos de voo.
Na metade dos anos 1950, esses voos ficaram tão populares no Brasil que a FAB criou o "Serviço de Coqueluche", na 3ª Zona Aérea no Rio de Janeiro. 
Segundo o blog AeroEntusiasta, os "Voos de Coqueluche" da Força Aérea Brasileira eram totalmente gratuitos e operados pelos Douglas C-47 do Comando de Transporte Aéreo (COMTA), que partiam inicialmente na Base Aérea do Galeão e posteriormente do Aeroporto Santos Dumont, no centro do Rio de Janeiro. Para conseguir uma vaga, os responsáveis das crianças deveriam comparecer no Serviço da Coqueluche no aeroporto, apresentando a receita médica que prescrevia o "tratamento aéreo". 
"Na Seção da Coqueluche, os militares da FAB informavam aos responsáveis os detalhes da operação, como deveriam se comportar a bordo das aeronaves e os preparavam para a experiência de voar, que para muitos era inédita e assustadora! Os acompanhantes eram orientados a levar alimentos e agasalhos, pois a temperatura a bordo dos C-47 eram bem baixas. Os voos tinham duração aproximada de duas horas em altitude média de 3.500 metros (11.000 pés), e conforme orientação médica, a subida deveria ser rápida até nivelar (500 pés/minuto) e descida lenta até o pouso (300 pés/minuto). A bordo sempre haviam médicos e enfermeiros da FAB, que muitas vezes auxiliavam os pequenos com máscaras de oxigênio, devido aos enjoos e possíveis desmaios.
Aos domingos o jornal carioca Correio da Manhã publicava na tradicional seção de aviação, os nomes dos pacientes escalados para os voos da semana. Na segunda metade dos anos 1950 ocorriam quatro voos às terça-feiras, e o Comando de Transporte Aéreo (COMTA) aproveitava para treinar tripulantes de C-47 durante os voos que prosseguiam até a região de Cabo Frio."
Apesar do "Serviço da Coqueluche" ser sediado no Rio de Janeiro, a FAB realizava os "Voos de Coqueluche" em todo o Brasil, conforme a demanda e necessidade. Além dos Douglas C-47, outras aeronaves militares foram utilizadas para levar pacientes, inclusive os clássicos quadrimotores Boeing B-17 baseados na Base Aérea do Recife/PE e que foram usados no imediato pós guerra em missões SAR na FIR Atlântico.
A procura pelos voos era grande e a imprensa auxiliava na divulgação do trabalho. Na edição do dia 23 de outubro de 1957 de O Correio da Manhã saiu uma matéria intitulada: “Benemérita iniciativada FAB – O ‘Vôo de coqueluche’.” A matéria enaltecia e reconhecia o trabalho realizado pelos militares da Força Aérea Brasileira. Diversos pilotos privados brasileiros também realizaram voos para tratamento da coqueluche, muitos de maneira voluntária em seus próprios aviões. 
Com o desenvolvimento de medicamentos e a produção de vacinas, os voos da coqueluche foram reduzidos no início da década de 1960.
Após a introdução da vacina tríplice bacteriana, nos países em que foi adotada acreditou-se durante algumas décadas que o recurso eliminaria progressivamente a doença. Porém, após 50 anos de vacinação, a coqueluche reemergiu, passando a ser a doença imunoprevinível mais frequente mesmo em países desenvolvidos. Em 2010 houve na Califórnia uma grande epidemia de coqueluche com cerca de 9.000 casos diagnosticados e 10 casos fatais em lactentes. a coqueluche persiste como importante problema de saúde pública, ocorrendo na forma endêmica e epidêmica, mesmo nos países em que as coberturas vacinais no primeiro ano de vida são superiores a 95%.Várias são as hipóteses para a reemergência da coqueluche, uma delas é a adaptação do patógeno frente à vacinação.
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Comentários

  1. Bem, em 1959, eu tinha 8 anos de idade e morava em Jacobina/Ba.Vi um avião voando sobre a cidade.Peguei minha bicicleta e segui para o campo de aviação, levando meu irmão, no quadro da bicicleta.Nesse dia, ganhei o primeiro voo da minha vida, quando uma senhora chegou com algumas crianças doentes.Eu, que não estava doente nem nada, ganhei uma carona, com meu irmão, pudemos passar algumas horas vendo Jacobina de muito alto, bem acima das nuvens.Foi uma experiência inesquecível.Depois de adulto, fui pensar na irresponsabilidade dos pilotos, eu e meu mano poderíamos ter pegado coqueluche!

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