Annita e o Show dos Poderosos

No final de 2020, o governo federal alardeou um estudo clínico publicado em uma conceituada revista científica internacional sobre o uso do medicamento nitazoxanida (antiviral conhecido por seu nome comercial, Annita) em pacientes com Covid-19. De acordo com o estudo financiado pelo governo brasileiro, a nitazoxanida seria capaz de reduzir a carga viral em pacientes com até 3 dias de confirmação da doença no organismo. Porém, tudo não passou de um show midiático. Visto sob a ótica dos especialistas, o estudo não é tão promissor assim. O uso do medicamento em pacientes infectados reduziu a carga viral em 55% (contra 45% no grupo placebo). No entanto, não foi observado melhora nos sintomas da doença nem foram capazes de comprovar eficácia da terapia em casos leves. Ou seja, a pesquisa não mostrou mudança clínica, apenas redução de carga viral, o que não significa nada em uma doença aguda. 


Bem que eles tentaram. Montaram um espetáculo com direito a pronunciamento oficial do presidente da República e do Ministério da Ciência e Tecnologia e Inovação (MCTI), teve reportagem no programa "Voz do Brasil", milhares de twitters alvissareiros, entrevista no Youtube com infectologista famoso, etc. Segundo um estudo publicado em uma conceituada revista científica internacional, o uso do medicamento nitazoxanida (antiviral conhecido por seu nome comercial, Annita) em pacientes com Covid-19 é capaz de reduzir a carga viral em pacientes com até 3 dias de confirmação da doença no organismo. 
“A publicação do estudo clínico é um presente de Natal da ciência brasileira para o mundo. É uma excelente notícia de fim de ano para começarmos 2021 com ainda mais determinação para enfrentar esta pandemia utilizando a única arma possível de derrotá-la, a ciência. O Brasil possui excelentes cientistas e pesquisadores que produzem conhecimento científico de ponta e esse estudo com a nitazoxanida mostra que podemos ajudar não só o país, mas também o planeta. Finalizamos o estudo e deixamos essa contribuição publicada para que novos protocolos de tratamento preventivo ou prescrição médica possam ser adotados”, declarou o ministro do MCTI, Marcos Pontes em 24/12/2020.
Só a que a história não é bem assim...
O estudo clínico coordenado e financiado pelo MCTI foi publicado em dezembro de 2020 pela revista científica, European Respiratory Journal e teve a coordenação da professora Patrícia Rocco, titular da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). O estudo teve a participação de 1.575 voluntários em 7 cidades do país. A pesquisa foi conduzida no padrão multicêntrico, randomizado com grupo de controle e “duplo cego”, em que nem os pacientes ou médicos tinham conhecimento da medicação usada e poderiam tanto receber a nitazoxanida ou o placebo. O único estudo publicado sobre isso até o momento é o estudo financiado pelo governo brasileiro. Anteriormente, o governo já havia cometido uma gafe ao anunciar no dia 19/10 os resultados bem sucedidos sobre o uso da nitazoxanida no combate à Covid-19 utilizando um gráfico de banco de imagem que nada tinha a ver com os dados do ensaio clínico. Na época disseram que o estudo estava em avaliação para ser publicado e não poderia ser divulgado.
Segundo a opinião de pesquisadores da área de infectologia, a pesquisa realizada no Brasil, financiada pelo governo federal, serviu para mostrar que o uso da nitazoxanida em pacientes infectados reduziu a carga viral em 55% (contra 45% no grupo placebo). No entanto, não foi observado melhora nos sintomas da doença nem foram capazes de comprovar eficácia da terapia em casos leves. Ou seja, a pesquisa não mostrou mudança clínica. “Apenas redução de carga viral, o que não significa nada em uma doença aguda. A carga viral, a partir do 8º dia de doença é indetectável. 
Portanto, esse estudo mostrou que o grupo que tomou Annita (nitazoxanida) não teve doença mais leve e não se curou antes que o grupo que tomou placebo. Ou seja, não funciona. 
A mesma revista que atestou que a nitazoxanida é capaz de reduzir a carga viral, apontou que a redução foi insignificante quanto aos sintomas. O estudo não mostrou impacto clínico algum da nitazoxanida. Foi um estudo absolutamente negativo em impacto clínico.
"Em resumo, em pacientes com Covid-19 leve inscritos dentro de 3 dias do início dos sintomas, a nitazoxanida em comparação com o placebo não foi uma terapia eficaz em termos de aceleração da resolução dos sintomas após 5 dias de terapia e não modificou os desfechos secundários clinicamente relevantes. No entanto, a nitazoxanida foi segura, diminuiu significativamente a carga viral e aumentou a proporção de pacientes com teste negativo para SARS-CoV-2 após o término da terapia''
Para finalizar, em documento com atualizações e recomendações sobre a Covid-19, a Sociedade Brasileira de Infectologia “não recomenda tratamento farmacológico precoce para Covid-19 com qualquer medicamento (cloroquina, hidroxicloroquina, ivermectina, azitromicina, nitazoxanida, corticoide, zinco, vitaminas, anticoagulante, ozônio por via retal, dióxido de cloro), porque os estudos clínicos randomizados com grupo controle existentes até o momento não mostraram benefício e, além disso, alguns destes medicamentos podem causar efeitos colaterais. Ou seja, não existe comprovação científica de que esses medicamentos sejam eficazes contra a Covid-19.”
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