O Homem Que Evitou Uma Guerra Nuclear



Graças ao sangue frio, coragem, inteligência e discernimento de um oficial soviético, o mundo não se lançou numa guerra nuclear sem precedentes em 1983. Stanislav Petrov ignorou os alertas de ataque nuclear partindo dos Estados Unidos acionados em função de um erro no sofisticado sistema de radar da União Soviética. Petrov tinha o poder de decisão e poderia ordenar o lançamento de 1.000 mísseis nucleares sobre o território norte-americano em menos de 5 minutos após a constatação de um ataque do inimigo. Mas não o fez, confiando em sua própria intuição. Com essa atitude evitou que o mundo sucumbisse em consequência de uma catástrofe nuclear.

O ano é 1983. Vocês sabiam que o mundo poderia ter acabado nesse ano? Mais precisamente no dia 26 de setembro de 1983? Não, não era mais uma daquelas profecias catastróficas que povoavam o imaginário popular na década de 1980. Nesse tempo, o mundo vivia o auge da Guerra Fria, uma tensão geopolítica entre Estados Unidos e a antiga União Soviética e seus respectivos aliados. 
Em meio à espionagens, provocações de ambos os lados, ameaças de ataques nucleares, invasões, etc, estavam os habitantes do planeta Terra, e cerca de duas mil ogivas, metade localizada nos EUA e a outra metade na URSS. Bastava um dos líderes apertar um botão e teríamos um hemisfério destruído em 20 a 25 minutos.
E para agravar ainda mais o enorme estado de tensão em que vivíamos, jatos da URSS derrubaram um avião civil da Korean Airlines com 246 pessoas a bordo, que por uma desorientação de navegação acabou entrando por engano no espaço aéreo soviético no início de setembro de 1983. Os soviéticos interpretaram o fato como sendo mais uma das tantas provocações dos EUA e derrubaram o avião após não conseguirem contato com a aeronave. Uma onda de protestos correu o mundo, especialmente nos EUA.
A tensão entre EUA e URSS aumentou e a qualquer momento os norte-americanos poderiam revidar o ataque ao avião coreano. E foi o que os soviéticos pensaram que tinha acontecido.
Aí é que Stanislav Petrov entra na história. O Tenente-Coronel Stanislav Petrov, do exército soviético, era o oficial do dia no bunker Serpukhov-15, perto de Moscou. Esse bunker era o mais importante de toda a cadeia protetiva da URSS contra ataques estrangeiros, com capacidade para detectar um ataque nuclear, por exemplo, e providenciar, em cerca de 5 minutos, um contra-ataque. Como de costume, Petrov estava analisando dados e imagens de satélites e radares por toda a URSS quando, subitamente, um alarme soa na sala, seguido de uma luz vermelha e um militar grita que os EUA tinham acabado de lançar um míssel nuclear em direção a Moscou.
Era inacreditável! O tão temido ataque nuclear desencadeado pelos Estados Unidos estava prestes a se tornar realidade e cabia a Petrov, oficial maior do bunker, pegar o telefone e avisar seus superiores, dando inicio ao contra-ataque imediato. E não havia tempo para pensar muito.
Imaginem a carga de responsabilidade que recaiu sobre os ombros de Petrov. Um míssel dos EUA demoraria cerca de 23 minutos para atingir Moscou e comunicar a seus superiores significava disparar quase 1.000 mísseis em direção ao inimigo, protagonizando a maior catástrofe nuclear da nossa história.
Enquanto todo o bunker olhava para o oficial assustado, esperando ordens, Petrov não fez nada e raciocinou: “Se os EUA começassem uma guerra, jamais fariam isso com um míssel”.
De repente um novo alarme soou e mais um míssil entrou no radar. E depois surgiu um terceiro, e um quarto e um quinto. Mesmo assim, Petrov continuou impassível, achando ainda aquela possibilidade remota e decidiu esperar. Se ele estivesse enganado, em 20 minutos o primeiro míssel devastaria Moscou. Bastava Petrov atestar o ataque contra a URSS, que um general ligaria para um ministro, que ligaria para o líder supremo soviético (Yuri Andropov, na época), e somente no alerta de Petrov a guerra se iniciaria. 
Mas, por outro lado, se ele estivesse certo, evitaria que uma quantidade gigante de mísseis nucleares fossem lançados da URSS em direção ao EUA sem qualquer razão- o que geraria nova retaliação e o mundo poderia sucumbir numa Terceira Guerra Mundial. 
O tempo foi passando e os militares do bunker quase se amotinaram, mas Petrov os convenceu de que, provavelmente, o novo sistema de radar da URSS estava apresentando um erro. Afinal, o sistema inovador já tinha apresentado erros antes, então eles deviam confiar nele.
Os minutos de tensão foram passando, passando, e, bem…ao fim dos 23 minutos, para total alívio de Petrov, nada aconteceu. De fato era um erro de radar que podia ter custado nosso mundo.
Contudo, a decisão de Petrov não fez com que ele virasse um herói nacional. Ele foi acusado de ser negligente e de ter desrespeitado as regras militares e a hierarquia. Apesar de não ter sido punido, Petrov caiu em esquecimento no exército soviético.
Depois de ser colocado num posto sem qualquer importância, Petrov acabou aposentado logo depois. Os atos de Petrov só foram conhecidos em 1998, quando um cineasta alemão soube da história e resolveu investigar.
"Afinal de contas, seria muito vergonhoso aos soviéticos assumirem que meros raios de sol, refletidos em nuvens, fossem capazes de distorcer seu caro e moderno sistema de radares - e somente o discernimento de um homem evitou o fim do mundo. Petrov morreu em 19 de maio de 2017, pobre e sem reconhecimento. Sua morte não foi divulgada e lugar nenhum. Só pudemos saber dela porque o mesmo cineasta alemão que descobriu a história ligou para saber de Petrov em setembro de 2017 e descobriu sua morte em maio do mesmo ano." 
A façanha de Petrov rendeu um filme chamado "O Homem Que Salvou o Mundo" (“The Man Who Saved the World", de 2015, dirigido por Peter Anthony) no qual Petrov interpreta ele mesmo.
Por isso é que no dia 26 de setembro se comemora o Petrov Day no mundo todo em homenagem ao militar soviético que, com sangue frio, coragem, inteligência e discernimento evitou uma guerra nuclear, preservando assim toda a humanidade.
E o que é mais interessante: naquela noite, não estava agendado para Petrov estar de guarda. Ele foi chamado às pressas para substituir o oficial designado, que não poderia ir. Se ele não estivesse lá, seria possível que um outro oficial no comando tivesse tomado a decisão contrária.
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