A História de um Sequestro Genético

Pesquisadores chineses acreditam que há pouco mais de 35 milhões de anos ocorreu um sequestro genético determinante e incomum na natureza. De alguma forma, um gene de autodefesa de uma planta passou para o interior da célula de uma mosca-branca. Uma vez lá dentro, ficou lá e de lá foi herdado até se espalhar para todas elas. Desde então, a mosca-branca usa sua função de escudo e é capaz de resistir aos ataques que muitas plantas lançam contra todos os tipos de insetos. Hoje, e em virtude desse gene, a mosca-branca é uma das pragas mais destrutivas do mundo.


Imagine a seguinte situação: você entra numa piscina com olhos castanhos e sai dela com olhos azuis, só porque você engoliu água. Parece absurdo, não é? A grosso modo, estamos nos referindo a um salto evolutivo provocado por uma transferência horizontal de genes na espécie humana, o que é um caso raríssimo. Esse fenômeno é muito comum entre microorganismos, mas muito mais raro em células como as de plantas ou animais.
Pesquisadores chineses afirmam que há pouco mais de 35 milhões de anos, ocorreu um sequestro genético determinante e incomum na natureza. De alguma forma, um gene de autodefesa de uma planta passou para o interior da célula de uma mosca-branca. Uma vez lá dentro, ficou lá e de lá foi herdado até se espalhar para todos eles. Desde então, a mosca-branca usa sua função de escudo e é capaz de resistir aos ataques que muitas plantas lançam contra todos os tipos de insetos. Hoje, e em virtude desse gene, a mosca-branca é uma das pragas mais destrutivas do mundo.
Quando a passagem do material genético não é direcionada de forma tradicional e vertical aos descendentes, mas aos parceiros no ambiente dizemos que houve uma transferência horizontal de genes. Em alguns casos, o resultado é um salto evolutivo quase imediato e ocorre algo como a metáfora da piscina feita acima pela famosa microbióloga Lynn Margulis (1938- 2011).
O estudo sobre a mosca-branca saiu publicado na revista Cell no ano passado e provocou debates pertinentes na comunidade científica sobre esse fenômeno. Na verdade, os pesquisadores não estavam procurando por essa transferência horizontal de genes. O que eles estava tentando fazer era descobrir o que permitia a mosca-branca se alimentar salutarmente da seiva açucarada de centenas de plantas que outros insetos consideram mais ou menos tóxicas sem sofrer nenhum dano.
Uma das primeiras suspeitas da existência de transferência horizontal de genes entre organismos foi em 1928, quando no chamado " experimento de Griffith " se viu que uma cepa inofensiva de pneumococo poderia se tornar muito perigosa ao entrar em contato com outra cepa virulenta. Então, na década de 1950, foi demonstrado que as bactérias podiam transferir genes de resistência a antibióticos e conhecimento acumulado, levando inclusive a debates sobre a importância do mecanismo em toda a história da evolução e da vida.
Em muitos microrganismos, a transferência horizontal ocorre constantemente e de várias maneiras. As sequências podem ser trocadas por pequenas filamentos chamadas ´pili´ que elas põem em contato umas com as outras, podem pegá-las do ambiente ou usar intermediários como vírus. Em células eucarióticas , como as de plantas e animais, é muito mais difícil porque muitas barreiras precisam ser superadas. Por exemplo, esses genes precisariam atravessar a membrana do núcleo, onde está o DNA (e que as bactérias não têm). E, em geral, essa transferência precisaria ocorrer no genoma dos gametas para que possa ser então passado para a prole.
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