O Mistério da Enorme Diversidade dos Besouros

Por que existem tantas espécies de besouros em nosso planeta? Acredita-se que os besouros tenham se originado há mais de 300 milhões de anos, durante o período Carbonífero. Mas a explosão na sua variedade e número de famílias coincide com a rápida diversificação das plantas com flores durante o período Cretáceo, há cerca de 145 milhões de anos. Os cientistas acreditam que o sucesso das plantas com flores aliado ao desenvolvimento de diferentes estratégias alimentares desempenhou um papel profundo na evolução dos besouros.




Os entomólogos (como chamamos os especialistas em insetos) vivem se perguntando: porque existem tantas espécies de besouros em nosso planeta? A resposta exata para essa pergunta eles ainda não tem têm, mas volta e meia surge alguma hipótese interessante para explicar esse intrigante fenômeno.
Das aproximadamente 1 milhão de espécies de insetos registradas na Terra, cerca de 400 mil são besouros. E esses são apenas os besouros descritos até agora, pois milhares de novas espécies são descritas pela ciência anualmente.
Dentre as inúmeras hipóteses que surgiram para explicar essa enorme diversidade de besouros tem uma que diz que existem muitos deles porque eles já existem no planeta há muito tempo (os besouros têm cerca 350 milhões de anos de existência). Segundo os biólogos evolucionistas, quando uma espécie se estabelece por longos períodos de tempo podem especiar-se ou dividir-se em linhagens genéticas novas e distintas. Porém, isso não quer dizer muita coisa, pois só porque um grupo de animais é antigo não significa necessariamente que terá mais espécies. Alguns grupos muito antigos têm muito poucas espécies . Os peixes celacantos, por exemplo, existem nos oceanos há aproximadamente 360 ​​milhões de anos, atingindo um máximo de cerca de 90 espécies e depois declinando para as duas espécies que vivem até hoje. Da mesma forma, , o tuatara (um tipo de réptil semelhante a um lagarto) é o único membro vivo de uma antiga ordem de répteis que já foi globalmente diversa e que se originou há cerca de 250 milhões de anos.
Outra possível explicação para o fato de os besouros serem tão ricos em espécies é que, além de serem antigos, têm um poder de resiliência incomum, pois conseguiram sobreviver a pelo menos duas eventos de extinções em massa. De acordo com um estudo de 2015 que utilizou besouros fósseis para explorar extinções já no período Permiano, há 284 milhões de anos, concluiu-se que a falta de extinção pode ser pelo menos tão importante como a diversificação para explicar a abundância de espécies de besouros. Em épocas passadas, pelo menos, os besouros demonstraram uma capacidade impressionante de mudar a sua área de distribuição em resposta às alterações climáticas, e isto pode explicar a sua resiliência à extinção.
Para complicar o mistério da diversidade dos besouros está o fato de que alguns ramos da árvore genealógica dos coleópteros têm muito mais espécies do que outros. Por exemplo, os besouros rola-bosta, que passam a vida rolando bolas de excremento habilmente elaboradas, são apenas modestamente diversos (a família desses besouros tem apenas cerca de 8.000 espécies). Já Chrysomeloidea - uma superfamília que contém besouros de folhas com chifre longo - inclui 63.000 espécies, enquanto Buprestidae, um grupo de besouros metálicos que perfuram madeira e folhas (também conhecidos como besouros-de-joias por suas cores iridescentes e chamativas), inclui cerca de 15.000 espécies.
Com base em análises genéticas de diferentes linhagens de besouros, o biólogo evolucionista e entomólogo Duane McKenna, da Universidade de Memphis e seus colegas encontraram evidências de que um fator importante que estimulou a diversidade de besouros foi a diversificação de plantas com flores durante o período Cretáceo.
O período Cretáceo começou há cerca de 145 milhões de anos e durante esse período uma explosão de novas espécies de plantas com flores se espalhou pela superfície da Terra, colonizando muitos habitats diferentes. Hoje, as plantas representam cerca de 80% da massa da vida na Terra. Aproveitar ao máximo as plantas como alimento é uma estratégia ecológica que tem ajudado a alimentar a radiação não apenas de besouros, mas também de espécies herbívoras, incluindo formigas, abelhas, pássaros e mamíferos.
No caso dos besouros herbívoros, as suas linhagens mais ricas em espécies carregam uma variedade impressionante de genes que permitem a digestão das plantas, descobriu McKenna. Muitos destes genes codificam enzimas que ajudam a quebrar as paredes celulares das plantas, permitindo o acesso aos açúcares armazenados em compostos de difícil digestão, como a celulose, a hemicelulose e a pectina. McKenna está convencido de que as linhagens que possuem esses genes foram as mais bem sucedidas, no sentido evolutivo.
Por motivos ainda não totalmente esclarecidos, algumas espécies de besouros herbívoros perderam os seus genes que auxiliam a digestão à medida que evoluíram, incluindo um gene que codifica a pectinase, uma enzima que permite a degradação da pectina. Para compensar a perda da pectinase, alguns besouros desenvolveram uma estratégia diferente para comer plantas: estabeleceram relações com parceiros bacterianos – chamados simbiontes – que também auxiliam na digestão das plantas.
Para alguns besouros, estes microrganismos simbiônticos especiais tornaram-se uma ferramenta alternativa para manter as plantas no cardápio, expandindo o número de habitats onde novas espécies poderiam evoluir e prosperar. Além de tornar as plantas mais fáceis de digerir, alguns microrganismos associados às plantas podem ter aberto o caminho para a diversificação dos besouros porque fornecem aos besouros proteção contra predadores.
A habilidade dos besouros para prosperar em uma grande variedade de microhabitats também poderia ajudar a explicar a abundância de espécies, dizem alguns cientistas. Quer comam plantas ou comam outros alimentos, como matéria orgânica em decomposição, os coleópteros desenvolveram ao longo de sua história evolutiva, uma impressionante variedade de ferramentas e de estratégias alimentares para resolver muitos problemas diferentes nos mais diferentes habitats. Contudo, por mais resilientes que sejam os besouros, não podemos considerar a sua sobrevivência garantida em nosso planeta. As populações de insetos estão em declínio em muitos locais, incluindo uma diversidade enormes de espécies de besouros e ainda não sabemos como esses insetos sobreviverão aos severos impactos dos seres humanos sobre os ambientes naturais.
Para saber mais, clique nos links acima.



















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