Caçadores de Evidências

Sangue

Desvendar crimes e solucionar problemas judiciais cada vez mais é uma tarefa da ciência. Os peritos forenses examinam vestígios em busca de provas com auxílio de tecnologia avançada e conhecimentos interdisciplinares.

Com o auxílio de diferentes áreas do conhecimento, como química, física, biologia, computação e psiquiatria, a ciência forense é capaz de dar voz às evidências e solucionar os mais complicados crimes e processos judiciais. 
A genética é a área da ciência forense que mais tem avançado. Basta uma pequena amostra de sangue, saliva, pele ou sêmen para identificar uma vítima ou um suspeito. “Os exames de DNA estão tão sofisticados que hoje podemos fazer testes com amostras cada vez menores e também mais antigas”, conta o biólogo e perito judicial Eduardo Paradela, consultor científico do Laboratório Vingene, da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Uni-Rio).
Um exemplo disso foi a recente reviravolta que envolveu um crime ocorrido em Londres em 1910, quando o médico norte-americano Hawley Crippen foi condenado à forca por ter matado sua mulher. Na época, a esposa do médico desapareceu e a polícia julgou que ele a assassinara. A prova era um pedaço de pele, supostamente da jovem, encontrado no porão da casa do casal.
Agora, passados 100 anos, pesquisadores da Universidade de Michigan, nos Estados Unidos, fizeram um teste de DNA comparando a pele com o material genético de parentes vivos da vítima e descobriram que o tecido era, na verdade, de um homem.
Os pesquisadores norte-americanos analisaram o DNA mitoncondrial, que resiste mais tempo do que o do núcleo da célula. Esse tipo de material genético é passado de mãe para filhos e pode ser usado para determinar o parentesco entre duas pessoas.
Existem diversos outros tipos de exames de DNA, mas o mais comum nas investigações forenses é o que analisa o material do núcleo da célula. Ao contrário do que muita gente pensa, o exame não é feito com todos os genes de uma pessoa. Como os seres humanos compartilham muitas sequências genéticas iguais, os testes examinam apenas determinadas regiões dos cromossomos, chamadas de microssatélites, em que há repetição das bases nitrogenadas que compõem o DNA. Essas sequências são únicas em cada indivíduo.
A genética está tão avançada que já é possível identificar características físicas de uma pessoa pelo seu material genético. Essa técnica inovadora foi desenvolvida por pesquisadores da Universidade Erasmus de Roterdã (Holanda) e utiliza marcadores genéticos específicos para revelar a cor natural dos olhos e do cabelo de uma pessoa.
No Brasil, o teste de DNA é muito popular em processos judiciais de reconhecimento de paternidade. Nas investigações criminais, esse recurso é mais utilizado para a identificação de vítimas do que para caçar criminosos. Isso porque o nosso Código Penal garante que ninguém seja obrigado a produzir provas contra si mesmo. Assim, os suspeitos só fornecem material genético para comparação se quiserem.“Esses estudos são bastante relevantes para futuras aplicações forenses, pois podem dar pistas na busca das autoridades por um criminoso de identidade desconhecida”, explica um dos responsáveis pela nova técnica, o geneticista Manfred Kayser.
Em países da América do Norte e da Europa, as polícias mantêm bancos de dados com o código genético de toda pessoa acusada de algum delito. Apesar de ser amplamente usado como prova, o teste de DNA não é 100% infalível. “O DNA costuma ser apresentado como algo isento de erros e inclusive muitos juízes pensam que isso é verdade”, afirma o biólogo e perito judicial do Rio de Janeiro André Smarra, professor da Universidade Estácio de Sá. “Mas existem muitos casos de contestações judiciais e invalidação de exames.” Os principais fatores que podem influenciar no resultado do teste são a contaminação das amostras e erros de estatística.
Saiba mais sobre este assunto lendo o artigo "à caça de evidências" na Revista Ciência Hoje nº281 (maio 2011)
Veja também no Biorritmo:
Detetives do DNA (17/07/2010)

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