Conhecendo a Microflora Vaginal


O pH da vagina normal oscila entre 4,5 e 5,0, e é mantido pela produção de ácido láctico pelos lactobacilos, a partir de glicogênio das células de descamação da mucosa vaginal.

A microflora vaginal representa sem dúvida um dos mais importantes mecanismos de defesa da função reprodutora feminina, mantendo o meio saudável e impedindo a proliferação de micro-organismos estranhos à mesma.Os primeiros estudos sobre a flora foram realizados por Doderlein, que identificou Lactobacillus como constituintes da flora saudável. Desde então os diversos componentes do ecossistema vaginal têm sido observados ao microscópio e, posteriormente, identificados através de técnicas específicas de cultura. Entretanto, mais recentemente, técnicas de identificação de bactérias independentes dos meios de cultura têm revolucionado o estudo dos microorganismos. A aplicação de técnicas de amplificação, clonagem e subsequente análise de sequências dos genes bacterianos (genes que codificam para o rRNA 16 S bacteriano) em amostras de fluido vaginal tem possibilitado a identificação da maioria das espécies comuns de Lactobacillus e de outros micro-organismos. Assim, tais técnicas têm demonstrado que  as espécies de Lactobacillus não correspondem sempre à espécie bacteriana dominante na vagina de mulheres saudáveis. Além disso, habitantes do meio vaginal até então desconhecidos tem sido identificados.
Um estudo sobre a flora vaginal realizado em três continentes e utilizando métodos de análise de genes bacterianos demonstrou que as espécies dominantes eram as mesmas em cada uma das regiões: L. crispatus, L. gasseri e L. jensinii. Além disso, o mesmo estudo verificou que , em algumas mulheres, o ecossistema normal era mantido na ausência de Lactobacillus. É possível que quando os Lactobacillus não sejam capazes de predominar no meio vaginal por qualquer razão outras bactérias produtoras de acido lático passsem a ocupar o seu nicho. Portanto, o ambiente ácido da vagina, reconhecido como importante mecanismo de defesa contra a proliferação de patógenos, pode ser mantido por outras bactérias, não apenas pelos Lactobacillus.
A composição da flora vaginal não é constante, sofrendo variações em resposta a fatores exógenos e endógenos. Tais fatores incluem as diferentes fases do ciclo menstrual, gestação, uso de contraceptivos, frequência de intercurso sexual, uso de duchas ou produtos desodorantes, utilização de antibióticos ou outras medicações com propriedades imunossupressivas. As alterações que ocorrem no meio vaginal podem aumentar ou diminuir as vantagens seletivas para microorganismos específicos. Por exemplo, estudos têm relacionado a perda de Lactobacillus ao intercurso sexual ou ao uso de antibióticos. Entretanto outro estudo demonstrou que o coito sem o uso de condon não teve efeito sobre os Lactobacillus, mas elevou os níveis de Escherichia colibacilos gram- negativos facultativos. Durante o ciclo menstrual ocorrem variações hormonais que interferem no substrato de diferentes microorganismos; tais variações, assim como o sangue menstrual, levam a mudanças no pH vaginal. Mas mesmo assim os níveis de Lactobacillus permanecem constantes através do ciclo, as espécies não-Lactobacillus aumentam durante a fase proliferativa e as concentrações de Candida albicans se tornam mais elevadas no período pré-menstrual. 
Os antibióticos podem alterar a ecologia vaginal, portanto o tratamento de mulheres assintomáticas, mas cujo exame a fresco mostra ausência de Lactobacillus, é bastante discutível. Induzir uma perturbação na microflora endógena com base apenas nos achados microscópicos pode desencadear a proliferação seletiva de microorganismos que estavam sendo inibidos e que possam ser prejudiciais à saúde da vagina. A Candida albicans é tolerante ao meio ácido, sendo encontrada em aproximadamente 10% a 20% das mulheres em idade reprodutiva. A concentração do micro-organismo é baixa, portanto a mulher portadora é assintomática. Entretanto, eventos que levam a um estado de imunossupressão local, como o intercurso sexual ou a indução local de resposta alérgica, criam condições adequadas para a proliferação do micro-organismo e também facilitam a transformação para a forma de hifas, mais invasivas. Tais situações resultam no aparecimento de vaginite sintomática.
A produção de ácido lático parece ser essencial para a manutenção de um ecossistema saudável, independentemente das espécies bacterianas que possam estar presentes na vagina. O pH ácido resultante previne a proliferação excessiva de microorganismos potencialmente patogênicos. Lembrar ainda que a predominância de Lactobacillus é benéfica para o hospedeiro, já que algumas espécies produzem peróxido de hidrogênio bacteriocinas, fatores que dificultam a proliferação de outros micro-organismos.

Adaptado do Artigo "Novos Conhecimentos Sobre a Flora Bacteriana" de Iara Linhares e Colaboradores. Disponível em http://www.scielo.br/pdf/ramb/v56n3/v56n3a26.pdf


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