É Preciso Ensinar Atitudes Científicas

Fredy Heer/Latincontent/Getty Images
Especialista argentina afirma que o fundamental no ensino de ciências é privilegiar a observação, a classificação e a formulação de perguntas para desenvolver o raciocínio

De um lado, estão os professores que propõem o ensino de Ciências com base em experiências práticas, feitas em laboratório - os chamados tecnicistas. De outro, estão os educadores que focam a transmissão de conceitos e a teoria em aulas expositivas - e que, pela escolha metodológica, são conhecidos por tradicionalistas. As limitações de ambas as linhas levou ao desenvolvimento, desde a década de 1970, de uma terceira perspectiva, conhecida como investigativa. A bióloga argentina Melina Furman é uma das mais expressivas representantes dessa corrente. Doutora em Educação e Ciências pela Universidade de Columbia, nos Estados Unidos, e coordenadora científica da Sangari Argentina, ela vem dedicando-se à pesquisa desse novo modo de ensinar a disciplina, que propõe se basear em uma situação-problema para oferecer aos alunos a oportunidade de observar, levantar hipóteses, fazer registros e tirar conclusões. "Dessa forma, permitimos que as crianças e os jovens avancem num processo que possibilitará a formação de um pensamento sistemático, crítico e autônomo, capaz de preparálos para enfrentar os desafios da atualidade dentro e fora da escola", diz. Seu livro mais recente, La Aventura de Enseñar Ciencias Naturales (ainda sem título em português), escrito com a colega María Eugenia de Podestá, rendeu-lhe o primeiro prêmio na categoria Educação na Feira Internacional do Livro de Buenos Aires, neste ano.

Os bons professores de Ciências organizam suas aulas incluindo diversas abordagens didáticas: a realização de experiências, o trabalho com textos, os debates, as pesquisas sobre a história da ciência, as atividades com o objetivo de analisar os resultados dos experimentos feitos pela turma e muitas outras. O importante é que as aulas permitam aos alunos ter um papel ativo. O professor deve planejar, de antemão e com clareza, os objetivos da aula. Tendo noção de aonde quer chegar, fica mais simples canalizar as perguntas da turma e criar um clima de investigação em que a curiosidade seja mais do que bem-vinda. A tendência é que se abandone por completo a oportunidade de proporcionar aos alunos o contato com as perguntas ou os fenômenos para centrar o estudo nos dados, na terminologia e nas fórmulas. Quando isso ocorre, o ensino de Ciências, acaba se voltando apenas ao produto, e não ao processo que foi percorrido para chegar ao conhecimento dado. Assim, perde-se justamente o aspecto da ciência que a torna mais apaixonante. 
Trabalho com a ideia de que se pode fazer ciência explorando o que nos rodeia e buscando respostas para os fenômenos que vemos em toda parte. É possível desenvolver boas atividades com materiais muito simples, que os próprios alunos costumam ter em casa. Em Ciências, o mais importante é que os alunos compreendam os fenômenos, em vez de apenas saber como se chamam. Os nomes, embora importantes para a comunicação, são meras convenções. No entanto, o que vemos com mais frequência é que as aulas comecem exatamente ao contrário. O professor inicia perguntando às crianças: "O que é a força?" Depois, pede que procurem a definição no dicionário. Faz tudo isso sem ter exposto os estudantes a fenômenos em que há a interferência dessas forças - e aqui falo de fenômenos simples, como deixar cair um objeto e empurrar outro. O mais adequado, a meu ver, seria se basear na da observação do fenômeno em situações distintas - nesse exemplo, a observação das diversas forças, de diferentes intensidades, sobre o movimento dos objetos - para que os alunos comecem a sequência didática compreendendo do que se trata.
Os registros são importantíssimos. Aprender a pensar cientificamente tem tudo a ver com a capacidade de organizar nossas perguntas, ideias, hipóteses, dados e conclusões. Não há uma receita para decidir quando isso será necessário. O ideal é prever, no momento de planejar as aulas, quais situações são propícias para esse tipo de produção.

Comentários

  1. Muito mais do que respostas prontas é preciso estimular o gosto pela descoberta e pela pesquisa!

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