Editora dos EUA Contra a Ciência de Acesso Aberto

Em artigo publicado no jornal inglês The Guardian, Dr. Mike Taylor, pesquisador associado da Universidade de Bristol, discute a apresentação de um projeto de lei no Congresso dos EUA que proibirá as diretrizes de acesso aberto às publicações científicas por parte do National Institutes of Health (NIH).


Com um orçamento anual de 30 bilhões de dólares, o NIH estabeleceu diretrizes de acesso livre às suas publicações pelo fato de considerar que o contribuinte deve pagar apenas uma vez por elas – quando financia a pesquisa científica. Já o Reino Unido deverá adotar iniciativa similar à do NIH. O documento “Innovation and Research Strategy for Growth” afirma, em sua página 76, que o governo de verá assegurar que “publicly funded research should be accessible free of charge”.
As editoras de revistas científicas parecem estar contentes com o projeto apresentado no Congresso dos EUA. Preocupadas com o sucesso das revistas de acesso aberto, principalmente do sistema PLoS (Public Library of Science), que conseguiu um enorme sucesso com suas publicações científicas – publicar na PLoS ONE, por exemplo, custa a bagatela de US$ 1,350.00 por artigo – as editoras científicas trabalham duro para que a lei apresentada no Congresso norte-americano seja aprovada. Não só o NIH deverá cancelar sua política de acesso aberto. Qualquer outra agência federal que disponibilize suas publicações gratuitamente deverá seguir as novas normas se o projeto de lei for aprovado.
Quem ganha são as editoras. A Elsevier, por exemplo, teve lucros de US$ 1,138 bilhões em 2010. Como a editora é holandesa, dificilmente teria apoio de representantes americanos. Será? Parece não ser o caso, segundo Taylor. Nas eleições de 2012 a Elsevier fez doações para 31 candidatos ao Congresso norte-americano, democratas e republicanos.
Argumentando que praticamente todo o trabalho de elaboração e produção dos artigos é quase gratuito – desde a elaboração até a revisão por pares; apenas na fase final de elaboração das provas tipográficas o processo deixa de ser isento de custos – Taylor argumenta que tanto os autores quanto os revisores são financiados por recursos públicos nas suas instituições de origem, mesmo exercendo papel de editores de revistas.
Se qualquer pessoa não vinculada às instituições acadêmicas quiser ter acesso a artigos publicados nos periódicos, ou terá que pagar, ou terá que “conseguir” uma cópia de alguém que tenha acesso. Ironicamente o projeto de lei é apoiado até mesmo por editoras de revistas associadas à American Association for the Advancement of Science. O que, segundo Taylor, é um contra-senso.
Por aqui, podemos nos orgulhar. Todas as revistas brasileiras disponibilizadas no sistema Scielo são gratuitas e de acesso aberto. Mesmo as mais prestigiadas, como os Anais da Academia Brasileira de Ciências, Memórias do Instituto Oswaldo Cruz, o Journal of the Brazilian Chemical Society bem como a agora famosa Clinics. Este é um importante retorno para a sociedade, que pode ter acesso livre à quase totalidade das publicações científicas brasileiras, e muitas de outros países da América Latina e Portugal.

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