Evolução em Tempo Real

Geneticista usa a infecção pelo vírus HIV como exemplo de evolução por seleção natural em tempo real.

O médico-geneticista Dr. Sérgio Danilo Pena, professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) é responsável por uma série de estudos sobre a composição genética da população brasileira. Internacionalmente conhecido por seu talento e rigor científico, Danilo Pena escreveu durante 5 anos na coluna "Deriva Genética" criado por ele para a Ciência Hoje On-Line onde discutia temas de genética e evolução. A partir das crônicas científicas da coluna nasceu o brilhante livro de ensaios intitulado "A Flor da Pele- Reflexões de um Geneticista" (Ed. Vieira & Lent, 2007), do qual destaquei um tópico que dá o título a esta postagem.No capítulo 12 do livro (Darwin: o super-herói), o autor ao destacar a genialidade de Darwin, nos brinda com um exemplo magistral de como podemos contemplar a evolução por seleção natural em tempo real
Diz o professor Danilo Pena: "Muita gente pensa que evolução por seleção natural é algo hipotético, na qual a pessoa pode acreditar ou não. Pelo contrário, a evolução darwiniana hoje é uma verdade científica. Poucas teorias científicas conseguiram amealhar tanta evidência a seu favor. Em alguns casos, nós podemos observar a evolução darwiniana ocorrendo bem em frente dos nossos olhos!" E cita como exemplo a pandemia de Aids, um dos maiores flagelos atuais da humanidade. Segundo o geneticista, a Aids nos dá a oportunidade única de ver a evolução natural ocorrendo em tempo real porque o vírus causador da síndrome, o vírus HIV, replica-se com enorme rapidez e também porque a enzima responsável por isso, a transcriptase reversa, é predisposta a erros. Em conseqüência, o HIV está constantemente sofrendo mutações, gerando no paciente um enxame de variantes virais sujeitas às forças da seleção natural.
"Quando um medicamento anti-HIV entra na corrente sangüínea, a seleção natural favorece as variantes resistentes do vírus, que então sobrevivem, se multiplicam e passam a predominar em pouco tempo", explica Danilo Pena. " Este processo darwiniano é basicamente o mesmo que ocorreu nas centenas de milhões de anos da evolução da vida na terra, só que agora é medido em dias e horas. Não há desenho nem direcionalidade, apenas as forças combinadas do acaso e da necessidade gerando cepas cada vez mais resistentes."
Uma estratégia para tentar driblar esse processo de seleção é o uso concomitante de vários fármacos anti-retrovirais com alvos diferentes, a chamada terapia tríplice. Assim, para sobreviver, o vírus precisaria ter múltiplas resistências simultaneamente, o que é muito improvável. Mais recentemente passou-se a adotar o "tratamento de interrupções estruturadas" da Aids ao invés da terapia medicamentosa, pois foi constatado que na presença dos medicamentos as cepas resistentes predominavam, mas algumas cópias do vírus infectante original não-resistente (o chamado tipo selvagem) sobreviviam nos linfócitos. Ao suspender os medicamentos, a vantagem seletiva das cepas resistentes desaparece e o tipo selvagem, melhor adaptado a esse ambiente sem fármacos, começam a se replicar com enorme velocidade e logo substitui as mutantes resistentes. Como o próprio Dr. Sérgio Pena atesta, essa nova arma na guerra contra a Aids é alicerçado ortodoxamente em princípios darwinianos.

Para saber mais:
Deriva Genética - Coluna da CH On-Line entre fevereiro de 2006 e janeiro de 2011
A Genética e a Ancestralidade do Brasileiro- Blog Biorritmo (20/05/2010)
Darwin: o super-herói por Sérgio Danilo Pena
Pena,S. D.,2007. À flor da pele: reflexões de um geneticista. Rio de Janeiro: Vieira & Lent. 112 p.

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