Para Quem Não Sabe Quase Nada do Mar

Os oceanos têm papel essencial na regulação do clima e na produção de alimentos e riquezas, como o petróleo.No entanto, a ciência sabe pouco sobre eles. O Atlântico Sul, que banha o nosso litoral, é um dos menos conhecidos 

Os oceanos cobrem cerca de 70% da superfície do planeta, mas são ainda pouco conhecidos, sendo a última fronteira da Terra. Eles são sistemas naturais altamente produtivos. Reciclam continuamente compostos químicos, nutrientes e água.O ciclo hidrológico regido pelos mares  ajuda a regular o clima , absorvendo muito do calor do sol. O Oceano Atlântico é um dos grandes reguladores  do clima do mundo. É a Corrente do Golfo, por exemplo, que dá a países europeus temperaturas muito mais amenas do que as verificadas nas mesmas latitudes nos EUA e no Canadá. Graças a dados e imagens coletados nos últimos anos por satélites, a ciência começa a conhecer em detalhes o fundo dos oceanos.

Ao longo dos últimos 200 anos , os oceanos absorveram de 25% a 30% das emissões acumuladas de dióxido de carbono (CO2). Essa absorção altera o sistema dos mares, tornando-os mais ácidos. A acidez oceânica aumentou 30% desde a Revolução Industrial. A acidificação é uma ameaça ao esqueleto dos recifes de corais, pois a acidez corrói as conchas dos moluscos e mata os animais que se resguardam junto a eles.
Os oceanos absorveram 80% do calor acrescentado ao sistema climático mundial nos últimos séculos, aumentando sua temperatura de superfície. Mares mais quentes podem contribuir para o aumento da freqüência e intensidade de eventos como os ciclones tropicais. O aquecimento das águas também tem um impacto sobre a distribuição das espécies no mar.
Ao longo dos últimos 500 anos foi registrado um aumento alarmante das chamadas zonas mortas dos oceanos, lugares onde não há oxigênio e, portanto, não existe vida. Eram menos de 40 áreas registradas até os anos 60 e, hoje, são 485. Nenhuma ameaça aos ecossistemas marinhos cresceu tão depressa e em tão puco tempo. Cientistas creditam o problema ao despejo de aditivos químicos usados na agropecuária nas águas.
Também nas últimas cinco décadas, o nível do mar aumentou, em média, 1,8 milímetro ao ano. Mas, de 2003 a 2007, a elevação foi de 2,5 milímetros anuais indicando tendência de aumento. A elevação é conseqüência direta do aquecimento global e do derretimento de camadas de gelo na Groenlândia e em partes da Antártica. Teme-se que, se nada for feito, a elevação possa chegar a até 1 metro em 2100, colocando em riscos cidades costeiras.
Produtos químicos, esgoto, resíduos sólidos, nutrientes usados na agricultura, plástico. A poluição marinha se apresenta nas mais diversas formas. 46 mil pedaços de plásticos podem ser encontrados em cada 2,6 quilômetros quadrados de mar  Há ainda a chamada poluição biológica, formada por espécies invasoras. O resultado de tal mistura ainda é desconhecido, segundo os cientistas, mas deve ter um grande impacto nos ecossistemas.
Segundo o Programa das Nações Unidas para a Alimentação (FAO, na sigla em inglês), 85% dos estoques  de peixe estão, em algum lugar, explorados além do que seria recomendável. Competição e tecnologia cada vez mais sofisticada têm aumentado a quantidade de pescado capturado, chegando a 2,5 vezes do nível de sustentabilidade. Os peixes são uma importante fonte de alimento para a humanidade. Eles representam de 15% a 20% da ingestão de proteína de 4,5 bilhões de pessoas. 
O pouco conhecimento sobre os oceanos é em parte explicado pela dificuldade de acesso. Fábio Lang da Silveira, professor do Instituto de Biociências da USP, atribui a falta de estudos à necessidade de alta tecnologia para realizar estes levantamentos. A grande barrreira sempre foi, e continua sendo, o custo elevado com equipamentos, mão de obra especializada e custos operacionais com navios e submersíveis de pesquisa.
Fonte: Caderno Planeta Terra do Jornal O Globo (edição de 03/04/2012)

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