Mais Bactérias Que Células Humanas

Corpo humano abriga quase 10 mil espécies de micróbios. Projeto fez primeiro mapa de microrganismos que 'colonizam' o homem. Conhecer as diferenças entre o microbioma de pessoas saudáveis e doentes pode levar a novos medicamentos

Os seres humanos são verdadeiros ecossistemas sobre duas pernas, pois cada pessoa carrega uma quantidade de  micróbios 10 vezes maior que o total de células humanas.  O corpo humano adulto e saudável abriga dez vezes mais micróbios que células humanas e esse contingente inclui arqueobacterias (bactérias primitivas), vírus, bactérias e micróbios eucarióticos (que têm o material genético envolto por membrana). O conjunto do genoma desses organismos é muito maior do que o humanoNa visão dos cientistas, identificar os números assombrosos de bactérias e outros micróbios que vivem dentro e em nossos corpos é como explorar um novo planeta.
O Projeto Microbioma Humano (The Human Microbioma Projeto Consortium  ou HMP, em inglês)), financiado pelos Institutos Nacionais de Saúde dos EUA (NHI, em inglês)  é uma colaboração entre os maiores centros de sequenciamento e dezenas de outras instituições de pesquisa de vários países. No projeto, participaram quase 80 instituições de pesquisa multidisciplinar que trabalharam durante cinco anos com um subsídio de 153 milhões de dólares (cerca de 206 milhões de reais).  O Projeto anunciou os resultados em vários artigos publicados nas revistas Nature e Public Library of Sciences(PLoS).
As pesquisas usaram técnicas de sequenciamento de DNA para identificar os microrganismos e mostrar sua diversidade e abundância nos seres humanos, além de suas funções no corpo. Os microrganismos analisados foram retirados de 242 homens e mulheres. A coleta foi feita em diferentes partes do corpo, como pele, boca, intestino e vagina.
Até então, só as bactérias do trato gastrointestinal haviam sido catalogadas pelo projeto MetaHIT, que envolve oito países. Os pesquisadores concluíram que quase 10 mil espécies de microrganismos perfazem as comunidades ecológicas no nosso corpo.Eles também mostraram que cada parte do corpo tem uma população diferente de micróbios, cada uma com sua função -no caso do intestino, os microrganismos ajudam a digerir os alimentos.
O projeto mostrou ainda que cada pessoa tem um microbioma único, com tipos e quantidades diferentes de bactérias para realizar o mesmo trabalho. Uma quantidade alta ou baixa da mesma bactéria não quer dizer que uma pessoa seja mais ou menos saudável. James Versalovic, pesquisador do projeto e chefe do departamento de patologia do Texas Children's Hospital, nos EUA, afirma que a maioria dos micróbios no corpo não causa doenças. "Esperamos que com esses dados as pessoas fiquem menos paranoicas e não usem antibióticos ou sabonetes bactericidas para tudo. Interferir no equilíbrio do microbioma pode causar mais danos que benefícios."
Versalovic diz que definir o microbioma de um adulto saudável e saber quais são e o que fazem os micróbios que habitam o ser humano era o primeiro objetivo do Projeto Microbioma Humano. Agora, com o material genético proveniente de comunidades completas de micróbios, os próximos passos serão comparar os micróbios de pessoas saudáveis com os de doentes para entender como os problemas se desenvolvem e criar novas drogas.
Um dos estudos do MetaHIT já mostrou que quem tem menor diversidade de bactérias na flora intestinal tende a ser obeso, a ter mais gordura no fígado e responder pior a dietas. "Essa é só a ponta do iceberg. O interessante será observar como os dois genomas -o humano e o dos microrganismos- interagem", diz Vasco Azevedo, professor do Instituto de Ciências Biológicas da UFMG.

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