Um Panorama Ambiental Global



Relatório da ONU dispara alarme ambiental antes da Rio+20.  Documento revela que das 90 metas e objetivos ambientais de referência mundial, só houve progresso significativo em quatro.


O acelerado crescimento demográfico e o consumo desenfreado estão levando a uma destruição "sem precedentes" da Terra, alertou no dia 6 de junho de 2012 o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), às vésperas da Conferência sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio+20).
O documento Panorama Ambiental Global 5 (Geo-5) - 5º relatório do PNUMA sobre "O futuro do meio ambiente mundial" - pede uma transformação nos rumos da humanidade, para evitar o desastre para o qual o futuro parece apontar, além de destacar a responsabilidade dos governos. O texto - compilado por mais de 600 especialistas - constata que, das 90 metas e objetivos ambientais de referência, só houve progresso significativo em quatro.
"Se as estruturas atuais de produção e consumo dos recursos naturais seguem prevalecendo, e não se faz nada para reverter a tendência, os governos deverão assumir a responsabilidade de um nível de deterioração e de impacto sem precedentes no meio ambiente", advertiu o chefe do Pnuma, Achim Steiner.
Mas o relatório afirma que há esperança, e ainda é possível obter crescimento econômico favorável ao meio ambiente, apesar dos desafios da população humana crescente, expansão da urbanização e o apetite insaciável por alimentos e recursos.
O documento, do tamanho de uma lista telefônica, foi divulgado duas semanas antes da maior cúpula do mundo sobre o meio ambiente em anos, no Rio de Janeiro, e 20 anos após o importante encontro do Rio em que três tratados ambientais da ONU foram adotados, incluindo o Protocolo de Kyoto.
 Segundo o Geo-5, foi feito progresso significativo para eliminar a produção e utilização de produtos químicos que destroem a camada de ozônio, remoção do chumbo dos combustíveis, aumento do acesso a fontes melhoradas de água e mais pesquisas para reduzir a poluição do ambiente marinho.
A redução dos riscos de saúde alcançada pela eliminação progressiva dos combustíveis à base de chumbo tem benefícios econômicos estimados em 2,45 trilhões por ano, ou aproximadamente 4% do PIB global. O avanço evitará milhões de casos de câncer de pele até 2050 e outros milhões de casos de catarata até 2100.
Também houve progressos nas pesquisas para reduzir a contaminação dos mares, que continua, no entanto, sendo dramática e provoca, entre outras questões, uma grave deterioração dos recifes de coral.
O informe aponta pequenos progressos em 40 objetivos ambientais da ONU, por exemplo, no aumento de áreas protegidas, como parques nacionais, e uma redução do desmatamento, que caiu de 16 milhões de hectares por ano na década de 1990 para 13 milhões nos anos 2000-2010.
Na América Latina foram promovidas políticas de redução da destruição da Amazônia, indica o documento, que comemora o fato de países como a Colômbia tenham desenvolvido um sistema de transporte coletivo que ajuda a reduzir as emissões de gases com efeito estufa, contribuindo, dessa forma, a diminuir as mudanças climáticas.
De acordo com os modelos atuais, as emissões de gases de efeito estufa podem dobrar nos próximos 50 anos, levando a um aumento na temperatura global de 3ºC ou mais até o final do século. Perdas na agricultura, danos de eventos climáticos extremos e os maiores custos de saúde vão reduzir o PIB global.
A região da Ásia-Pacífico vai contribuir com cerca de 45% das emissões de CO2 globais relacionadas à energia até 2030 e por volta de 60% das emissões globais até 2100, num cenário normal.
China, Índia e Coreia do Sul estão promovendo energia renovável e eficiência energética e concordaram com metas voluntárias de redução de emissões, em uma virada positiva em relação a uma energia mais verde.
Cerca de 20% das espécies de vertebrados estão ameaçadas. O risco de extinção está aumentando mais rápido para os corais do que para qualquer outro grupo de organismos vivos, com a condição dos recifes de coral declinando 38 por cento desde 1980. Contração rápida é projetada até 2050.
Os estoques de peixes diminuíram a uma taxa sem precedentes nas últimas duas décadas. A pesca mais do que quadruplicou desde os anos 1950 a meados dos anos 1990 e se estabilizou ou diminuiu desde então.
Mais de 600 milhões de pessoas devem ficar sem acesso a água potável até 2015, enquanto mais de 2,5 bilhões de pessoas não terão acesso a saneamento básico.
Desde 2000, os reservatórios de água subterrânea se deterioraram ainda mais, enquanto o uso mundial de água triplicou nos últimos 50 anos.
O relatório identificou o oeste da Ásia entre as regiões de maior preocupação com escassez de água e uso eficiente da água. Mesmo com a demanda por água crescendo, os recursos hídricos renováveis per capita na região irão diminuir em mais da metade até 2025, sugerindo que mais usinas de dessalinização que usam muita energia serão necessárias.
O número de zonas costeiras mortas aumentou dramaticamente nos últimos anos. Das 169 zonas costeiras mortas no mundo todo, apenas 13 estão se recuperando.
A perda anual de florestas caiu de 16 milhões de hectares na década de 1990 para cerca de 13 milhões de hectares entre 2000 e 2010. É o equivalente a uma área do tamanho da Inglaterra sendo derrubada anualmente.
Europa e América do Norte estão consumindo os recursos do planeta a níveis insustentáveis.
O consumo também aumentou na região da Ásia-Pacífico, que ultrapassou o restante do mundo para se tornar o maior usuário único dos recursos naturais. Um estudo separado da ONU descobriu que o consumo de materiais na região mais que dobrou de 17,4 bilhões de toneladas em 1992 para mais de 37 bilhões de toneladas em 2008.
O desafio que aguarda os delegados na Rio+20 é imenso: segundo dados da ONU, a demanda global de alimentos terá aumentado cerca de 50% em 2030, a de água, 30%, e a de energia, em torno 45%, em um contexto de aumento da temperatura do planeta e da desigualdade.
A população mundial dobrou desde 1950, chegando a sete bilhões de habitantes, e alcançará 9,5 bilhões em 2050. Diante desta realidade é necessário incentivar um desenvolvimento que satisfaça as necessidades dos que habitam a Terra sem comprometer a sobrevivência das gerações futuras, insiste o organismo da ONU.
O crescimento demográfico e o enorme desenvolvimento de algumas economias, como a chinesa, "estão pressionando os sistemas do meio ambiente a limites desestabilizadores", afirma o documento.
Além disso, os padrões atuais de consumo, sobretudo no Ocidente, não são sustentáveis, salienta o informe, que convida os participantes da cúpula no Rio a mudar o destino da economia, definindo orientações para os próximos 20 anos a fim de evitar a catástrofe.
O relatório disse que há necessidade de metas claras, de longo prazo para o desenvolvimento e o meio ambiente e de uma responsabilidade mais forte nos acordos internacionais.
O Geo-5 aponta que as metas com objetivos específicos e mensuráveis tiveram mais sucesso, como as proibições a substâncias que destroem o ozônio e o chumbo na gasolina.
O relatório também diz que é crucial para os governos colocarem um valor sobre os recursos naturais, tais como manguezais, rios e florestas e incluir isso nas contas nacionais.
Steiner pediu uma ação dos países. "Chegou o momento de acabar com a paralisia da indecisão, reconhecer os fatos e encarar a humanidade comum que une todos os povos."
Uma melhora no cumprimento e reforço das medidas, incluindo tribunais ambientais, também é necessária, juntamente com a gestão da poluição marinha regional e melhor coleta de dados sobre poluição da água e melhores ferramentas de gerenciamento de água.
Fonte: Portal Terra

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