Mistério no Desaparecimento das Abelhas

Abelhas de várias espécies estão desaparecendo misteriosamente e os cientistas não sabem por quê. Parte delas morre e parte simplesmente desaparece, deixando para trás polinização, mel e tudo o mais que produzem. O intrigante é que não se veem abelhas mortas nem dentro nem ao redor das colmeias.

O desaparecimento de abelhas de várias espécies vem preocupando pesquisadores no mundo todo. O fenômeno tem forte impacto na produção agrícola e na segurança alimentar, pois leva ao aumento do custo dos alimentos e ameaça a viabilidade de culturas. Prestadoras de inestimáveis serviços ambientais, as abelhas respondem pela polinização de 71 dos 100 tipos de colheita que alimentam e vestem a humanidade, segundo relatório da ONU de 2010. Entre essas culturas estão as de amêndoas, frutas (incluindo cítricos), verduras, algodão, sementes de forrageiras, como alfafa, e oleaginosas, como girassol e canola.
Além de polinizadores, os insetos ainda fornecem mel, geleia real, própolis, pólen e cera. Até mesmo seu veneno é remédio para artrite, reumatismo e esclerose múltipla. Usado em alguns países, como a Coréia do Sul, o veneno é aplicado no paciente usando-se a própria ferroada da abelha.
O declínio da população de abelhas foi notado nos EUA em 2006, e denominado Colony Collapse Disorder (Desordem de Colapso da Colônia). Desde então, atingiu toda a América, regiões da Europa, o Oriente Médio e a Ásia. As causas propostas são diversas: inseticidas e fungicidas, déficit nutricional associado à falta de flora natural, mudanças climáticas, manejo intensivo das colmeias, baixa variabilidade genética, vírus, fungos, bactérias e ácaros – juntos ou separadamente. Até a emissão eletromagnética de celulares já foi investigada, sem evidências.

Pesquisas revelam vínculos entre o desaparecimento e a proliferação de pesticidas, que infligem danos à capacidade de navegação dos insetos. “Os pesticidas são uma causa de perdas importantes, com certeza”, afirma o geneticista David De Jong, professor da Faculdade de Medicina da USP de Ribeirão Preto (SP) O fato é que, com os novos inseticidas do grupo dos neonicotinoides, estamos definitivamente perdendo muitas abelhas Apis mellifera e muitas espécies de abelhas nativas”, adverte o pesquisador, doutorado pela Universidade de Cornell (EUA).
Uma pesquisa recente, realizada na Universidade de Stirling (Inglaterra) pela equipe do professor David Goulson, comprovou que os neonicotinoides, associados a parasitas e à destruição de habitats ricos em flores de que as abelhas se alimentam, são as principais razões para a perda das colônias. Embora a indústria de agrotóxicos e o governo inglês neguem os danos causados aos insetos, os neonicotinoides, largamente usados na Europa no fim dos anos 1990, já foram proibidos na Alemanha, na França e na Itália. Nos EUA, estão associados ao cultivo do milho.
No Brasil, desde 2007 há relatos de apicultores sobre a mortalidade súbita de abelhas, no Piauí, Rio Grande do Sul, Minas Gerais e São Paulo. Uma causa é a exposição a pesticidas em plantações de laranja, cana-de-açúcar e soja. “Os laranjais, que já foram importante fonte de néctar para a produção de mel, são hoje perigosos, dada a quantidade de agrotóxicos usada em razão de doenças como o greening”, diz De Jong, que trabalha com abelhas desde os 12 anos. “Novos patógenos recém-descobertos no país também têm sido encontrados em amostras de apiários onde houve perda expressiva de colmeias.”
A exemplo dos EUA, também no Brasil alugam- se colmeias para polinizar culturas, como a da maçã no Sul e a do melão no Nordeste. Mas já em 2011 se verificou falta de abelhas para polinizar maçãs em Santa Catarina. O mesmo já ocorre com o pepino, o melão e a melancia. Por polinização insuficiente, nascem frutos com formato e sabor alterados. Pela mesma razão, tem havido perda de produção desses e de outros alimentos, como laranja, algodão, soja, abacate, café. “Através de experiências controladas, verificamos que onde colocamos mais abelhas aumenta a produção. Na cultura de maracujá estão tendo de polinizar com a mão, por falta de abelhas”, informa De Jong.
No Brasil há muitas espécies de abelhas nativas sociais, sem ferrão, e várias produzem mel. Mas não têm mais onde viver em grande parte do país, e muitas já desapareceram”, diz David De Jong. O professor Osmar Malaspina também alerta: “A relação entre abelha e floresta é tão intrínseca que, se as abelhas desaparecerem, a floresta terá sua capacidade de produzir sementes férteis reduzida. Só sobreviverão as espécies cujas flores aceitarem mecanismos de polinização ou outros polinizadores”. Mas, além das abelhas, polinizadores como borboletas, mariposas, morcegos e pássaros, como o beija-flor, também correm perigo.
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