Potencial Biotecnológico: O Conflito Amazônico

A Amazônia abriga a maior biodiversidade do planeta. Só que a ciência e as empresas não sabem ainda como explorar o imenso potencial biotecnológico da região

O Brasil é o país com a maior biodiversidade do mundo e a região amazônica abriga muitos de seus tesouros biológicos. Há 85 mil espécies descritas (43% do total do país), o que representa apenas uma pequena parte do potencial estimado para a região. A flora, a fauna, os fungos e os micro-organismos da florestas são vistos como matéria-prima para a produção de remédios e alimentos. Só que toda essa riqueza não valera nada, caso não seja estudada pela ciência. A Amazônia ocupa 61% do território nacional, mas absorve apenas 4% dos doutores  e grupos de pesquisa do país. Por outro lado, existe pesquisa de qualidade na região, mas não há escala para o desafio econômico e as oportunidades que a região representa para o país.
Transformar pesquisa em dinheiro e tirar a Amazônia do limbo científico não são tarefas fáceis. É necessário conciliar interesses muitas vezes conflitantes. Os cientistas estão empenhados em superar a fronteira do conhecimento. Os empresários apostam na biodiversidade como fontes de lucros. E as comunidades locais dependem da natureza para sobreviver. São interesses que envolvem cifras atraentes. Só na última década, o Museu Goeldi, instituição vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), descreveu 130 novas espécies, entre plantas, animais e fungos.
Superar o desafio da biotecnologia vai muito além da identificação de novas espécies. É preciso isolar o princípio ativo (a substância que confere ação de interesse para a produção de fármacos, por exemplo) e descobrir onde aplicá-lo. Criado em 2002, o Centro de Biotecnologia da Amazônia (CBA) precisou de uma década para clonar as mudas do curauá, uma planta amazônica da família das bromeliáceas, cujo fruto se parece muito com o abacaxi. A clonagem é uma etapa obrigatória para garantir a produção em larga escala para a indústria. Amargo demais para virar suco, o curauá entrou no radar dos cientistas após a descoberta do potencial econômico das fibras de suas folhas. Além de servir para revestimento de colchões e foro de carros, as folhas do curauá podem entrar na cadeia produtiva de celulares e equipamentos eletrônicos em substituição à fibra de vidro. resta agora atrair parcerias estratégicas. Ou seja, encontrar empresários que acreditem no potencial da fibra amazônica e de outro, rastrear comunidades locais dispostas a plantar as mudas.
Passados dez anos desde a inauguração do CBA, os projetos ambiciosos elaborados no âmbito da instituição minguaram. Nenhuma patente foi registrada e o centro não tem personalidade jurídica própria, o que o impede de contratar cientistas diretamente. E pior: os recursos do CBA são originários somente dos impostos pagos pelas 600 empresas da Zona Franca de Manaus (Suframa).
Para evitar a paralisia, driblar a burocracia e impedir que o CBA virasse um elefante branco, a saída foi se aproximar do setor privado e se submeter as regras de mercado. O sigilo passou a ser exigido nas pesquisas em andamento e as equipes de cientistas mudaram a dinâmica de trabalho.
Os parceiros privados hoje respondem por 72% do orçamento do CBA, que é de 102 milhões. e como todos trabalham numa espécie de linha de produção, os 64 cientistas do CBA estão espalhados pelos 16 laboratórios do centro e envolvidos em diferentes projetos, dos fitoterápicos, passando por sais, açúcares e corantes. A regra do silêncio não pode ser quebrada jamais. O centro é o fiel depositário do patrimônio genético conferido pelo Conselho Gestor do Patrimônio Genético (CGEN).
Só que para explorar o patrimônio genético amazônico é preciso contar com o apoio logístico das comunidades ribeirinhas. São elas que garantem a produção em larga escala industrial.  algumas experiências bem sucedidas indicam que a parceria entre os cientistas, os empresários e as comunidades é possível.
Os estudos sobre a valorização da floresta ainda estão engatinhando e precisam incluir o potencial madereiro e de serviço ambiental. iIsso significa a inclusão da proteção dos mananciais, a polinização, a dispersão de sementes e os potenciais turistíco e biotecnológico.
Fonte: Revista O Globo Amanhã (edição do dia 07/08/2012)

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