De Olho na Vida dos Insetos

Pesquisadores brasileiros buscam no estudo dos hábitos e comportamentos dos insetos pistas para a descoberta de novas pesquisas nas áreas de saúde e da agropecuária.

Habitantes da terra bem mais antigos que o homem, os insetos vivem no planeta há mais de 300 milhões de anos. Conhecer seus hábitos e, principalmente, sua fisiologia tem sido a base para que pesquisadores cheguem a importantes descobertas. Uma das mais recentes mostra que é possível impedir que o mosquito Aedes egypti transmita o vírus da dengue a humanos. Como revelou o pesquisador Luciano Moreira, do Centro de Pesquisas René Rachou, da Fundação Oswaldo Cruz de Minas Gerais (Fiocruz Minas), para isso, basta inocular no mosquito uma cepa da bactéria Wolbachia. A descoberta é uma das diversas pesquisas em andamento do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Entomologia Molecular (INCT-EM), sediado na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Mesmo em áreas distantes da saúde, os insetos podem ter um papel de enorme importância. Os cupins, por exemplo, podem ser bons auxiliares em projetos do setor de geração de energia. É nesse sentido que os pesquisadores Fernando Genta e Elói Garcia, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), em parceria com o Centro de Pesquisas da Petrobras (Cenpes) e do Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro), estão estudando cupins brasileiros –insetos capazes de degradar celulose para chegar a uma tecnologia que permita extrair energia do bagaço da cana. “Como se sabe, 70% da energia existente na cana-de-açúcar estão contidas no bagaço e hoje não são utilizadas como fonte de energia. Se chegarmos a um mecanismo que consiga digerir as fibras de celulose desse material, convertendo-o em açúcar, isso permitiria expandir de forma significativa a produção de energia, sem necessidade de aumentar a produção de cana”, como explica o coordenador do INCT Pedro Lagerblad.
O próprio Lagerblad, por sinal, direciona seus estudos ao metabolismo de invertebrados hematófagos, ou seja, aqueles que se alimentam de sangue, como os barbeiros, os carrapatos e os mosquitos. Mais especificamente, Lagerblad procura entender como, nesses animais, atua a produção de radicais livres diante de agressões externas. O que tanto serve para compreender o mecanismo nos insetos, carrapatos ou em seres humanos. “Invertebrados hematófagos digerem hemoglobina, gerando moléculas que aumentam a produção de radicais livres. Para manter equilibrada a produção de radicais livres que acontece naturalmente no organismo, essa produção é reduzida quando há digestão da hemoglobina – um dos fatores que levam ao aumento da produção de radicais livres.” 
E por que entender tudo isso é importante? Simples. Porque a compreensão desses processos pode fazer com que se chegue, no caso dos barbeiros, por exemplo, a uma forma de evitar a transmissão do Trypanosoma cruzi e, consequentemente, da doença.de Chagas. “Entender quais os genes são importantes na interação do barbeiro com o T. cruzi, compreender como o parasita passa toda a vida no trato intestinal do inseto, e como as células do T. cruzi e do barbeiro convivem sem conflito tanto pode levar a terapêuticas mais eficazes como a formas de evitar a infecção humana.” Segundo Lagerblad, estudar os genes envolvidos na produção de radicais livres nesses insetos é um meio para se descobrir formar de interferir nesses mesmos genes e, assim, evitar a transmissão do Trypanosoma.
Outra pesquisa importante relacionada a controle de insetos – neste caso, realizada por Walter Terra, do Instituto de Química da USP – envolve um tipo de lagarta, a Diatrea saccharalis, vulgarmente conhecida como “broca da cana”. Estudando as enzimas digestivas da Diatrea, o grupo da USP percebeu que elas podiam ser inibidas por proteínas presentes em outras plantas, como o feijão de soja. Motivo mais que suficiente para os pesquisadores pensarem em introduzir o gene da soja justamente nas plantas atacadas pela  lagarta, como a cana-de-açúcar. “Estaríamos produzindo uma planta geneticamente modificada, mais resistente a pragas como essa, e, com isso, diminuindo drasticamente o uso de agrotóxicos nas plantações. 
Ou seja, um emprego ecologicamente correto”, ressalta Lagerblad. Já testada e aprovada em testes de laboratório, a próxima etapa é proceder a experiências de campo.

Adaptado de matéria da revista Rio Pesquisa da Faperj (Nº18, março de 2012)

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