Fim Do Reinado Absoluto Nos Formigueiros

Estudo realizado por pesquisadores do Instituto de Biologia da Unicamp demonstra que formigueiros de uma determinada espécie de formiga da Ilha do Cardoso (SP) podem ter até 12 rainhas por colônias 

O imaginário popular de que um formigueiro é composto por uma única rainha, que reina pacificamente sobre um exército de operárias, está longe da realidade das colônias da espécie Odontomachus hastatus.

Estudos realizados por pesquisadores do Instituto de Biologia (IB) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) demonstram que colônias dessa espécie de formiga podem ter mais de uma rainha, que, com a escassez de lugares adequados para fundar colônias, fazem alianças para garantir sua sobrevivência e formar o maior exército possível de operárias. Após consolidar a colônia, porém, elas estabelecem uma hierarquia, por meio de lutas ritualizadas, na qual uma se sagra a rainha-alfa e assume a tarefa de pôr a maior quantidade de ovos.
As rainhas perdedoras se tornam subalternas e, apesar de também serem fecundadas, são obrigadas a pôr menos ovos do que a rainha-alfa e a desempenhar a função de operárias.
“Quando pensamos em uma colônia de insetos sociais, como as formigas, que vivem em ninhos, é comum achar que se trata de uma organização harmônica, na qual há uma divisão bem definida de trabalho em que uma única rainha tem função reprodutiva. É contra nossa intuição imaginar que, em um formigueiro, existam alianças seguidas de conflitos nos quais uma formiga rainha bate na outra de forma ritualizada e a inibe de se reproduzir para se tornar a rainha-alfa, como pudemos observar durante a série de estudos”, disse Paulo Sérgio Oliveira, professor do IB e coordenador do projeto, à Agência FAPESP.
Oliveira e seu grupo estudaram nos últimos anos diversos ninhos de formigas da espécie O. hastatus no Parque Estadual da Ilha do Cardoso, litoral sul de São Paulo.
Uma das constatações feitas em coletas em campo para um estudo de mestrado, realizado com Bolsa da FAPESP, foi que a maior parte das colônias de formigas dessa espécie, existentes e analisadas no Parque Estadual da Ilha do Cardoso, tinha entre duas e 12 rainhas capazes de pôr ovos. A descoberta foi publicada no final de 2011 em um artigo na revista Insectes Sociaux.
Ao analisar estudos realizados em 2007 por pesquisadores do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade de Toulouse, na França, na Reserva Natural de Nourages, na Guiana Francesa, com a mesma espécie de formiga, os pesquisadores brasileiros observaram que os colegas franceses não encontraram nenhuma colônia do inseto com mais de uma rainha no país sul-americano.
A fim de tentar entender por que o comportamento e a formação de colônias de formigas de uma mesma espécie varia de um lugar para o outro, entre 2011 e 2012 os pesquisadores dos dois países realizaram uma pesquisa comparativa no âmbito de um acordo entre a FAPESP e o Centro Nacional de Pesquisa Científica (CNRS, em francês) da França.
O estudo, que também é parte de um Auxílio à Pesquisa Regular da FAPESP, revelou que formigas da espécie Odontomachus hastatus adotam comportamentos e estratégias sociais adaptadas a diferentes circunstâncias ecológicas para assegurar sua sobrevivência.
“É raro observar um inseto social utilizando estratégias de comportamento variadas em dois lugares com circunstâncias ecológicas e geograficamente diferentes, como foi possível verificar por meio do projeto”, disse Oliveira.

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