Morcegos Que São a Cara da Evolução

 As diferentes faces dos morcegos nariz-de-folha que habitam o continente americano são resultantes de um processo evolutivo de seus hábitos alimentares iniciado há milhões de anos

A bióloga Betsy Dumont e seus colaboradores resolveram estudar a estrutura da face dos morcegos nariz-de-folha do continente americano e relacioná-las com as adaptações alimentares desses animais ao longo do tempo. A matéria saiu na Popular Science este mês e é muito interessante. A maioria dos morcegos-nariz-de-folha são insetívoros, mas eles oferecem grandes exemplos de radiação adaptativa em mamíferos - bem como os tentilhões-de-Darwin das Ilhas Galápagos - cujos bicos variados oferecem uma bela visão do trabalho da seleção natural.
Morcegos trazem uma variedade deslumbrante de formas e tamanhos, o que representa uma das mais amplas variações entre todos os mamíferos - especialmente os morcegos nariz-de-folha do Novo Mundo. Estas criaturas são reconhecidas pelos apêndices semelhantes a chifres situados em seus focinhos. Estes apêndices são chamados de folha nasal e são responsáveis pela modificação das chamadas nasais de ecolocalização dos morcegos.
Algumas folhas nasais são atarracadas e largas, enquanto outras são pontudas como o chifre dos unicórnios. Alguns morcegos têm faces carnudas planas, enquanto outros têm focinhos graciosamente compridos; alguns têm pequenos olhos redondos e outros têm grandes olhos amendoados; alguns têm mandíbulas arredondadas, sorridentes e outros têm a fisionomia amassada igual ao de um buldogue ou de um boxeador que levou uma surra.   
A maioria dos morcegos nariz-de-folha vivem em florestas, mas também possuem algumas espécies que vivem no deserto. São encontrados em maior número de espécies em florestas tropicais de baixa altitude no norte da América do Sul e na América Central. Eles variam em tamanho de cerca de uma polegada e meia até seis polegadas de comprimento,e - ao que parece- evoluíram para comer tudo o que a natureza tem para oferecer: insetos, frutas, néctar, pólen, sapos, morcegos e até sangue ( a família Phyllostomidae inclui morcegos-vampiros). 
No estudo em questão, a equipe de Dumont queria descobrir quais fatores biomecânicos estariam por trás da evolução dessa aparência maluca das faces dos morcegos e do formato de suas cabeças. Eles queriam construir modelos de engenharia que pudessem simular as forças de tensão - ou seja, as forças que uma estrutura pode suportar - e a vantagem mecânica para cada face de morcego na história evolutiva desses animais. Inicialmente, eles fizeram uma tomografia computadorizada do crânio de um tipo mais comum de morcego e foram modificando-a, por meio de um programa especializado de computador, até chegar na criação de modelos de todos os comprimentos e larguras possíveis de mandíbulas. Em seguida, os biólogos calcularam os valores numéricos para a tensão e a vantagem mecânica entre todos esses modelos.
Para a realização do trabalho, Dumont e sua equipe capturaram morcegos na floresta tropical usando redes de neblina e os fizeram morder um pequeno aparelho para medir a força de sua mordida. Depois, combinaram análise de engenharia com evolução para desvendar, principalmente, qual seria a vantagem mecânica (em termos de seleção natural ) da capacidade da mordida de um morcego.
Segundo a bióloga, a seleção natural favoreceu três formas básicas de faces para os morcegos nariz-de-folha: comprida e fina; curta e larga e uma forma"intermediária" entre as duas. Morcegos com faces curtas e largas se especializaram em comer frutos muito duros, como figos selvagens. Animais com focinhos compridos e finos conseguem encaixá-los perfeitamente em flores profundas em busca do néctar. E, claro, há um tipo isolado: os morcegos-vampiros, que são consideradas "um pouco estranhos.", apesar de sua mordida apresentar uma vantagem mecânica relativamente alta. Além da particularidade encontrada na força mandibular dos vampiros , os resultados mostraram que a vantagem mecânica foi mais importante do que a força estrutural na evolução das diferentes faces de morcegos.
"Até certo ponto, existe uma compensação entre as duas formas básicas" diz a pesquisadora. Embora aqueles que se alimentam de néctar possuam uma vantagem mecânica ruim em relação aos de focinhos curtos, eles também são realmente muito tensionados. No outro extremo do espectro, os animais com faces supercurtas têm uma excelente força de mordida, mas estão submetidas também a algum tipo de tensionamento, esclarece a bióloga.

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