A Sexta Onda de Extinção em Massa se Aproxima

Angalifu, um rinoceronte branco do norte, tinha 44 anos quando morreu no zoológico de San Diego, nos EUA. Agora, só restam outros 5 de sua espécie no mundo. O drama do animal, ameaçado de extinção por causa da caça que busca seus chifres valiosos e das guerras na África, que dizimaram seu habitat, é compartilhado por pelo menos outras 4 529 espécies próximas de desaparecerem da superfície da Terra, de acordo com a União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN).


Extinção é um processo natural da Terra. Em nossa história, enfrentamos cinco: a última foi a que acabou com os dinossauros, há 65 milhões de anos. De todas as espécies que já povoaram a superfícies, 90% foram extintas. A biologia não é uma ciência exata, mas sua regra é que todas as espécies conhecidas irão, um dia, desaparecer. No planeta, o tempo de duração de uma espécie varia de acordo com suas características, mas segue uma média de 1 a 2 milhões de anos. No entanto, nos dois últimos séculos, a taxa de extinção considerada natural aumentou por volta de 100 vezes. E a previsão, para o futuro, é que seja multiplicada por dez.
No total, de acordo com uma ampla análise publicada pela revista Nature este mês, 41% dos anfíbios, 26% dos mamíferos e 13% dos pássaros do planeta podem sumir nos próximos anos. Desde 1500, 765 espécies foram dissipadas do globo. No Brasil, são 1 173, segundo o último estudo  do Ministério do Meio Ambiente, divulgado recentemente.
“Desde que o homem moderno surgiu, as taxas de extinção aumentaram exponencialmente. Os registros fósseis mostram que, antes de nós, elas eram muito menores e podemos traçar com exatidão quando foram os picos de extinção e como algumas espécies desapareceram, com suas causas e consequências”, explica o português Henrique Miguel Pereira, professor do Centro Alemão de Pesquisa Integrativa da Biodiversidade, em Leipzig, e uma das autoridades mundiais em biodiversidade. “A grande questão que nos assombra é que esse desequilíbrio pode levar a graves consequências para nós. Pode estar por trás de grandes epidemias. Mas não estamos falando de extinções relâmpago, ou seja, podemos agir para mudar essa história.”
A análise da Nature, que reuniu os últimos dados da lista de espécies ameaçadas da IUCN ( União Internacional para a Conservação da Natureza, em português) aos mais recentes estudos sobre extinção, menciona os grandes buracos no conhecimento da biodiversidade como uma das maiores dificuldades para a proteção das espécies. O relatório da IUCN avaliou 76 000 espécies, apenas 4% das mais de 1,7 milhões de espécies descritas até hoje. De acordo com as estimativas, entretanto, pode haver entre 2 milhões e 11 milhões de animais povoando o globo.
“É um trabalho imenso conhecer todas as espécies que habitam a Terra e não estamos nem perto de saber tudo o que precisamos. Isso significa que, provavelmente, há muito mais espécies em risco do que imaginamos. Não protegemos algumas delas porque sequer sabemos que estão ameaçadas”, diz o biólogo Anthony Barnosky, professor da Universidade da Califórnia em Berkeley, nos Estados Unidos.
Mesmo se descobríssemos todas as espécies que faltam, as porcentagens de animais em perigo seriam as mesmas. Os pesquisadores já incluem as estimativas de animais que possivelmente seriam descobertos nos cálculos.
“Perder animais significa ter um mundo mais pobre em todos os sentidos. Se, por exemplo, os corais forem extintos, o que está se desenhando como um cenário provável nas próximas décadas, 25% da vida oceânica desapareceria, destruindo pelo menos 10% dos pesqueiros de todo o mundo. Bilhões de dólares seriam perdidos e muitas pessoas morreriam de fome por causa da falta de peixes. Se as plantas não forem polinizadas, perdemos descobertas farmacêuticas e promessas de cura de doenças. Além disso, emocionalmente falando, sofreríamos com a falta de elefantes, tigres ou passarinhos”, diz Barnosky.

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