Combatendo as Aves Que Derrubam Aviões

Para diminuir as colisões entre aves e aeronaves nos aeroportos brasileiros, pesquisadores fazem o monitoramento dos focos de atração e das espécies que se reproduzem neste locais e até lançam mão da técnica milenar da falcoaria para manter as espécies-problemas longe do espaço aéreo dos aeroportos

Já postei aqui duas matérias sobre aves que , potencialmente, podem derrubar aviões em pleno voo. Colisões entre aeronaves e aves são responsáveis por mais de 90% dos incidentes na aviação — e podem resultar em acidentes graves. A identificação de focos de atração de aves como uma tentativa de prevenir acidentes aéreos passou a ser tarefa diária em programas de gerenciamento do risco aviário nos aeroportos brasileiros. De forma geral, as aves podem ser atraídas para aeroportos quando estes espaços oferecem recurso alimentar, abrigo e/ou sítio de nidificação. Na semana passada, durante o XXI Congresso Brasileiro de Ornitologia (XXI CBO) tomei conhecimento de dois importantes trabalhos sobre esse assunto e resolvi compartilhá-los com vocês. 

O primeiro, de Thiago Filadelfo  da Universidade de Brasília (UnB) e seus colaboradores, teve como objetivo  avaliar os aspectos reprodutivos das aves em três  aeroportos brasileiros no intuito de auxiliar na elaboração de ações mitigadoras para reduzir o risco aéreo. Um total de 173 eventos reprodutivos, distribuídos em 27 espécies de aves, foi registrado em aeroportos localizados nos estados de Alagoas, Sergipe e Distrito Federal, entre os anos de 2010 e 2013.   As espécies de maior freqüência reprodutiva foram o quero-quero (Vanellus chilensis), com 32% dos eventos (n=56); a rolinha-de-asa-canela (Columbina minuta), com 21.4% (n=37); o bacurauzinho (Chordeiles pusillus), com 10.4% (n=18); a coruja-buraqueira (Athene cunicularia), com 6.9% (n=12); e o urubu-de-cabeça-preta (Coragyps atratus), com 4 .6% dos registros ( n=8). Com b ase nos eventos reprodutivos observados houve uma maior prevalência de ninhos do tipo simples 72.8%, e uma preferência por sítios de nidificação em solos desnudos (39.3%) ou áreas de capinzal (39.9%). Ninhos em cavidades (9.8%) e dentro de construções antrópicas (12.7%) também foram registrados de forma significativa.
Segundo os pesquisadores, a definição de um perfil das principais espécies de aves reproduzindo em aeroportos pode contribuir na escolha de ações mitigadoras e conseqüente prevenção de potenciais colisões com aeronaves. O monitoramento deve ser constante e medidas como manter áreas gramadas a uma altura que desestimule a formação de ninhos, o corte e controle de arbustos e ervas daninhas e a obstrução de acessos em construções antrópicas como frestas de telhados, encanamentos e quaisquer orifícios devem ser realizados.
O outro trabalho realizado nesse sentido, foi o da pesquisadora Laura Andréa Lindenmeyer-Sousa e de seus colegas da Hayabusa Consultoria Ambiental Ltda. Eles testaram o controle da avifauna aeroportuária por meio do uso da técnica milenar da falcoaria. A falcoaria constitui uma prática antiga baseada no treinamento e condicionamento físico e mental de aves de rapina. Atualmente, as técnicas de falcoaria aplicadas ao controle de populações silvestres são utilizadas para controle biológico. O uso da falcoaria em aeroportos é fundamentado na reação espontânea dessas espécies perante seus predadores naturais. Dessa forma, essas aves abandonam o território habitual na presença das aves de rapina em atitude de caça.
Durante um período inicial de 15 meses, cinco falcões-de-coleira (Falco femoralis), um
falcão-peregrino (F. peregrinus) e cinco gaviões-asa-de-telha (Parabuteo unicinctus) foram treinados para afugentar a fauna associada ao Aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre, Rio Grande do Sul. Um falcão-robô foi utilizado, eventualmente, para auxiliar em dias de condições climáticas desfavoráveis.
O treinamento das aves, oriundas de criadouros comerciais legalizados, consistiu em três fases principais: 1) treinamento inicial, onde as aves foram treinadas para atender ao chamado e voar até o punho do treinador; 2) treinamento intermediário, onde as aves foram treinadas para perseguir determinadas espécies e 3) treinamento avançado, em que as aves já estavam condicionadas fisicamente e atendiam bem aos comandos.
 De acordo com os pesquisadores o resultado da técnica da falcoaria para o controle da avifauna no Aeroporto Internacional Salgado Filho  foi satisfatório, pois reduziu a população e os registros de fauna recolhida de todas as espécies-problema. Foram registradas 86 colisões para o ano de 2011, 105 para o ano de 2012, 88 para o ano de 2013 e apenas 17 para o ano vigente (2014). Segundo os dados nacionais de colisão do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos, o quero-quero (29.18%), o urubu-de-cabeça-preta (26.14%) e a coruja-buraqueira (8.44%) aparecem como sendo as principais espécies envolvidas em colisões aéreas no Brasil. 
Aeroportos de países como Espanha, Portugal, Itália, Uruguai, Paraguai, Argentina e Chile também utilizam a falcoaria em seus principais aeroportos. No JFK, em Nova York, por exemplo, a técnica é utilizada há mais de 30 anos. No Brasil, além do Aeroporto Internacional Salgado onde a Hayabusa atua, os aeroportos da Pampulha, Confins (ambos em Belo Horizonte, MG), de Vitória (ES) e o Galeão, no Rio de Janeiro, também realizam a atividade. No último dia do XXI CBO ocorreu um simpósio sobre o uso de falcoaria em aeroportos e no controle de pragas.
Fonte: Resumos do XXI CBO

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