É Razoável Duvidar da Ciência?

O ceticismo diante da ciência não é novo, mas a internet virou uma dádiva para crenças marginais. A biologia moderna é impensável sem o conceito de evolução, mas ativistas religiosos nos Estados Unidos continuam a exigir que o criacionismo seja ensinado como alternativa. Por que, atualmente, muita gente ainda duvida da ciência?



Por que muitas pessoas duvidam da ciência? O que vem levando tanta gente a colocar em dúvida a razão? Um texto excelente de Joel Achenbach publicado pela National Geographic Brasil tenta explicar o motivo pelo qual os céticos tem emergido em várias partes do mundo para contestar verdades científicas como a ida do homem à Lua e a Teoria Evolucionista de Darwin. Separei alguns trechos, mas o texto pode ser lido na íntegra clicando na fonte no final da postagem.
"Vivemos em uma época na qual todo tipo de conhecimento científico – desde a segurança do flúor e das vacinas até a realidade das mudanças climáticas – enfrenta oposição organizada e, muitas vezes, virulenta. Acirrados por fontes de informação próprias e por interpretações peculiares de pesquisas, os contestadores declararam guerra ao consenso dos especialistas. Hoje é tão comum a conversa sobre essa tendência – em livros, artigos e simpósios acadêmicos – que a própria contestação da ciência se tornou um elemento viral na cultura popular (...)
Em certo sentido, nada disso é surpreendente. A ciência e a tecnologia nunca estiveram, tal como agora, tão presentes em nossa vida. Para muitos de nós, esse novo mundo é maravilhoso, confortável e repleto de recompensas – mas também mais complexo e, por vezes, inquietante. Pois agora incorremos em riscos que não podem ser facilmente estimados(...)
Nesse mundo assombroso, temos de decidir no que acreditamos e como, em função disso, vamos agir. Em princípio, é para isso que serve a ciência. 'Ela não é um conjunto de fatos”, afirma a geofísica Marcia McNutt, hoje editora da renomada revista Science. “A ciência é um método para decidir se o que deliberamos acreditar está, ou não, em conformidade com as leis da natureza.' Esse método, porém, não é algo natural para a maioria de nós. Por esse motivo, estamos, vez por outra, topando com tantas dúvidas.
Mesmo quando aceitamos intelectualmente os preceitos científicos, em um nível subconsciente nos agarramos às intuições, naquilo que os pesquisadores chamam de 'convicções ingênuas'. De acordo com um estudo recente realizado por Andrew Shtulman, até os estudantes com avançada formação hesitam um pouco quando lhes pedem para afirmar ou negar que os seres humanos descendem de animais marinhos ou que a Terra gira em torno do Sol. Ambas as verdades são contraintuitivas. Mesmo quando assinalam que são 'verdadeiras' as afirmações, os estudantes demoram mais para responder a essas questões do que no caso de os seres humanos descenderem de animais arborícolas (também verdadeira, porém de mais fácil compreensão) ou se a Lua gira ao redor da Terra (algo mais intuitivo). A pesquisa de Shtulman revela que, à medida que recebemos uma formação científica, reprimimos as convicções ingênuas, mas jamais conseguimos nos desfazer delas por completo (...)
Mesmo para os cientistas, o método científico é uma disciplina rigorosa. Como o restante de nós, também eles são vulneráveis ao que chamam de 'viés de confirmação' – a tendência a buscar e a ver apenas os indícios que confirmam o que já acreditamos. A diferença é que eles submetem as suas ideias à apreciação formal dos colegas antes de divulgá-las. Uma vez publicados os resultados, caso sejam interessantes, outros cientistas procuram reproduzi-los – e, sendo congenitamente céticos e competitivos, anunciam de boca cheia que não se sustentam. Os resultados são sempre provisórios, suscetíveis de serem contestados por observações ou experimentos futuros. Raras vezes os cientistas proclamam uma verdade ou uma certeza absolutas. Nas fronteiras do conhecimento, é inevitável conviver com a incerteza (...)
O 'problema de comunicação da comunidade científica', como é chamado pelos que o estudam, resultou em pesquisas novas e copiosas sobre o modo como as pessoas decidem aquilo em que acreditam – e por quê, com tanta frequência, elas se afastam do consenso científico. Não se trata de dificuldade de compreensão do problema, de acordo com Dan Kahan, da Universidade Yale. Em um estudo, ele pediu a 1 540 americanos – uma amostra representativa – que avaliassem a ameaça das mudanças climáticas em uma escala de 0 a 10. Depois, comparou as respostas com os conhecimentos científicos dos participantes. No fim, constatou que os níveis mais altos de conhecimento estavam associados a opiniões mais incisivas – em ambas as extremidades do espectro. A formação científica levava à polarização a respeito do clima, e não ao consenso. Segundo Kahan, isso ocorre porque as pessoas tendem a usar o conhecimento científico para reforçar crenças já determinadas por sua visão de mundo (...).
A ciência faz um apelo à nossa racionalidade, mas as nossas crenças são motivadas sobretudo pela emoção – e a motivação mais forte é ficarmos juntos e sermos aceitos por nossos pares. 'Continuamos todos na escola secundária. Nunca saímos de lá', conclui Marcia McNutt. 'As pessoas sentem a necessidade de fazer parte, e isso é algo tão forte que os valores e as opiniões mais imediatas se sobrepõem às conclusões científicas, sobretudo quando não há desvantagem evidente em ignorar os dados científicos.”

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