Eu, Primata?

A ciência tem procurado demonstrar que o comportamento humano atual foi herdado do nosso ancestral comum que nos relaciona com os gorilas, chimpanzés e bonobos. Muitos comportamentos antes considerados como exclusivos da espécie humana já foram observados na sociedade dos símios mais aparentados como os chipanzés e bonobos.


O orgulho humano tem impedido muita gente de compreender o fato de que nós, seres humanos, somos animais muito parecidos com os símios. Do ponto de vista evolutivo, não podemos conceber uma criação especial para os humanos, visto que a seleção natural não permitiria esse privilégio. Querer separar o homem do resto da criação e colocá-lo num patamar superior ao das outras espécies viventes é reduzir toda a criação a um processo simplista e desconsiderar tudo que já foi estudado no campo da biologia evolutiva por diversos pesquisadores ao longo dos séculos.
O primeiro livro a adotar os princípios darwinistas para explicar o comportamento humano foi o "O Macaco Nu: Um Estudo do Animal Humano", publicado em 1967 pelo zoólogo britânico Desmond Morris. O livro trata de algumas questões fundamentais do bicho-homem, buscando abordar temas que possam ser comparados com o comportamento de outras espécies. São capítulos do livro: Origens, Sexo, Crescimento, Exploração, Agressão, Alimentação, Conforto e Animais.
Segundo Morris, a única diferença do homem para os outros primatas é a ausência de pêlos sobre o corpo, daí o título do livro. Diz o autor: " Encarado simplesmente como exemplar zoológico num museu, o que salta à vista é a falta de pêlos , fato que justifica que lhe conservemos o nome [...]” . Trata-se de uma característica gritante e mesmo peculiar no reino animal. Na ordem dos primatas, há 192 espécies com revestimento piloso e , o homem, sem tal elemento. Portanto, '[...] existe qualquer coisa muito esquisita, e mesmo exclusivamente peculiar, na história evolutiva do macaco pelado' ".
Em relação ao nosso comportamento sexual, Morris afirma: "o comportamento sexual básico do macaco pelado ainda está muito relacionado com as características apresentadas por seus antepassados frugívoros, e a civilização moderna mais foi influenciada por tal comportamento do que o oposto. Em termos zoológicos, Morris divide o comportamento sexual do macaco pelado em três fases: (1) formação de pares, vulgarmente conhecida como 'namoro'; (2) fase pré-copulatória; e (3) cópula. A primeira dessas fases (1) caracteriza-se por uma espécie de 'experimentação' das reações sexuais do parceiro. Assim, os espécimes apresentam comportamento ambivalente, e se utilizam de complexas expressões faciais, corporais e vocalizações. Trata-se de uma etapa relativamente longa, se comparada com o geral do universo zoológico. Desenvolve-se frequentemente em público, o que não é o comum das demais etapas. A fase (2) pré-copulatória, em geral, desenvolve-se isolada do grupo social, e é caracterizada pela intensificação dos contatos pele-pele, com intensa estimulação tátil, por vezes oral, e ocorre, no mais das vezes, com os espécimes em posição horizontal e sem as típicas coberturas das roupas".
Um outro livro que aborda a comparação do homem com os outros primatas é o " "Eu, Primata - Por que Somos Como Somos" ( Our inner ape – A leading primatologist explains why we are who we are”, 2007) do primatologista holandês que vive nos Estados Unidos, Frans de Waals. Segundo o próprio autor, o "livro analisa os fascinantes e assustadores paralelos entre o comportamento dos humanos e o de outros grandes primatas, com igual consideração para com o bom, o mau e o feio” 
Os bonobos (Pan paniscus) são os primatas que estão mais geneticamente próximos dos humanos.Também conhecidos como chimpanzés-pigmeu,os bonobos tiveram um coancestral comum com os humanos a cerca de 8 milhões de anos e possuem entre 98-99,4 % de afinidade genética com o nosso gênero, o que foi confirmado recentemente ao ser concluído o seqüenciamento do seu genoma. Este trabalho de seqüenciamento concluiu que mais de 3% dos genes humanos está mais relacionado aos genes dos bonobos ou dos chimpanzés do que os genes deles entre si. 
Apesar dessa semelhança genética, bonobos, chimpanzés e humanos apresentam diferenças no aspecto comportamental, principalmente no comportamento sexual. A sociedade dos bonobos é dominada pelas fêmeas e seus filhos, são animais bem mais sexualizados, resolvendo a maior parte das intrigas com sexo. São animais bissexuais, cumprimentam-se com beijos e praticam sexo em diferentes posições. Bonobos são naturalmente bissexuais. Relacionamento carnal entre indivíduos do mesmo gênero ocorre o tempo todo, segundo uma série de estudos que observaram as tendências dos animais. O sexo é usado não apenas como instrumento de diversão, mas também como forma de premiar um parceiro, ou consolá-lo, e é inclusive utilizado para resolver conflitos. 
Durante a vida, um bonobo registra um incontável número de parceiras e parceiros – geralmente, várias e vários em um único dia. De toda a atividade sexual registrada pela espécie, 75% não têm fins reprodutivos, um índice muito acima dos demais primatas
Os bonobos são conhecidos como o único animal (excluindo seres humanos) que usa o sexo não somente para reprodução: bonobos usam o sexo para aliviar as tensões sociais. Assim, as práticas sexuais incluem a masturbação, relações heterossexuais e homossexuais entre fêmeas, entre machos, e uma infindável troca de toques dos mais “ternos” aos mais ousados, inclusive as fêmeas copulando além do período de estro. Manter as relações sociais, cimentar alianças entre fêmeas, reduzir conflitos violentos, apaziguamento de brigas, como ritual quando encontram comida e antes de iniciar a refeição… Enfim, o sexo permeia a vida desses primatas, exatamente da forma que acontece em nossa sociedade. 
Já a sociedade dos chimpanzés apresentam características comportamentasi bem distintas da dos bononos.É controlada por um indivíduo macho dominante, conhecido como macho alfa. As desavenças são resolvidas com violência ou ameaças. Fazem alianças, planejam ataques em conjunto e o macho alfa vigia de perto a ascensão de qualquer outro macho jovem que pode ameaçar seu poder. Entre bonobos, essa realidade é inexistente: o grupo vive em um estado de atos sexuais sem culpa e sem agressividade. 
No mundo animal, um macho pode se acasalar com uma ou mais fêmeas, enquanto estas podem se acasalar com um ou mais machos. Entre os hominídeos, grupo que inclui humanos, chimpanzés, gorilas e orangotangos, os comportamentos sexuais são variáveis. Os chimpanzés vivem em grandes grupos e as fêmeas receptivas copulam com a maioria dos machos disponíveis. No outro extremo, os gorilas vivem em grupos familiares pequenos e relativamente isolados, e o gorila macho dominante copula com suas parceiras menos de uma vez por ano. Muitas sociedades humanas são socialmente monogâmicas, mas relações extraconjugais, entre outros arranjos sociais, fazem com que os humanos não sejam geneticamente monogâmicos. 

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