Os Neandertais Já Tomavam Aspirina?

Uma equipe internacional formada por 31 pesquisadores de 11 países diferentes publicou na Nature um estudo que revela aspectos até então inédito da vida dos neandertais. A pesquisa revela que os neandertais foram capazes de se adaptar ao seu ambiente muito melhor do que se pensava e que dominavam o conhecimento sobre uma série de plantas e fungos medicinais e os usavam normalmente para curar doenças. Entre os fungos destaca-se o Penicillium, fonte de um antibiótico natural, a penicilina; entre as plantas medicinais usadas está a casca do álamo, que contém ácido salicílico, o princípio ativo do analgésico moderno conhecido como aspirina .

Uma equipe internacional de 31 pesquisadores de onze países diferentes publicou recentemente na revista Nature um estudo que revela aspectos até então inédito da vida dos neandertais, a outra espécie inteligente de humanos, que desapareceu da Europa logo após a chegada dos primeiros seres humanos modernos, os nossos ancestrais diretos. O trabalho, por exemplo, mostra que os neandertais foram capazes de se adaptar ao seu ambiente muito melhor do que se pensava e que dominavam o conhecimento sobre uma série de plantas e fungos medicinais e os usavam normalmente para curar doenças. Entre os fungos destaca-se o Penicillium, um antibiótico natural; entre as plantas medicinais usadas está a casca do álamo, que contém ácido salicílico, o princípio ativo do analgésico moderno conhecido como aspirina .
As análises foram realizadas em quatro indivíduos, dois deles, com idade estimada de 49.000 anos, procedentes da caverna de El Sidrón, nas Astúrias (Espanha), e os outros dois da caverna Spy, na Bélgica. Segundo os autores do estudo, todas as análises foram baseadas nas amostras de DNA extraídos dos depósitos calcificados( cálculos) encontradas nos dentes dos neandertais, algo que não tinha sido feito até agora. 
A pesquisa procurou responder duas questões importantes sobre o modo de vida dos neandertais: que animais, plantas e fungos eles comiam? Que bactérias viviam no interior de suas cavidades bucais?
No primeiro caso, os pesquisadores constataram uma diferença marcante entre a dieta dos neandertais do norte da Europa e os de El Sidrón. Os do norte comiam carne e em seus dentes apareceram traços de DNA de rinocerontes e de ovelhas selvagens, mas os neandertais das Astúrias não mostraram qualquer vestígio de animais em sua dieta. Só restos de pinhões, musgos e cogumelos. Fato surpreendente para os pesquisadores, pois eles estavam convencidos de que os neandertais seguiam dietas hipercarnívoras em todos os lugares.
O DNA das bactérias encontrados na boca dos neandertais reforça essa diferença marcante. A composição das bactérias presentes na boca possui estreita relação com a dieta alimentar. E os microrganismos encontrados nos dois indivíduos de Sidrón são consistentes com uma dieta baseada fundamentalmente em plantas e fungos. Possivelmente também comiam carne, mas muito pouco, tão pouco que não deixou nenhum traço genético. No entanto, as bactérias presentes na boca dos neandertais do norte da Europa se encaixam perfeitamente com o estilo de vida que levavam os caçadores, incluindo grandes quantidades de carne em sua dieta.
Em outras palavras, o estudo mostra que devemos, mais uma vez, mudar as nossas ideias sobre esta espécie. Na verdade, o fato de que diferentes grupos de neandertais foram capazes de seguir completamente diferentes estratégias de subsistência, adaptando-se ao ambiente local, indica que eles eram muito mais versáteis e adaptáveis do que se imaginava. 
A análise das placas nos dentes do segundo indivíduo encontrado na caverna de El Sidrón revelou algo ainda mais surpreendente: a presença de vestígios de ADN de diferentes fungos que crescem como mofos, incluindo os do gênero Penicillium, fonte de um antibiótico natural, a penicilina, e também de uma planta chamada álamo cuja casca, raízes e folhas contêm ácido salicílico, o princípio ativo da aspirina.
Os dentes desse neandertal também continha traços de um patógeno, Enterocytozoon bieneusi, que nos seres humanos atuais provoca sérios problemas gastrointestinais, incluindo diarreia grave. Finalmente, um buraco na mandíbula do mesmo indivíduo indica que ele tinha um abscesso no dente, inflamação crônica com infecção. Em resumo, o indivíduo padecia de doença oral e gastrointestinal grave e a associação desta patologia com plantas medicinais encontrados na placa dental sugere que esses hominídeos se medicavam (ou se auto-medicavam), conheciam o uso terapêutico de muitas plantas. Em termos modernos, tomavam aspirina para a dor e tratavam as infecções com penicilina. 
Finalmente, os cálculos dentários dos indivíduos da caverna de Sidrón também permitiu aos cientistas recuperar o mais antigo genoma completo de um microrganismo: a arqueobactéria Methanobrevibacter oralis, que foi classificada como subespécie neandertalis. Os pesquisadores compararam este genoma antigo, com sua versão moderna, que todos nós temos em nossas bocas, e descobriram que ambas as linhagens, as dos neandertais e as nossas, têm uma origem comum e divergiram entre 112.000 e 143.000 anos. O interessante é que esta divergência não coincide com a divergência entre os neandertais e sapiens, que é muito mais antiga, o que sugere que as populações de duas espécies humanas tiveram de entrar em contato em algum momento nesse período para trocar esses microrganismos. Esta é mais uma prova que reforça a ideia de que, ao longo de sua história, a nossa espécie em vários períodos interagiu de diferentes formas com os neandertais.

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