Frankenstein e o Veganismo de Mary Shelley

Escritora britânica Mary Shelley, criadora do monstro de Frankestein, um dos personagens mais emblemáticos da literatura mundial teve uma vida pautada pelo vegetarianismo. Desde cedo, Mary foi incentivada por seus familiares e amigos a entender que o consumo de carne dependia do sofrimento animal.O estilo vegano da escritora está refletido no seu personagem maior que, apesar de sua aparência monstruosa, se alimentava estritamente de bagas e oleaginosas, não de carne, já que ele não via sentido nem necessidade em matar animais para se alimentar.

“Não tenho que matar o cordeiro e a cabra para saciar o meu apetite. Bolotas e bagas são o suficiente para a minha alimentação. Minha companheira vai ser da mesma natureza que a minha, e vai se contentar com o mesmo que eu. Faremos a nossa cama de folhas secas; o sol vai brilhar sobre nós da mesma forma que brilha sobre os homens, e ele vai amadurecer a nossa comida. A imagem que apresento a vocês é humana e pacífica.” Esta passagem carregada de lirismo não foi retirada de nenhum romance açucarado do século 18 e nem pertence a nenhum ícone do veganismo atual. A frase acima foi proferida pelo monstro de Frankestein, um dos personagens mais emblemáticos da literatura mundial, criado pela escritora britânica Mary Wollstonecraft Shelley (1797-1851).
Ao que tudo indica, Mary Shelley teve uma vida pautada pelo vegetarianismo e isso fica evidente em sua obra máxima. Ao contrário de muitos autores que se tornaram vegetarianos ao longo da vida, Shelley teve a oportunidade de crescer em uma família que sempre simpatizou com o vegetarianismo, inclusive quase todos os amigos de seu pai William Godwin também eram vegetarianos. Assim, desde cedo, Mary foi incentivada a entender que o consumo de carne dependia do sofrimento animal.
No século 19, embora o romantismo enquanto arte tivesse estreita relação com o vegetarianismo, a verdade é que fora dos círculos literários quase ninguém reconhecia ou falava sobre a temática vegetariana no livro Frankenstein. Na realidade, muita gente reconhecia as qualidades de Mary Shelley como escritora, mas menosprezavam seu estilo de vida.
Na juventude, depois de conhecer alguns dos maiores intelectuais que defendiam o vegetarianismo, a escritora começou a ler obras como An Essay on Abstinence from Animal Food: as a Moral Duty, do britânico Joseph Ritson e The Return to Nature, or, a Defense for the Vegetable Regimen, de John Frank Newton, precursores do veganismo, assim como William Lambe, de quem ela leu o livro Water and Vegetable Diet. Shelley também se inspirou em Plutarco, John Milton e nos textos em grego antigo e latim que abordavam o estilo de vida de Pitágoras, que era ovolactovegetariano.
Cercada por pessoas que não consumiam alimentos de origem animal, ela acabou se casando em 1816 com Percy Bysshe Shelley que, além de ter sido um dos mais importantes poetas românticos da Inglaterra, era um ativista vegetariano e também precursor do veganismo. O poeta lançou obras polêmicas como A Vindication of a Natural Diet e On the Vegetable System of Diet. 
Além do casal Shelley, outros românticos como Alexander Pope e Thomas Tryon ajudaram a promover o vegetarianismo na Europa. No entanto, nenhuma obra daquele período superou a popularidade de Frankenstein. Inspirada no conceito de nobre selvagem, cunhado pelo filósofo suíço e defensor do vegetarianismo Jean-Jacques Rousseau, a criatura se emociona ao dizer que sua comida não é a mesma dos homens, em uma das passagens do livro. 
Seguindo a premissa do bom selvagem, idealizada por Rousseau, Mary Shelley moldou um anti-herói vegetariano que nada mais é do que o ser humano em seu estado mais puro e natural. A maior prova disso é que ainda isento dos vícios da civilização, o monstro vive na floresta, onde se alimenta estritamente de bagas e oleaginosas, não de carne, já que ele não vê sentido nem necessidade em matar animais para se alimentar.
Embora haja controvérsias sobre até que ponto Mary Shelley foi vegetariana ao longo de sua vida, a verdade é que ela trouxe grandes contribuições para o vegetarianismo e, quem sabe, a maior seja a idealização de uma criatura desafortunada que desprezava o hábito humano de se alimentar de animais.
O veganismo, termo criado por Donald Watson (1910-2005), é um estilo de vida que procura excluir, na medida do possível e praticável, todas as formas de exploração e crueldade com os animais, para alimentação, vestuário e qualquer outra finalidade. A palavra vegano é uma corruptela de "vegetariano"em que se consideram as três primeiras e as três últimas letras (vegetariano), excluindo o etari, na formação do termo. É muito importante diferenciar a ideologia vegana da dieta vegetariana. Veganismo não é dieta. É um conjunto de práticas focadas nos Direitos dos Animais que, por consequência, adota uma alimentação estritamente vegetariana. Entende-se que os animais têm o direito de não serem usados como propriedade, e que o veganismo é a base ética para levar a sério esse direito, pelo mínimo de respeito a eles.
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