Biohackers da Vida Real

Biohackers é uma nova série de televisão alemã exibida pela Netflix cuja trama gira em torno da história de Mia Akerlund, uma caloura de medicina na Universidade de Freiburg. Mia está muito interessada em tecnologia de biohacking e se envolve no mundo da experimentação genética ilegal e ao mesmo tempo tenta investigar a causa da morte de seu irmão gêmeo. Biohackers existem também no mundo real. Adeptos da cultura "do it yourself" ("faça você mesmo"), o biohacking une o universo da biologia com a cultura hacker. Uma característica comum dos biohackers da atualidade é que eles defendem um acesso mais livre a ciência e ao conhecimento. Normalmente, os adeptos do biohacking são pessoas que está fugindo dos propósitos acadêmicos. Pessoas que querem pensar coisas que na academia não fazem sentido. O biohacking quer colocar em prática conceitos e ideias, que um dia podem precisar passar por validação científica, mas que tem um caminho interessante de experimentação.

Biohackers é uma nova série de televisão alemã produzida em nome da Netflix e dirigida por Christian Ditter. A trama da série gira em torno da história de Mia Akerlund, uma caloura de medicina na Universidade de Freiburg, onde conhece Jasper, um talentoso estudante de biologia, e Niklas, seu estranho colega de quarto. Mia está muito interessada em tecnologia de biohacking e se envolve no mundo da experimentação genética ilegal e ao mesmo tempo tenta investigar a causa da morte de seu irmão gêmeo. Quando ela descobre resultados de pesquisas revolucionárias de biohacking que caíram nas mãos erradas, Mia tem que decidir se protegerá seus amigos ou vingará a morte de seu irmão.
Ficção à parte, atualmente existem pessoas espalhadas pelo mundo todo com foco em uma atividade, no mínimo, interessante: hackear organismos vivos. O chamado biohacking tem crescido e despertado o interesse de cada vez mais entusiastas. Adeptos da cultura "do it yourself" ("faça você mesmo"), o biohacking une o universo da biologia com a cultura hacker, formando a Biologia DIY (Biologia Do It Yourself). Com isso, esses entusiastas acabam gerando pesquisas independentes em "laboratórios de garagem", encabeçando projetos relevantes para a sociedade na área da ciência.
Ninguém sabe especificamente como o movimento biohacking começou, mas a criação do Genspace, um laboratório comunitário no Brooklyn, em Nova York, sem dúvida é um marco importante. Outros espaços semelhantes ao redor do mundo têm servido de base para a pesquisa de manipulação de microrganismos, um dos campos mais fecundos dessa área.
Um dos pontos destacados na série é sobre o emprego da Biologia Sintética na resolução de problemas. A Biologia Sintética está em franca expansão nos dias de hoje e consiste no uso de bioinformática e técnicas de engenharia genética e bioquímica com o intuito de projetar circuitos biológicos modulares, por meio do redirecionamento ou construção de novas rotas metabólicas e a criação de organismos artificiais, visando maximizar o seu funcionamento. Não se trata de uma técnica específica, mas de um conceito que pode utilizar diferentes abordagens de edição genômica para alcançar a meta final.
A descoberta do sistema CRISPR (do inglês Clustered Regularly Interspaced Short Palindromic Repeats, ou seja, Repetições Palindrômicas Curtas Agrupadas e Regularmente Interespaçadas) promoveu uma revolução tecnológica nas pesquisas em ciências da vida. As novas técnicas de edição genética são baratas, fáceis, rápidas e têm ampliado o leque de possíveis aplicações. Muitos biohackers tem enveredado por esse caminho conforme é mostrado na série. 
Porém, a vertente mais chamativa do biohacking (e a que atrai muitas críticas dentro do movimento) é a modificação corporal - conhecida como grinder. Nesse perfil enquadram-se, por exemplo, pessoas que injetam chips e ímãs sob a pele e fazem experimentações colocando substâncias e até mesmo circuitos eletrônicos no próprio corpo. Na série , essa faceta é mostrada pelo personagem Ole que está sempre buscando formas de implantar modificações tecnológicas em seu próprio corpo e, às vezes, pagando muito caro por isso.
Esse aspecto do biohacking é o que menos tem atraído os biohackers da atualidade. No geral, eles procuram manter o caráter transgressor no movimento - o hacking do nome vem da ideia de compreender determinado sistema e subverter a maneira como ele é utilizado. Uma característica comum dos biohackers da atualidade é a de que todos que estão no meio defendem um acesso mais livre a ciência e ao conhecimento. Normalmente, os adeptos do biohacking são pessoas que está fugindo dos propósitos acadêmicos. Pessoas que querem pensar coisas que na academia não fazem sentido. O biohacking quer colocar em prática conceitos e ideias, que um dia podem precisar passar por validação científica, mas que tem um caminho interessante de experimentação.
Grande parte da cultura biohacker é baseada no acesso a projetos open source, ou seja, que qualquer um pode utilizar. Por mais básicos que sejam, os instrumentos de laboratório são absurdamente caros e aí que entra a capacidade inventiva dos biohacker na fabricação dos seus próprios equipamentos. Além da possibilidade de construir os equipamentos, também há empresas que vendem kits por preços acessíveis, como mini centrífugas movidas a motor de drive de CD. O acesso aos insumos biológicos, como reagentes e organismos utilizados nos experimentos, varia: determinadas bactérias e fungos podem ser cultivados, mas grande parte do material precisa ser comprado.
O sonho de todo biohacker da vida real é ter uma laboratório de verdade, mas muito criam os seus próprios locais de trabalho para desenvolver o que ficou conhecido como "Biologia de Garagem" ou utilizam o espaço dos "makerspaces", espaços comunitários também baseados na cultura 'faça você mesmo', mas com ênfase em eletrônica e prototipagem. Ao contrário dos "makerspaces" tradicionais, que se assemelham a oficinas, em grande parte dos casos o biohacking demanda laboratórios molhados (wetlabs), que oferecem acesso fácil a água e maiores condições de higiene e isolamento para se trabalhar com componentes vivos. Em geral, esses espaços recebem apenas pesquisas de nível um de biossegurança, o mais baixo. No Brasil, mesmo nas universidades é raro ver um laboratório nível dois de biossegurança, que é equipado para trabalhar com vírus e bactérias mais perigosas.
A manipulação de micro-organismos também pode possuir objetivos artísticos. Tem muitos biohackers que se dedicam exclusivamente à bioarte. É comum, por exemplo, que artistas envolvidos com o biohacking modifiquem bactérias para que elas passem a brilhar no escurou ou que cresçam seguindo um determinado caminho, para formarem uma imagem. Esse aspecto também é abordado na série.
Assim como hackers de computadores, os interessados no biohaking precisam ter um bom conhecimento no assunto para poder se aventurar em ações mais inovadoras, mas isso não significa ter doutorado em Biotecnologia. Entretanto, uma expertise no assunto nunca deve ser subestimada.
Em um dos episódios da série, Mia tenta enganar a professora Lorenz fornecendo amostra de DNA de sua amiga como se fosse a dela. Após os resultados do sequenciamento, Lorenz mostra as mutações do genoma da Mia e questiona não achar as mutações responsáveis pelas sardas que a estudante apresentava. Isso tem uma explicação genética.O gene MC1R codifica a proteína chamada "receptor de melacortina-1", localizada na superfície dos melanócitos, que por sua vez produz o pigmento melanina, que é responsável pela coloração da pele, cabelos e olhos. Os melanócitos produzem 2 tipos de melanina: eumelanina e feomelanina. As pessoas que produzem predominantemente feomelanina tendem a ter cabelos loiros ou ruivos, sardas e não bronzeiam bem. Alguns polimorfismos no gene MC1R reduzem a capacidade do receptor de melanocortina-1 de estimular a produção de eumelanina, fazendo com que os melanócitos produzam principalmente feomelanina. Outros genes também contribuem para a coloração do cabelo e da pele de uma pessoa. Portanto, antes de se aventurar por aí na jornada do biohacking lembre-se que conhecimento nunca é demais.
Para saber mais, clique nos links acima

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A Mariposa da Morte

Ilustrações da Mitose

Sistemática Filogenética